31 dezembro 2010

Por um 2011 ainda melhor

Pode ser que 2010 nao tenha sido dos melhores. Pode ser que nao tenhamos conquistado aquele emprego, passado no concurso, comprado o carrro ou o novo ap. Pode ser que nao estejamos mais com aquela pessoa ou que alguem muito importante nao seguira conosco em 2011. Nao ganhamos a Copa, a Marina nao sera a proxima presidente e a minha conta so diminuiu.

Mas, entre mortos e feridos, ca estamos! Melhores ou piores, estamos aqui! E um novo ciclo comeca, com novas chances, oportunidades e, principalmente, emocoes. Sim, novas emocoes, novas possibilidades.

Pelo ano que passou, agradeco a todos que estiveram ao meu lado. E para o que vira, desejo o melhor, do fundo do coracao. Estarei aqui por voces!

14 dezembro 2010

Às vezes

Às vezes ouço passar o vento;

e só de ouvir o vento passar,

vale a pena ter nascido.

Fernando Pessoa

11 dezembro 2010

08 dezembro 2010

Chamar a Si Todo o Céu com um Sorriso



que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso


Edward Estlin Cummings

03 dezembro 2010

10 anos

Quando chegou a Lisboa para disputar a Masters Cup, Gustavo Kuerten sabia que podia sair do torneio como número 1 do mundo. Sabia também que suas chances eram pequenas. A vantagem era de Marat Safin, que liderava a Corrida dos Campeões (ranking que levava em conta apenas os pontos conquistados na temporada) e nem precisava levantar o troféu para fechar a temporada no topo do ranking.

As condições também favoreciam o russo. O torneio era disputado em quadra dura e coberta, em que Guga jamais havia conquistado um título na carreira. A hipótese de o brasileiro ultrapassar o russo em Lisboa era tão improvável que a ATP, entidade que organiza o circuito mundial, já preparava uma celebração para o russo.

Para piorar, logo no primeiro jogo do dia, o russo derrotou o espanhol Alex Corretja. Guga, que fez a última partida, vencia Andre Agassi, mas sentiu dores na coxa e nas costas e acabou derrotado.

Diante da possibilidade de não voltar a jogar por causa da contusão e ceder seu lugar no torneio para o sueco Thomas Enqvist, Guga pediu à direção do torneio o máximo de tempo possível para descansar. A organização colaborou: o brasileiro ganhou folga na quarta-feira e só voltaria a atuar no último jogo de quinta contra Magnus Norman.

- Lembro que aquele dia eu fiquei umas duas horas no fisioterapeuta, e depois fiz todos tipos de tratamento possível, desde massagem até medicação, antiinflamatório, banheira, gelo, calor, tudo até umas 3h, 4h da manhã - conta Guga. - Bati uma meia hora e foi estranho. Tudo que eu estava fazendo ali estava dando certo. Batia uma bola de direita, acertava. "Vamo de esquerda, aqui tá bom. Aqui tá bom, aqui tá bom...". Tudo que eu fazia, eu consegui fazer no mínimo de tempo possível e numa forma muito boa. Fui dormir com bastante certeza que eu poderia jogar. Eu não tinha nenhuma convicção de que poderia ter uma boa performance, mas deu para sentir que eu ia poder estar dentro da quadra pelo menos. A vitória sobre Magnus veio de maneira fácil e rápida, impressionando a todos que assistiram.

Essa séria lesão, o retrospecto apenas mediano em quadras duras e cobertas, a necessidade de derrota do russo antes da final, os adversários do nível de Andre Agassi e Pete Sampras... Tudo levava a crer que Gustavo Kuerten deixaria a Masters Cup de Lisboa, no ano 2000, na vice-liderança do ranking.

Mas o catarinense nunca foi de desistir rápido de seus objetivos. E chegou, naquele domingo, dia 3 de dezembro, exatos dez anos atrás, ao ponto de ter o seu maior objetivo, o topo do ranking mundial, ao alcance de seus saques, forehands, backhands, slices e voleios.

Agora só bastava uma vitória sobre Agassi. Tarefa ingrata, sim, mas que já não parecia improvável. Nos últimos três dias, afinal, Guga havia derrotado Magnus Norman, Yevgeny Kafelnikov e Pete Sampras. Faltava um jogo, contra o mesmo americano que o derrotou na primeira partida daquela semana mágica. Tal tarefa, porém, era das mais difíceis: derrotar Pete Sampras e Andre Agassi em dias consecutivos, algo que ninguém jamais havia conseguido. Então bicampeão de Roland Garros, o brasileiro viu a chance, agarrou-a com toda a força e fez, naquele domingo, o melhor jogo de sua vida.

E a vitória veio com um triplo 6/4 em 2h06m, com 19 aces executados e sete break points salvos, sem ceder uma quebra. Sem deixar Agassi, ex-número 1 do mundo, respirar. Guga, enfim, chegava ao topo do mundo.

- Eu diria que esse jogo, abreviando, foi a melhor performance que tive como profissional. Analisando toda a figura, lidar com tudo aquilo que requer a situação, foi o maior rendimento que eu tive, não tenho dúvida. Ali eu tinha ainda algumas incertezas, mudanças recentes no meu estilo de jogo naquela quadra, uma restrição física... Tinha o lance de enfrentar caras como Agassi e Sampras naquele piso, em que eu nunca tinha ganhado torneio e ainda era algo angustiante para mim... Para ser número 1 do mundo, lidar com essa expectativa, jogando contra esse nível de caras, não dando nenhuma oportunidade... Para traduzir, foi um planejamento de A a Z, e consegui executar todas as tarefas em grau 9, 10. Foi muita eficácia de todas as formas - lembra Guga.

O jogo não teve o mesmo aperto da semifinal contra Sampras, mas só porque o brasileiro jamais permitiu que Agassi equilibrasse as ações. O americano admitiria isso na coletiva, logo depois.

- Acho que tive oito, dez break points, e ele (Guga) só errou um primeiro saque. Acho que só coloquei uma dessas bolas em jogo. Agora, penso que deveria ter sido muito mais agressivo, mas isso tem muito a ver com ele. Ele assumiu a liderança e executou bem. O backhand dele estava vindo fora da minha zona de conforto - avaliou.

Vitória garantida, Guga se tornava o primeiro brasileiro número 1 do mundo no tênis. Após um cumprimento sincero de Agassi, o brasileiro só teve o que festejar. Começou com o microfone na mão. Pela primeira vez falando em português ao ganhar um torneio de grande porte fora do país, o catarinense quebrou o protocolo e deu um abraço na "mãe número 1 do mundo", dona Alice.

