25 maio 2007

Casa do futuro

Fonte: The Independent, em 25/05/2007.

"O Mais é Nada"

"Sonhe com as
estrelas, apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar,
sabe-se lá aonde.
.
As lágrimas?
Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
.
O sorriso
Esse, você deve segurar,

não o deixe ir embora, agarre-o!
Persiga um sonho,
mas, não o deixe viver sozinho.

Alimente a sua alma com amor,
cure as suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas, não enlouqueça por elas.
.
Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.
Alague seu coração de esperanças,
mas, não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!

Se estiver tudo errado, comece novamente.

Se estiver tudo certo, continue.

Se sentir saudades, mate-as.

Se perder um amor, não se perca!

Se o achar, segure-o!

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada."

Fernando Pessoa




23 maio 2007

Connaissance

Kasandra Leigh Beck - Maltese men

"Não é de flores o caminho do conhecimento. Ele é feito de escuridão, pois a luz é um lugar, e o escuro é um caminho. Não poderia ser diferente: é num tempo de trevas que os olhos começam a enxergar."

22 maio 2007

Speranza

Ando pelo caminho da dúvida, com passos de esperança, para, assim, procurar achar a verdade.

21 maio 2007

16 maio 2007

Nosso espaço

"Já somos 6 bilhões, não contando o milhão e pouco que nasceu desde o começo desta frase. Se fosse um planeta bem administrado isto não assustaria tanto. Mas é, além de tudo, um lugar mal freqüentado. Temos a fertilidade de coelhos e o caráter de chacais, que, como se sabe, são animais sem qualquer espírito de solidariedade. As megacidades, que um dia foram símbolos da felicidade bem distribuída que a ciência e a técnica nos trariam – um helicóptero em cada garagem e caloria sintética para todos, segundo as projeções futuristas de anos atrás – se transformaram em representações da injustiça sem remédio, cidadelas de privilégio cercadas de miséria, uma réplica exata do mundo feudal, só que com monóxido de carbono. Nosso futuro é a aglomeração urbana, e as sociedades se dividem entre as que se preparam – conscientemente ou não – para um mundo desigual e apertado e as que confiam que as cidadelas resistirão às hordas sem espaço. Os jornais ficaram mais estreitos para economizar papel, mas também porque diminui a área para expansão dos nossos cotovelos. Chegaremos ao tablóide radical, duas ou três colunas magras onde tudo terá que ser dito com concisão desesperada. Adeus advérbios de modo e frases longas, adeus frivolidades e divagações superficiais como esta. A tendência de tudo feito pelo homem é para a diminuição – dos telefones e computadores portáteis aos assentos na classe econômica. O próprio ser humano trata de perder volume, não por razões estéticas ou de saúde, mas para poder caber no mundo.No Japão, onde muita gente convive há anos com pouco lugar, o espaço é sagrado. Surpreende a extensão dos jardins do palácio imperial no centro de Tóquio, uma cidade onde nem milionário costuma ter mais de dois quartos, o que dirá um quintal. É que o espaço é a suprema deferência japonesa. O imperador sacralizado é ele e sua imensa circunstância. Já nos Estados Unidos, reverencia-se o espaço com o desperdício. Para entender os americanos você precisa entender a sua classificação de camas de acordo com o tamanho: queen size, tamanho rainha, king size, para reis, e, era inevitável, emperor size, do tamanho de jardins imperiais. É o espaço como suprema ostentação, pois – a não ser para orgias e piqueniques – nada é mais supérfluo do que espaço sobrando numa cama, exatamente o lugar onde não se vai a lugar algum. Os americanos ainda não se deram conta de que, quando chegar o dia em que haverá chineses embaixo de todas as camas do mundo, quanto maior a cama, mais chineses."
Luis Fernando Verissimo