No vestiário, estourou champanhe ao lado da família e do técnico Larri Passos, virou o líquido no troféu do Masters de Lisboa e bebeu direto da taça.

No dia seguinte, Guga já não era encontrado em Lisboa. Cedinho, sem tempo de um despedir da família, que ainda dormia, o tenista embarcava para o Havaí...

Após se tornar o tenista número 1 do mundo, em Lisboa e ganhar mais de U$5 milhões de dólares em premiações naquele ano, seria comum ver Gustavo Kuerten voltar ao Brasil e desfilar em carro do Corpo de Bombeiros por Florianópolis, ou em algum carro oficial, por Brasília. Mas não para Guga, que tirou férias e foi viajar com os amigos, dormir em colchonete e desfilar sobre as pranchas de surfe no Havaí (EUA).

01 dezembro 2010

As Ideias Vivem em Bandos



Com um pequeno esforço de memória, qualquer um pode listar alguns nomes de pessoas que considera geniais. Gente que revolucionou seu tempo com um pensamento original ou com invenções que transformaram a vida da humanidade, como Leonardo da Vinci, Antoine Laurent de Lavoisier, Charles Darwin, Alberto Santos Dumont, Albert Einstein... Mas o que terá tornado essa gente excepcional? O escritor americano Steven Johnson, especializado em divulgar estudos sobre a sociedade, a ciência e as ideias, faz uma proposta ousada em seu mais recente livro, Where good ideas come from – The natural history of innovation (De onde vêm as boas ideias – A história natural da inovação, ainda sem data de lançamento no Brasil). Para ele, a genialidade é uma ideia romântica. Momentos de iluminação individual seriam raríssimos. Lembramos deles apenas porque resultam em histórias agradáveis sobre o progresso.

O caminho que leva à inovação, diz ele, é outro: longo, descontínuo e errático. Percorrê-lo com sucesso significa principalmente conectar ideias – as próprias e as alheias, as novas e as antigas –, em vez de se isolar à espera de sacadas extraordinárias. E essa conexão só acontece em ambientes em que as pessoas possam interagir como se fossem os neurônios de um grande cérebro coletivo. “Não é que não existam pessoas extraordinárias, mais espertas que a maioria de nós”, afirmou Johnson em uma entrevista por e-mail a ÉPOCA. “A questão é que os talentos podem ser aperfeiçoados (ou reduzidos) dependendo do lugar onde estejam. Se tentássemos colocar a mente de Steve Jobs (presidente da Apple) para trabalhar em empresas convencionais, desconfio que ele não se sairia tão bem.”

De acordo com essa tese, a genialidade seria a capacidade de destilar, aos poucos, o melhor do caldo das ideias existentes. Não é que não exista a descoberta, o “eureca!” (descobri, em grego antigo) que o matemático Arquimedes teria gritado, saindo pelado da banheira, quando lhe veio à mente o conceito de empuxo. É que ele faz parte de uma cadeia de outras descobertas, menores, às quais geralmente não damos valor. Fascinado pela evolução das ideias – dois de seus seis livros anteriores abordam o assunto –, Johnson estudou o contexto que levou ao desenvolvimento de várias ideias na história. E propõe um caminho para alcançar o pensamento inovador e transformar organizações em ambientes criativos. A seguir, alguns dos principais modos de fazer isso, segundo ele.

1. A GESTAÇÃO DEMORA
Uma impressão ou uma intuição precisam de tempo, pesquisa e observação para virar uma ideia. Johnson chama essa gestação de “slow hunch”, o “palpite demorado”. É corrente a ideia de que Darwin, ao ler a teoria de Thomas Malthus sobre a disparidade entre a produção de alimentos e o crescimento da população, teve um estalo e formulou a teoria da seleção natural. Johnson desmonta essa análise superficial, mostrando que Darwin era um homem rigoroso em suas anotações. Durante anos, registrou observações, citações, ideias improvisadas e rascunhou diagramas. Estava constantemente relendo suas notas e questionando suas implicações. Os principais pontos da seleção natural estavam em seus cadernos. O “insight malthusiano” veio só depois e o ajudou a completar o raciocínio.

2. A IDEIA TEM VÁRIAS MÃES
Uma pessoa inovadora é aquela que consegue combinar e recombinar ideias anteriores. Ao formular a teoria da relatividade, em 1905, o físico Albert Einstein usou estudos do matemático Jules Henri Poincaré. Daí a importância de um espaço livre para ideias: mesmo as mais loucas podem um dia servir. Poincaré formulou em 1904 uma conjectura que só foi demonstrada em 2002, pelo matemático Grigori Perelman. “As pessoas costumam pensar que fazemos uso só do conhecimento e dos cálculos e, com isso, chegamos às teorias”, diz Jacob Palis, doutor em matemática pela Universidade da Califórnia e pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). “Longe disso. Nós perseguimos palpites. Há casos em que tenho sucesso e há casos em que a pergunta fica no ar, até que outras pessoas se interessem por ela.”

3. O GRUPO INOVA MAIS
“A ideia não é uma coisa só. Está mais para um enxame”, afirma Johnson. Quando a informação circula, criamos uma rede fluida, inteligente, receptiva a novidades. É principalmente essa a razão por que as grandes cidades são ambientes mais férteis à inovação em comparação com as pequenas. “A densidade das redes formadas nas primeiras cidades propiciou a circulação de ideias. Elas transbordaram e, por causa disso, foram preservadas para as futuras gerações”, escreve Johnson. Em ambientes menores, como empresas, também é possível formar essas redes de ideias. O jeito mais simples de fazer isso é permitindo um espaço para conversas informais. É mais eficiente do que reuniões de brainstorm (em que todos são instados a dar palpites absurdos, na esperança de surgir uma ideia genial), segundo Johnson, porque as ideias não respeitam cronogramas. A arquitetura também influi. Ela precisa unir as pessoas, em vez de separá-las em grupos fechados. Esse pensamento inspirou a Microsoft a construir espaços físicos mutáveis, das mesas às paredes, em sua área de pesquisa. A Apple faz isso nos projetos de trabalho em grupo: favorece o contato franco e intenso entre todo tipo de profissional, todo tipo de inteligência.

4. PRESTE UM POUCO DE DESATENÇÃO
Muitas vezes, esquecer o problema ajuda a achar a solução. As ideias se beneficiam de uma dose de dispersão. Elas podem vir durante o sono, no banho, numa caminhada ou na prática de um hobby. Um exemplo ilustre é do matemático francês Jules Henri Poincaré. Ele passou 15 dias tentando provar que as funções propostas pelo matemático Lazarus Immanuel Fuchs não existiam. Um dia, saiu da rotina e tomou café preto, algo que não costumava fazer. Sem conseguir dormir, começou a ter alguns palpites promissores. No dia seguinte, percebeu que estava errado e provou as conjecturas – a que generosamente chamou de fuchsianas.

5. O VIZINHO PODE EMPRESTAR
Algumas das melhores ideias já existem – só precisam de alguma adaptação. Foi o que fez, por exemplo, o obstetra francês Stephane Tarnier, em 1870. Em Paris, naquela época, um em cada cinco bebês morria poucos dias depois de nascer. Um dia, passeando pelo zoológico, ele notou que os pintinhos eram mantidos em recipientes aquecidos. Se o princípio era bom para os pintinhos, por que não para os humanos? Ele criou então a primeira incubadora, colocando recipientes com água quente embaixo das caixas de madeira que serviam de berços.

6. A AJUDA DOS ERROS
Uma ideia inicialmente promissora pode chegar a um resultado ruim. Isso se chama erro. E ele é útil. O ambiente inovador tolera os enganos, estuda os resultados indesejados e os transforma em aprendizado, em benefício das ideias seguintes. Johnson cita o exemplo do teólogo britânico Joseph Priestley. Ele tinha o costume de fazer experimentos científicos para provar suas crenças teológicas. Um dia, colocou uma planta em uma jarra, privando-a de oxigênio. Esperava que a planta morresse, mas ela continuou viva. O resultado o encorajou a continuar suas pesquisas. Esse experimento levou a outros, de outros cientistas, e assim se descobriu o processo da fotossíntese.

7. A OBSESSÃO COM NOTAS
A insólita jornada da inovação depende da profusão de informações – uma espécie de bagunça organizada. Era assim que Darwin fazia em seus cadernos, repletos de rabiscos, desenhos, pensamentos. Ordenar essas ideias pode atrapalhar mais que ajudar, porque engessa o raciocínio. Anotações esparsas facilitam a recombinação das teses, o olhar com nova perspectiva. Mas há um risco oposto: anotar, anotar, e não parar para ligar os pontos. Essa foi uma das falhas que impediram a polícia federal americana, o FBI, de prevenir o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Em julho, um relatório do agente Ken Williams alertava sobre seguidores de um certo “Usama Bin Laden” que faziam cursos de aviação civil. Williams entrevistara alguns deles e descobrira que tinham ligações com movimentos islâmicos radicais. O documento foi classificado como um “palpite especulativo, não significativo”, e permaneceu no limbo do FBI. Outro relatório ignorado dentro do FBI mencionava que um certo Zacarias Moussaoui, aluno de aviação, tinha intenção de jogar um avião contra o World Trade Center. As informações não se encontraram, o FBI não agiu e os aviões pilotados por terroristas atingiram seus alvos meses depois.

Nesse caso extremo, um processo mais acurado de ligar informações poderia ter salvado a vida de cerca de 3 mil pessoas. Em outros casos, o prejuízo é um invento que deixa de ser feito, um trabalho que fica pior, um paciente que deixa de ser tratado. É fácil perceber a falta de conexão no FBI, mas quanto nós mesmos não trabalhamos isolados? “Um dos maiores problemas das empresas é que elas dividem as pessoas em silos – engenheiros aqui, o financeiro ali”, disse Johnson a ÉPOCA. “O pensamento inovador frequentemente vem quando as ideias cruzam fronteiras.”

Revista Época, em 22/11/2010.

24 novembro 2010

Nosso dever!





"Eu tive um aprendizado que me levou a descobrir o lado melhor da natureza humana e entrar nos corações dos homens. Eu percebi que a verdadeira função de um advogado era unir rivais de festas a parte."

Mahatma Gandhi, pacifista e ícone da história moderna. Mahatma não lutou pela paz - lutar não era com ele - ele DISSEMINOU a paz.


"Cada dia é o dia do julgamento, e nós, com nossos atos e nossas palavras, com nosso silêncio e nossa voz, vamos escrevendo continuamente o livro da vida. A luz veio ao mundo e cada um de nós deve decidir se quer caminhar na luz do altruísmo construtivo ou nas trevas do egoísmo. Portanto, a mais urgente pergunta a ser feita nesta vida é: o que fiz hoje pelos outros?"

Martin Luther King Jr., que escolheu o caminho da ideologia e da não-violência para acabar com a segregação racial no Estados Unidos, e acabou plantando o sonho do não racismo no coração do mundo.


"Eu penso muito sobre tudo, não posso evitar, vou de uma ideia para outra. E todos esses planos viram um sonho, que vejo crescer, progredir. Vejo pessoas felizes atrvés deles."

Ayrton Senna da Silva, imortal que morreu em 1994. Ídolo maior do Brasil. Inesquecível.


"A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."

Nelson Mandela, opositor do regime do Apartheid, ficou preso durante 27 anos, foi libertado e liderou, como presidente da África do Sul, a busca da integração racial.




Hoje, dia 24 de novembro, o dono deste blog completa 30 anos. Bem vividos, 30 anos, bem-vindos!

Mas deixarei para falar disso mais tarde, porque agora é hora de pegar pesado - desculpe, Amigo, não perdoarei a data!

O mundo está uma merda! Guerras, fome, intolerância. E ainda tem o governo...

O governo só se move por dinheiro. Não dá para confiar em nada nesses caras. Voto e grana, é só o que interessa. E o povo se mata...

O povo se mata, mas também mata, estupra, rouba, briga, maltrata, sequestra, maldiz, corrompe, desmata, caça, poluí. O povo não merece ser. Nem estar.

E nós? Bem, nós poderíamos ir ao Colarinho, tomar um chopp tranquilos e rirmos do que a desgraça ainda não alcançou. Poderíamos, entre um Black e outro, abraçados, ouvirmos Vinícius de Moraes cantando, Tom cantando, o Teatro cantando... poderíamos comer um bolinho de queijo, pegar o carro e dormirmos tranquilos.

Mas e aí? E a merda toda, quem vai limpar? Quem pode limpar?

Entra agora o motivo da compilação de frases célebres acima. Aqueles caras certamente sentavam no Colarinho e aproveitavam o melhor chopp da cidade. Aposto que Martin adorava os bolinhos de queijo do Arrumadinho, enquanto falava que viver é o melhor que podemos fazer. E o Ayrton? Só relaxava mesmo quando acendia um ICE, sentado lá fora, ouvindo as bobagens do Valcir.