14 maio 2007

O Papa, Frei Galvão e o relativismo

"O santo brasileiro, lá em cima, seria mais tolerante com os usos do século XXI do que Bento XVI.
Um discreto casamento foi celebrado no sábado 5, na capela do velho Mosteiro da Luz, em São Paulo. Os noivos eram Sandra Grossi de Almeida e César Augusto Gallafassi, os dois de São Paulo, mas moradores de Brasília. Não chegavam a setenta as pessoas presentes. Eram elas parentes, amigos, fiéis que por acaso àquela hora se encontravam na capela e dois profissionais que os noivos gostariam que não estivessem por perto – a repórter Laura Capriglione e o fotógrafo Leonardo Wen, da Folha de S.Paulo. Graças a eles, na segunda-feira a notícia do casamento saía, com texto e fotos, no jornal. Com isso, vinha à tona um curioso detalhe da história da canonização de frei Galvão, o primeiro santo genuinamente brasileiro.
Sandra Grossi de Almeida é a protagonista do segundo e decisivo milagre atribuído a frei Galvão. Seu sonho de ser mãe, acalentado desde cedo, resultou duas vezes em frustração. Por causa de uma má-formação do útero, ela teve, nas duas vezes, abortos espontâneos. Em 1999, aos 30 anos, apesar das experiências pregressas e das advertências dos médicos, engravidou pela terceira vez. Repetiu-se a provação. Teve sangramentos desde o início, e tudo indicava que a aguardava o mesmo infeliz desfecho quando, por sugestão de uma amiga, ingeriu três das famosas pílulas de frei Galvão. Os sangramentos cessaram, e Sandra pôde dar à luz um menino a quem ela e o pai da criança, César, deram o nome de Enzo. A comissão científica encarregada pelo Vaticano de examinar o caso concluiu que, dadas as condições de Sandra, só o sobrenatural, no caso impulsionado pelas pilulinhas de papel inventadas pelo frade brasileiro, poderia lhe ter propiciado o nascimento do filho. O Vaticano já avalizara outro milagre atribuído ao brasileiro – a cura da menina Daniela Cristina da Silva de uma hepatite. Com o caso de Sandra, chegava-se a dois milagres, o número mínimo exigido para elevar alguém a santo.
O que a celebração da capela da Luz trouxe à tona é que Sandra e César, na época do nascimento de Enzo, não eram casados na Igreja. Nem por isso se deixou de presenciar uma bonita cerimônia. A Enzo, um menino vivo e alegre, hoje com 7 anos, coube entregar as alianças aos pais. Mas melhor ainda seria, do ponto de vista dos noivos, se não tivesse havido a presença de jornalistas. Sandra, dias antes, conversara com outro repórter da Folha de S.Paulo, Fábio Victor. Chegou a dizer-lhe que no sábado estaria em São Paulo, mas omitiu o motivo da viagem. Fábio Victor perguntou se Enzo ia junto, e ela respondeu que não. Mais tarde o repórter entrevistou uma das responsáveis pela escola em que Enzo estuda. A entrevistada, a certa altura, deixou escapar que Enzo no sábado iria a São Paulo. "Ele vai para o casamento da mãe", acrescentou.
Foi assim que a notícia de que havia um casamento no ar chegou à redação da Folha. Concluir que se daria na capela da Luz era fácil. O mosteiro, do século XVIII, foi construído por frei Galvão, que nesse labor empenhou seus dotes de arquiteto, mestre-de-obras e pedreiro. São as freiras que ali habitam que fabricam e distribuem as pílulas. E frei Galvão está enterrado na capela. Tudo ali, em suma, lembra o santo. O casal não escolheria outro local. Depois do casamento, a repórter Laura Capriglione falou com a noiva. "Não autorizo a publicação da notícia", disse esta. Laura lembrou que não havia como não autorizar, pois casamentos são atos públicos. A repórter perguntou em seguida se o casamento tinha sido precipitado pela iminência da canonização do frade. Sandra disse que não. O dia fora escolhido em homenagem a seus pais, que também casaram num 5 de maio.
O papa Bento XVI iniciou seu pontificado avisando que com ele não haveria lugar para relativismo. Por relativismo, entende-se a transigência com os princípios da fé e os valores humanos que a Igreja considera fundamentais. Bento XVI comprometeu-se, dessa forma, com um programa de alto risco. Defende a qualidade sobre a quantidade. Quer fiéis observantes das determinações da Igreja, mesmo que ao custo de perder parte do rebanho. O que tem em vista é desferir um golpe de morte no laxismo que, mais do que os fiéis de outras religiões, caracteriza os católicos, uma coletividade que vai cada vez menos à missa e dá cada vez menos ouvidos a ordens como não praticar o sexo antes do casamento, não adotar métodos anticoncepcionais, não se divorciar e não recorrer ao aborto.
Eis no entanto – suprema surpresa – que o próprio Vaticano deixa passar uma grande relativizada ao aceitar como milagre o nascimento do filho de um casal que, aos olhos da Igreja, vivia em pecado. De duas, uma. Ou bem o próprio Vaticano, no fundo, reconhece como inviável o caminho da rigidez, ou bem frei Galvão, um homem da virada do século XVIII para o XIX, mas que lá em cima tem tido tempo de sobra para atualizar-se, encara os usos da sociedade do século XXI de forma mais suave do que Bento XVI. Sim, eles viviam em pecado, mas também mereceriam um milagresinho."
Roberto Pompeu de Toledo, Revista veja, em 16 de maio.

12 maio 2007

O que é ser politizado?