Mas aqueles caras fizeram mais. Foram mais longe. Reuniram o que tinham de melhor em si, superaram seus próprios limites para conseguir transcender. Pensavam no 'individualismo coletivo' e iam mais longe. Foram presos, mortos, morreram por seus ideais. Deram a vida por uma causa e ficaram na história.

E você, Trintão, vai fazer o quê diante disso tudo? Oras, pense bem, olhe à sua volta! Esse mundo de merda não serve para criarmos nossos filhos! Você vai ficar parado? Vai se contaminar com a porcaria que está sendo espalhada diariamente? Vai deixar tudo isso acontecer sem fazer nada?

Sabe por que, rapaz, eu pergunto isso para você? Porque você, Amigo, PODE MUDAR ISSO! Conheci, em 29 anos, muita gente boa, muita gente iluminada. Mas poucos com o coração tão bom quanto o seu. Tão amigo, tão parceiro, tão preocupado com o bem estar geral. Poucos caras tão verdadeiros. Poucos eu conheci, e apenas de você ouvi a frase 'estou preocupado com esse mundo'.

Meu guri, não é exagero. Caras como você são a nossa esperança. Esperança de mudar o panorama, de virar o jogo. Caras com o coração gigante, com a cabeça boa e com a velha preocupação com o outro. Caras que não conseguem imaginar a felicidade egocentrada - a felicidade é geral ou não é.

Confesso, não sei como você vai fazer isso. Mas sei que nós, seus amigos, estaremos juntos nessa. Mesmo sabendo que eu não sou tão bom quanto você, estarei nessa contigo! Estaremos juntos sofrendo a mesma dor ou gozando a mesma paz.





Porque à você, rapaz, confio a minha mais verdadeira amizade, forjada com os mais nobres sentimentos que os melhores amigos podem ter. Ela não é gratuita, é apenas a retribuição do que recebo. Este amigo irá acompanhá-lo pelos anos, tomando porrada se necessário, limpando o mundo junto contigo! Espalhar coisas boas é o seu dever, e nós o ajudaremos.

Obrigado mesmo, Amigo, pela amizade verdadeira e incondicional. Somos honrados de tê-lo sempre por perto. Somos orgulhosos de poder conviver com a sua amizade, a amizade do Bráulio e do Dr. Darcy - fruto, pé... iguais!

Vamos em frente, Amigo. Se até os 60 teremos limpado essa sujeirada, eu não sei. Mas estaremos juntos! Tentando, tentado, tentando...








21 novembro 2010

Nós nunca tivemos democracia

Professor da Faculdade de Direito da USP, o jurista Fabio Konder Comparato é conhecido por sua longa e firme militância na luta pelos direitos humanos e democráticos no Brasil. Tem contribuído com inúmeras entidades e movimentos sociais na formulação de propostas para a transformação do povo brasileiro no sujeito de sua própria soberania. Nesta entrevista exclusiva para Caros Amigos, ele analisa a questão do poder no Brasil, as várias formas dissimuladas de se adiar a democracia, os instrumentos para aperfeiçoar a participação popular nos destinos do país e outros aspectos da maior relevância para a compreensão da nossa realidade. Os argumentos lúcidos e pedagógicos do professor Fabio Konder Comparato são imperdíveis.

Tatiana Merlino - O senhor nasceu em Santos?
Fabio Konder Comparato - Não me perguntem se eu sou santista... (risos)

Hamilton Octavio de Souza – É santista?
Eu não torço mais para nenhum clube. Futebol é o ópio do povo (risos).

(...)

Tatiana Merlino - Como o senhor avalia o período da redemocratização e a justiça de transição, ou a inexistência de justiça de transição que houve no Brasil?
Esse é apenas um pormenor da manutenção íntegra e até hoje inabalada da oligarquia. Se há uma constante na História do Brasil, é o regime oligárquico. É sempre uma minoria de ricos e poderosos que comanda, mas com uma diferença grande em relação a outros países. Nós, aqui, sempre nos apresentamos como não oligarcas. A nossa política é sempre de duas faces: uma face externa, civilizada, respeitadora dos direitos, e uma face interna, cruel, sem eira nem beira. A meu ver, isto é uma conseqüência do regime escravista que marcou profundamente a nossa mentalidade coletiva. O senhor de engenho, o senhor de escravos, por exemplo, quando vinha à cidade, estava sempre elegantemente trajado, era afável, sorridente e polido com todo mundo. Bastava, no entanto, voltar ao seu domicílio rural, para que ele logo revelasse a sua natureza grosseira e egoísta. Nós mantivemos essa duplicidade de caráter em toda a nossa vida política.
Quando foi feita a Independência, estava em pleno vigor, no Ocidente, a ideologia liberal, e, devido ao nosso complexo colonial, nós não podíamos deixar de ser liberais. Então, iniciou-se o trabalho de elaboração da Constituição, logo em 1823. E os constituintes resolveram instituir no Brasil um regime liberal, com a instituição de freios contra o abuso de poder. Evidentemente, isso foi contado ao Imperador, que imediatamente mandou fechar a Assembléia Constituinte. Mas, qual foi a declaração dele? “Darei ao povo brasileiro uma Constituição duplicadamente mais liberal.” Eles não perceberam a aberrante contradição: uma Constituição outorgada pelo poder que era duplicadamente mais liberal do que aquela que estava sendo feita pelos representantes do povo. Bom, essa Constituição não continha a menor alusão à escravidão e dispunha: “São abolidas as penas cruéis, a tortura, o ferro quente.” Porque todo escravo tinha o corpo marcado por ferro em brasa. Essa marca era dada desde o porto de embarque na África. Pois bem, apesar dessa proibição da Constituição de 1824, durante todo o Império nós continuamos a marcar com ferro em brasa os escravos. A Constituição proibia os açoites, mas seis anos depois foi promulgado o Código Criminal do Império que estabeleceu a pena de açoites no máximo de 50 por dia. E é sabido que essa pena só se aplicava aos escravos e, geralmente, eles recebiam 200 açoites por dia. Houve vários casos de escravos que morreram em razão das chibatadas recebidas. E, aliás, a pena de açoite só foi eliminada no Brasil em 1886, ou seja, às vésperas da abolição da escravatura.
Em 1870, para continuar essa duplicidade típica da nossa política, como vocês sabem, foi lançado o Manifesto Republicano, aqui no estado de São Paulo. Esse manifesto usa da palavra democracia e expressões cognatas – como liberdades democráticas, princípios democráticos – nada menos do que 28 vezes. Não diz uma palavra sobre a escravidão. E, aliás, o partido republicano votou contra a lei do ventre livre no ano seguinte ao manifesto, em 1871, e votou até contra a Lei Áurea. Em 1878, votou a favor da abolição do voto dos analfabetos. A Proclamação da República, todo mundo sabe, foi um “lamentável mal entendido”, para usar a expressão famosa de Sérgio Buarque de Hollanda. E, efetivamente, o Marechal Deodoro não queria a abolição da monarquia, queria derrubar o ministério do Visconde de Ouro Preto. Mas aí, no embalo, os seus amigos positivistas o convenceram que era melhor derrubar a monarquia. Pois bem, até 1930, nós tivemos a República Velha, que, como dizia meu avô, foi substituída pela República Velhaca. E, por que foi feita a Revolução de 1930? Todo mundo sabe. As fraudes eleitorais.

Hamilton Octavio de Souza - São Paulo e Minas que comandavam as fraudes.
Sim, pois é. Foi feita a revolução para isso. Sete anos depois o regime desembocou num golpe de Estado, que suprimiu as eleições. A autoproclamada “Revolução” de 1964 foi feita em nome de quê? Leiam os documentos: a ordem democrática. Hoje, é preciso dizer que não é só no Brasil, mas no mundo todo que a palavra democracia tem um sentido contraditório com o conceito original de democracia. O grande partido da direita na Suécia, que agora chegou ao parlamento sueco, pela primeira vez, um partido xenófobo e racista, chama-se Suécia Democrática. E, num certo país da América Latina, como todo mundo sabe, o partido mais à direita do espectro político chama-se como mesmo?

Hamilton Octavio de Souza - Se chama Democratas (DEM, antigo PFL).
Então, esta é a nossa realidade. É dentro desse quadro que se pode e se deve analisar o processo eleitoral. Ou seja, nunca dar o poder ao povo, dar-lhe apenas uma aparência de poder. E, se possível, uma aparência festiva, alegre. Essa disputa eleitoral, que nós estamos assistindo, ela só interessa, rigorosamente, ao meio político. O povo não está, absolutamente, acompanhando a campanha eleitoral. Vai votar, maciçamente, na candidata de Lula, mas para ele não tem muito interesse essa campanha eleitoral. Então, as eleições, o que são? São um teatro. Oficialmente, os eleitos representam o povo. É o que está na Constituição. Na realidade, eles representam perante o povo, são atores teatrais. Mas, com um detalhe: eles não se interessam pelas vaias ou pelos aplausos do povo. Eles ficam de olhos postos nos bastidores, onde estão os donos do poder. É isso que é importante.
De modo que, para nós, hoje, é preciso deixar de lado o superficial e encarar o essencial. O que é o essencial? Como está composta, hoje, a oligarquia brasileira. E como eliminá-la. Como está composta a oligarquia brasileira? Obviamente, há um elemento que permanece o mesmo desde 1500: os homens da riqueza. Só que hoje eles são variados: os grandes proprietários rurais, os banqueiros, os empresários comerciais, os grandes comerciantes. Mas o elemento politicamente mais importante da oligarquia atual é o dos donos dos grandes veículos de comunicação de massa: a imprensa, o rádio e a televisão. O povo está excluído desse espaço de comunicação, que é fundamental em uma sociedade de massas. Ora, esse espaço é público, isto é, pertence ao povo. Ele foi apropriado por grandes empresários, que fizeram da sua exploração um formidável instrumento de poder, político e econômico.
Hoje, os oligarcas brasileiros já montaram em esquema que torna as eleições um simples teatro político. É claro que eles não podem, em todas as ocasiões, fazer um presidente da República, por exemplo. Mas eles podem – e já o fizeram – esvaziar o processo eleitoral, tirando do povo todo o poder decisório em última instância e transferindo-o aos eleitos pelo povo; eleitos esses cuja personalidade, na grande maioria dos casos, é inteiramente fabricada pelos marqueteiros através dos meios de comunicação de massa.
O único risco para a oligarquia brasileira (e latino-americana, de modo geral) é a presidência da República, porque a tradição latino-americana é de hegemonia do chefe do Estado em relação aos demais Poderes do Estado. Se o presidente decidir desencadear um processo de transformação das estruturas sócio-econômicas do país, por exemplo, ele porá em perigo a continuidade do poder oligárquico.
Ora, Luiz Inácio Lula da Silva já demonstrou que não encarna esse personagem perigoso para a oligarquia. Ele é o maior talento populista da história política do Brasil, muito superior a Getúlio Vargas. Mas um populista francamente conservador, ao contrário de Getúlio ou de Hugo Chávez, por exemplo.
Mas o que significa ser um político populista? Populista é um político que tem a adesão muitas vezes fanática do povo, que tem um extraordinário carisma popular, mas que mantém o povo perpetuamente longe do poder. O populista conservador pode até, se isso agradar ao povo, fazer críticas aos oligarcas, mas mantém com eles um acordo tácito de permanência do velho esquema de poder.
Ora, isto representa a manutenção do povo brasileiro na condição de menor impúbere, ou seja, de pessoa absolutamente incapaz de tomar decisões válidas. O populista é uma espécie de pai ou tutor, que trata os filhos com o maior carinho, enche-os de presentes, brinquedos, etc, mas nunca lhes dá o essencial: a verdadeira educação para que eles possam, no futuro, tomar sozinhos as suas decisões. É um falso pai. O verdadeiro pai existe para desaparecer. Se o pai não desaparecer, enquanto pai, alguma coisa falhou, uma coisa essencial, que é a educação dos filhos para a maturidade. O fundamental do líder populista é que ele mantém o povo muito satisfeito, mas num estado de perpétua menoridade.

Tatiana Merlino - Por que o senhor acha que ele supera o Getúlio Vargas?
Porque Getúlio Vargas tinha, teve, até o fim, uma oposição ferrenha, raivosa, não de partidos políticos, eles não existiam, mas dos grandes fazendeiros de São Paulo. Aliás, fizeram até uma revolução em 1932. Além disso, ele era autoritário, por convicção positivista: a chamada “ditadura republicana”. Lula não, ao contrário do que se afirmou em um desatinado manifesto recente. Ele tem horror à coação, à violência. Ou seja, ele é o avesso de Getúlio. Basta ler Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, para se perceber que o regime militar de 64 não inventou nada. Foi uma reedição desse aspecto tenebroso de Getúlio.