Ótima questão levantada pelo cientista político Emir Sader, na Revista Caros Amigos. Segue o artigo.
"Ser politizado é entender como funcionam as relações de poder em cada sociedade e no mundo em geral. É compreender que, por trás das relações de troca no mercado existem relações de exploração. Que, por trás das relações de voto, existem relações de dominação. Que, por trás das relações de informação, há um processo de alienação.Ser politizado, no mundo de hoje, significa compreendê-lo no marco das relações capitalistas de acumulação e de exploração. Representa entender o mundo no marco da hegemonia imperial estadunidense, baseada na força militar e na propaganda do modo de vida estadunidense.Ser politizado é compreender que tudo o que existe foi produzido historicamente, pelas relações entre os homens e o meio em que vivem. Ou melhor, entre os homens, intermediados pelo meio em que vivem. E que, portanto, tudo o que foi construído pelos homens pode ser desconstruído e reconstruído. Que tudo é histórico. Que a própria separação entre sujeito e objeto - que nos aparece como "dada" - é produzida e reproduzida cotidianamente mediante relações econômico-sociais alienadas.
(...)
E o que é ser despolitizado?
Já ser despolitizado é achar que as coisas são como são porque são como são, sempre foram assim e sempre serão. É considerar que as pessoas sempre buscam tirar vantagens que não têm grandeza para lutar desinteressadamente por um mundo melhor. Que o que diferencia as pessoas é a ambição de melhorar na vida, que a grande maioria não tem jeito mesmo.Entre o ser politizado e o despolitizado está a alienação, a falta de consciência da relação entre nós e o mundo. Alienar é entregar o que é nosso para outro - como diz a definição jurídica em relação a bens. Ser alienado é não perceber a presença do sujeito no objeto e vice-versa, sua vinculação indissolúvel.A luta pela emancipação humana é uma luta contra toda forma de exploração, de dominação, de discriminação, mas, antes de tudo e sobretudo, uma luta contra a alienação - condição de todas as outras lutas."
Fonte: Revista Caros Amigos, abril de 2007.

11 maio 2007

Rigoletto

Grande espetáculo ontem no Guairão.

“La donna è mobile
qual piuma al vento
muta d’accento
e di pensiero
Sempre un’amabile
leggiadro viso
in pianto e in riso”
.
(“A mulher é volúvel [não só elas]
como uma pluma ao vento
muda o tom de voz
e o pensamento
Sempre uma amável
graciosa face
no choro e no riso”).


09 maio 2007

Bela Campanha

Tania Derveaux, candidata ao Senado Belga, desenvolveu uma nova estratégia de campanha para divulgar uma candidatura e para angariar uns votinhos. Mulheres eleitas em poses sensuais não são novidade. Nesse ano, já tivemos Mara Carfagna, a deputada italiana que recebeu graciosos comentários do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, saiu em uma revista esportiva despida de qualquer máscara política. Mas durante a campanha eleitoral, que eu saiba, é novidade. Vai que a moda pega por aqui!? Diante de tanta falta de vergonha de nossos políticos, pelo menos as campanhas ficariam mais interessantes e bonitas.

08 maio 2007

Teologia da Libertação


Os teólogos da libertação estão de volta. Logo depois da condenação, pelo Vaticano, do jesuíta Jon Sobrinho, que teria dado muita ênfase a responsabilidade humanitária da Igreja na sua última obra, os teóricos sulamericanos responderam todas as argumentações da acusação através do livro "Baixar os pobres da cruz".
Segundo Jung Mo Sung, professor de Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, "o verdadeiro problema que a obra de Sobrino suscita não é o fato de ele não ter explicado com a devida ênfase a divindade de Cristo, mas ter assumido que o problema primeiro e primário do pobre é a fome".
A Teologia da Libertação se fundamenta na necessidade da Igreja ser estabelecida como entidade que busca a diminuição das diferenças sociais na América Latina. Defende a idéia de uma 'espiritualidade integradora de luta pelo equilíbrio social'. Prega que os religiosos se trasformem em agentes ambientais, sociais e políticos de mudança e não fiquem mais na simples posição de conselheiros espirituais. Daí dá para entender por que o Vaticano pega tanto no pé deles, não?


02 maio 2007

"Quanta verdade você é capaz de suportar?"

Olympia, de Edouard Manet, em 1863.

"A doutrina da castidade é uma instigação pública à contradição da natureza. Todo desprezo à vida sexual, toda tentativa de contaminá-la através do conceito de 'impureza' é, na verdade, o próprio pecado contra o espírito sagrado da vida."
Friedrich Wilhelm Nietzsche - O Anticristo: A Maldição do Cristianismo