Hamilton Octavio de Souza – Esse controle que o Lula exerce, como isso tem sido possível num país carente, com demandas seculares, desigualdade?
A mentalidade do Lula não é de raciocínio frio, ela é quase que toda dominada pela sensibilidade e a intuição. É por isso que ele tem lances geniais no desmonte da oposição. É um talento por assim dizer inato. E é por isso que todo esse pessoal do PT foi atrás dele, porque senão eles não subiriam, jamais. Não preciso dar nomes, mas nenhum deles tem o milésimo do talento político do Lula. Eles foram atrás e chegaram lá. Mas são todos infantis em política. Ao chegarem ao poder, procederam como a criança que nunca comeu mel: foram comer e se lambuzaram todos.
Mas, enfim, esse é o homem. Isso não significa que ele seja totalmente negativo. As boas coisas do governo Lula são mantidas por influência dos seus bons companheiros. E ele sabe ouvi-los, graças a Deus. Em matéria de direitos humanos, nós temos que reconhecer o trabalho admirável do Paulo de Tarso Vannuchi. Em matéria de educação, eu entendo que o Fernando Haddad fez um bom trabalho. Mas isso não compensa o lado extremamente negativo dos maus elementos que pressionam Lula. Sinto, por exemplo, que cede a tudo aquilo que o Nelson Jobim pede. Será preciso relembrar que, na véspera do julgamento da ação movida pelo Conselho Federal da OAB no Supremo Tribunal Federal sobre a abrangência da Lei de Anistia, Lula convidou todos os ministros do Supremo para jantar no Palácio do Planalto? Não é difícil imaginar o assunto que foi objeto de debate durante essa simpática refeição. Aliás, um ministro do Supremo Tribunal Federal me disse: “Comparato, você não imagina as pressões que nós recebemos...”

Tatiana Merlino – Do presidente?
Obviamente que do governo. Digamos que o Lula não tenha feito pessoalmente isso. Mas, ele também não pode ignorar que isto está sendo feito diante dele. Por acaso ele ignorava o esquema do mensalão?

Hamilton Octavio de Souza – A pressão é no sentido de se ...
Dar anistia aos torturadores, assassinos e estupradores do regime militar, porque todos eles se declaravam defensores da ordem democrática. Logo após o golpe, em 64, eles se declaravam também defensores da civilização cristã.
Nesse ponto eu sigo o grande método da antiga Ação Católica: “ver, julgar e agir”. Que é, aliás, o método que nós procuramos seguir com os nossos alunos na Escola de Governo, aqui em São Paulo. Justamente, eu me esqueci de dizer que há 20 anos, juntamente com os amigos Maria Victoria Benevides e Claudineu de Melo, e também o saudoso professor Goffredo da Silva Telles Jr., nós criamos uma escola de formação de líderes políticos. No começo, procurávamos formar governantes. Hoje, nós tentamos formar educadores políticos. Pois bem, esse “ver, julgar e agir”, nós temos que utilizar para a situação política atual. Nós só podemos compreender a situação política atual, se tivermos a capacidade de enxergar por dentro as ações políticas, tanto do PT quanto do PSDB e dos demais partidos. E vamos perceber que há, como eu disse, um elemento que permanece incólume na vida política brasileira: é a oligarquia. Nós sempre vivemos sob regime oligárquico, pois o poder soberano sempre pertenceu à minoria dos ricos.

Tatiana Merlino – O senhor disse que as eleições não mudam nada a configuração da oligarquia. O senhor está se referindo às eleições de agora, ou de um modo geral?
De modo geral.

Tatiana Merlino - Como é possível mudar essa configuração?
Nós temos que saber como mudar e quais são os pontos fracos da oligarquia. Porque ela não existe no vácuo. Se ela se mantém, é porque o povo aceita esse estado de coisas. E por que o povo aceita? Em grande parte, porque ele acha que tem participação política através das eleições. Foi por isso, aliás, que o regime militar não as eliminou. Era preciso que o povo se sentisse participante e não mero espectador do teatro político.
Pois bem. Como é que nós podemos mudar isso? Nós temos que seguir dois caminhos convergentes. É preciso, ao mesmo tempo, transformar a mentalidade coletiva e mudar as instituições políticas.
O que significa mudar a mentalidade política? Ainda aí é preciso ver, julgar e agir. Nós temos uma herança de séculos, nas camadas mais pobres do povo, de servilismo e de dificuldade de ação comunitária. Nós sempre somos dispersos, disseminados, não sabemos agir por nós mesmo, e atuar em conjunto. Nós sempre aceitamos uma situação de dependência em relação aos que detêm o poder, esperando que esse senhor todo-poderoso seja benévolo e compreenda as dificuldades de povo. Durante séculos, mais de 80% da população brasileira vivendo no campo, este senhor foi o grande proprietário rural, senhor de escravos. Agora, com a urbanização, 80% da população brasileira é urbana, é uma inversão completa. Com a criação da sociedade de massas, foi preciso que esse poder se transformasse. Ele não é mais local e pessoal. É um poder geral e impessoal, de certa maneira invisível. Os “donos do poder” nunca entram em diálogo pessoal com o povo. Eles se servem do instrumental fantástico dos meios de comunicação de massa, para distração geral; para que o povo não pense em si mesmo e não enxergue o buraco em que está metido. Daí a intoxicação futebolística. Daí o fato de que a novela das oito na Globo ser protegida como um programa sagrado. Mas, concomitantemente, é preciso que exista uma liderança pessoal, e aí vem o populismo. Eu fico pensando que o advento do Lula em nossa vida política atual representou para os nossos oligarcas algo como ganhar o maior prêmio da megasena.

Cecília Luedemann - Depois do processo de redemocratização, com a entrada do PT no jogo político, e a transformação do Lula em alguém que poderia ser um Getúlio Vargas mais moderno, poderia ser um populista, foi feito um pacto capital e trabalho? É isso que nós estamos vendo hoje?
Hoje não existe mais organização do trabalho, o poder dos sindicatos é cada vez menor. Por outro lado, como disse, persiste nas camadas mais pobres do povo a mentalidade servil e a ausência de espírito comunitário.
Eu contesto essa palavra: redemocratização. Nós nunca tivemos democracia até hoje, porque democracia significa soberania popular, e soberania popular significa que o povo tem o poder supremo de designar os governantes, de fiscalizar a sua atuação, de responsabilizá-los, de demiti-los e de fixar as grandes diretrizes da ação estatal para o futuro.
É preciso ter instituições políticas para isso. Quais são? São várias. Qual é a lei maior? É a Constituição. A quem compete aprovar uma Constituição? Obviamente, a quem tem o poder supremo. Ora, o povo brasileiro nunca aprovou Constituição alguma. A Constituição atualmente em vigor já foi emendada, ou melhor, remendada até hoje 70 vezes. Em nenhuma dessas ocasiões o povo brasileiro foi chamado para dizer se concordava ou não com a emenda a ser introduzida na Constituição. É preciso começar, portanto, por dar ao povo o direito elementar de manifestar a sua vontade, através de referendos e plebiscitos. Ora, o que fizeram os nossos oligarcas? Puseram na Constituição, para americano ver, que referendos e plebiscitos são manifestações da soberania popular. Mas acrescentaram, em um dispositivo um tanto escondido que o Congresso Nacional tem competência exclusiva para “autorizar referendo e convocar plebiscito” (Constituição Federal, art. 49, inciso XV).
Como vocês veem, a nossa inventividade jurídica é extraordinária. Os deputados e senadores, eleitos pelo povo, são ditos seus representantes ou mandatários. Em lugar algum do mundo, em momento algum da História, o mandante deve obedecer ao mandatário. Bem ao contrário, este tem o dever de cumprir fielmente as instruções recebidas do mandante. Aqui, instituímos exatamente o contrário. O povo, dito soberano, só tem o direito de manifestar a sua vontade, quando autorizado pelos mandatários que escolheu...
Outro instrumento de verdadeira democracia, isto é, de soberania popular autêntica e não retórica, como a que sempre existiu no Brasil, é o recall, isto é, o referendo revocatório de mandatos eletivos. O povo que elege tem o direito de revogar o mandato do eleito, quando bem entender. Por exemplo, alguém se elege Prefeito e, antes de tomar posse, vai a cartório e lavra uma escritura pública pela qual se compromete a não renunciar ao cargo no curso do mandato. Dois anos depois, porém, renuncia ao cargo de Prefeito para se candidatar ao governo do Estado. Pois bem, se existisse entre nós o recall, tal como ocorre em nada menos do que 18 Estados da federação norte-americana, o povo daquele Município teria o direito de destituir o Prefeito que fez aquela falsa promessa.

Hamilton Octavio de Souza - Isso deveria entrar na reforma política que está sendo ensaiada há anos?
Pois, então, essa reforma política não se faz enquanto não se muda o centro de poder. Eu trabalhei seis anos no Conselho Federal da OAB. Isso que eu estou dizendo a vocês: desbloqueio de Plebiscito e de Referendos, facilitação de iniciativa popular, o recall, ou seja, o povo elege, o povo também institui. (...)

Hamilton Octavio de Souza – O senhor falou do povo ver reconhecidos os seus direitos. Como está esta situação dos direitos no Brasil? O que o senhor acha que funciona e o que não funciona?
Houve, sem dúvida, uma mudança nos últimos 30 anos, a partir do fim do regime militar. Mas, esse progresso é sempre lento, porque se faz sem organização. A função verdadeira dos partidos políticos deveria ser a formação do povo para que ele, povo, exercesse a soberania. É preciso, portanto, começar a criar outra espécie de partido político, que não persiga o poder para si, mas ajude o povo a chegar ao poder.
Nós temos no Brasil duas constituições. Pela Constituição oficial, “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas a Constituição real, a efetivamente aplicada, tem uma formulação diferente: “Todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem sempre em nome do povo, por meio dos representantes, por este eleitos”. Segundo ambas as fórmulas, o que conta é a impressão geral de que quem manda é o povo.

Hamilton Octavio de Souza - O senhor fala em formar novos partidos?
Exatamente. Hoje, no mundo inteiro, os partidos perderam a confiança popular. Li recentemente os resultados de uma pesquisa de opinião pública sobre confiança do povo em partidos políticos. Segundo essa pesquisa, no Brasil apenas 11% dos cidadãos confiam nos partidos. No mundo inteiro, ou seja, em 19 países onde foi feita a pesquisa, os partidos tinham a confiança de não mais do que 14% do povo. O que decorre, portanto, dessa pesquisa de opinião pública é que o povo passou a reconhecer que os partidos políticos agem em proveito deles próprios e não do povo. É indispensável e urgente, portanto, suscitar a criação de novos partidos políticos, com características verdadeiramente democráticas. Mas, isto é muito difícil, porque pressupõe uma mudança de mentalidade, o propósito de atuar politicamente em proveito do povo e não em benefício próprio.

Hamilton Octavio de Souza - O senhor falou em oligarquia, que nesse processo a oligarquia controla. O senhor chegou a dizer que a oligarquia é composta por empresários...
De militares também...

Hamilton Octavio de Souza - Militares, banqueiros e tal...
E do oligopólio empresarial dos meios de comunicação de massa. Ela conta, episodicamente, com o apoio de algumas instituições, como por exemplo a Igreja Católica.

Hamilton Octávio de Souza - Essa oligarquia, aqui, vem conseguindo se manter com o poder, no Brasil, apesar das mudanças, mas é ela que continua ainda sendo... quer dizer, ela tem um comando, ela tem uma orientação, ela está ligada ao que se chama capital internacional?
Ela tem, evidentemente, uma orientação muito firme. Veja, por exemplo, os meios de comunicação de massa. Quando eu era jovem, alguns professores diziam: “Meninos, vocês têm que ler todos os jornais do dia.” Os jornais eram muito diferentes uns dos outros. Hoje, os grandes jornais dizem exatamente a mesma coisa, têm todos a mesma orientação. Só muda o estilo e muda cada vez menos. O estilo dos grandes jornais tende a ser o mesmo. As revistas: há revistas mais sensacionalistas, há revistas nojentas no que diz respeito à defesa de privilégios, todos nós conhecemos, não é? Mas, todas elas são fundamentalmente defensoras do sistema capitalista e da ausência de democracia autêntica. É óbvio. A rede televisiva controlada pela Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, entrou recentemente em conflito com um grande jornal de São Paulo. Mas na defesa do sistema capitalista e do regime oligárquico, eles estão unidinhos.

(...)

Fabio Konder Comparato, Revista Caros Amigos, número 163, de outubro de 2010.

11 novembro 2010

Repetição

A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão...
Sigmund Freud

03 novembro 2010

José e Pilar



Nos cinemas do Brasil, nessa sexta-feira, mais um pouco de Saramago. É a estréia de José & Pilar, documentário produzido por Miguel Gonçalves Mendes sobre a relação do escritor português com sua esposa.

Certamente, boa dose de poesia, literatura e inteligência por poucos reais.


Trintão


Pra quem não conhece, a velhinha é a mulher
do Edibar

28 outubro 2010

TRANSCENDENTALIZADO!

Que a brevidade do texto que segue não comprometa o sentimento de amizade que a ele incumbi.




Reconhecimento é a chave do crescimento. Reconhecer é transcender, elevar-se. E, para chegar onde quero, é preciso reconhecer.

Clube Atlético Paranaense. Grande Clube brasileiro, de conquistas notoriamente reconhecidas, foi agigantado por um certo Cabral. Jofre foi um dos responsáveis por esse crescimento. E, como mito, cicatrizou o nome Cabral na história.

Alguns anos depois, um outro Cabral, descendente daquele, faz o mesmo. Atleticano por natureza, amigo dos amigos, companheiro incansável, ele escreve seu nome na história desses que têm o prazer de conviver ao seu lado.

E não há como separar o Amigo do Altético. O Atlético do Amigo. Eles se misturam, fundem-se numa coisa só. Por isso, agradecer a amizade do Ricardo é reconhecer a importância do Altético, e transcender ao clubismo que por muito tempo me acompanhou.

Hoje, posso dizer que sou COXA graças à um certo Cabral, Atleticano e Presidente memorável. E, por ser amigo de outro Cabral, Atleticano como Jofre, sou alguém melhor.

Certa vez alguém disse que para sermos bons temos que ter ao nosso lado pessoas melhores que nós. E Deus me agraciou com pessoas melhores que eu ao meu lado!

Portanto, obrigado, Cabralzinho, por ser uma dessas pessoas e, ainda assim, meu amigo. E parabéns pelo aniversário! Que possamos, juntos, comemorar outros 80 anos de AtleTibas inesquecíveis e amizade inabalável! No mínimo.

Os 'parabéns para você' têm um ritmo conhecido e aclamado por tantos e tantos rubronegros:





Consciência

21 outubro 2010

Os perigos da TPM

BRIGA PELO PODER

*aproveitando a deixa do post abaixo e apresentando uma outra forma de ver as coisas...


Grandes publicações, cercadas de interesses particulares, tentando FAZER A CABEÇA da opinião pública.






É... acho que alguém vai se dar mal nessa!

18 outubro 2010

16 outubro 2010

14 outubro 2010

Tudo de bom!


A maior pesquisa sobre sexo já feita nos Estados Unidos levantou alguns dados muito interessantes sobre a sexualidade feminina dessa população tão conservadora. Apesar de terem a liberdade de expressão e pensamento como o principal pilar da sua democracia, os EUA são caracterizados por terem um povo, em sua maioria, puritano.

Independente disso, os dados levantados são bem concretos e revelam uma sociedade que volta a se soltar, após a grande repressão conservadora sofrida nos anos 70 e 80. Apesar dos pesquisadores não poderem levar em conta o fato de que muitas pessoas mentem para si próprias e logicamente não falariam a verdade em uma pesquisa, eles conseguiram, mesmo assim, levantar com propriedade a verificação concreta de que, no século XXI, a liberdade sexual feminina finalmente voltou a reinar.

Hoje, as mulheres não fazem somente mais sexo, de melhor qualidade e com mais parceiros ou parceiras. Elas foram mais além. A pesquisa verificou que as mulheres americanas conseguiram desmistificar vários tabus sexuais que nem a geração dos hippies da década de sessenta deram conta. Agora elas estão em busca de seu próprio prazer e não de agradar seus homens. Ou seja, a infidelidade cresceu progressivamente no universo feminino, assim como outras práticas sexuais.
7% das mulheres não se vêem como heterossexuais, 14% já praticaram sexo oral em outra mulher e uma proporção maior admitiram já terem feito algum ato sexual com alguém do mesmo sexo. Demonstraram assim que as mulheres da sociedade ocidental superaram o preconceito de ter atração por outra mulher e admitiram gostar disso. Nada mais normal, já que elas são tudo de bom.

Mais uma constatação interessante da pesquisa foi a verificação que o sexo anal tem sido experimentado e praticado constantemente por quase um 1/4 da população feminina. Essa proporção saiu de 10% em 1994, para 22% em 2009. Um crescimento tão grande que aponta uma clara tendência.

Essas informações certamente refletem o que ocorre não somente nos Estados Unidos, mas em todo o Ocidente e demonstram que ainda nos resta esperança, já que as mulheres, invariavelmente, vão dominar o mundo assim que se desprenderem do restante de seus tabus e preconceitos, sejam eles sexuais ou sociais.

A verdadeira Tropa de Elite


No último fim de semana estreiou nas telonas nacionais o filme Tropa de Elite 2. Pela divulgação feita, imagino não ser esta uma notícia nova. E, como a notícia, aqueles que encararem a Tropa, virão que o filme não tráz nenhum assunto novo - mas mesmo assim, inevitalvelmente, ficarão perplexos.

Perplexidade. Termo exato para traduzir o sentimento causado pelo EXTRAORDINÁRIO (e talvez o melhor) filme nacional já realizado.

A maioria dos que viram o primeiro filme esperava o 'mais do mesmo', que certamente seria bem vindo pelo público geral. Meu conselho: não contem com isso! A ação explícita do Tropa 1 internaliza-se, produzindo um caos recolhido, interior, e para mim sem precedentes.

Papai Noel não existe. Coelho da Páscoa também não. Nem a Fada dos Dentes, Duendes ou Unicórnios. Esqueça! É basicamente o que o filme fala, para essas crianças que somos nós. E choca! Deixa-nos órfãos, impotentes. Mas nos dá a dica: o segredo, parceiro, é o voto!


Tudo gira em torno do poder político. Os interesses dos governantes, como tentáculos, abraçam os meios de comunicação, o conteúdo passado em sala de aula, as decisões do judiciário, a nossa segurança, as leis que são criadas... tudo! Estamos a mercê do monstro, e a ossa única arma contra ele é o voto.

Assistam Tropa de Elite 2. Apenas assistam. Não pela perfeição técnica com que a obra foi produzida, nem pelas atuações brilhantes dos atores, ou tampouco pelo roteiro dinâmico e impressionante. Vá ao cinema pela cidadania, por patriotismo. Esse filme, brasileiro como nós, mostra a nossa realidade que não queremos ver. Então vá, não peça prá sair. Essa pica agora é sua, parceiro! Mas vá de cabeça aberta, para que toda essa raiva, essa indignação contida, extravase e acabe contaminando os seus pares. E, junto, todo o nosso desapontamento exploda nas urnas, mudando o destino desse nosso país.