30 agosto 2010

Cléo Pires & Fernando Pessoa


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Fernando Pessoa

19 agosto 2010

It´s about the Journey

NÃO, NÃO TEM!



Aí Tem

As coisas são como são. Se alguém diz que está calmo, é porque está calmo. Se alguém diz que te ama, é porque te ama. Se alguém diz que não vai poder sair à noite porque precisa estudar, está explicado. Mas a gente não escuta só as palavras: a gente ouve também os sinais.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava frio como um iglu. Você falava, falava, e ele quieto, monossilábico. Até que você o coloca contra a parede: "O que é que está havendo?". "Nada, tô na minha, só isso." Só isso???? Aí tem.

Ele telefonou na hora que disse que ia ligar, mas estava exaltado demais. Não parava de tagarelar. Um entusiasmo fora do comum. Você pergunta à queima-roupa: "Que alegria é essa?" "Ué, tô feliz, só isso". Só isso????? Aí tem.

Os tais sinais. Ansiedade fora de hora, mudez estranha, olhar perdido, mudança no jeito de se vestir, olheiras e bocejos de quem dormiu pouco à noite: aí tem. Somos doutoras em traduzir gestos, silêncios e atitudes incomuns. Se ele está calado demais, é porque está pensando na melhor maneira de nos dar uma má notícia. Se está esfuziante demais, é porque andou rolando novidades que você não está sabendo. Se ele está carinhoso demais, é porque não quer que você perceba que está com a cabeça em outra. Se manda flores, é porque está querendo que a gente facilite alguma coisa pra ele. Se vai viajar com os amigos, é porque não nos ama mais. Se parou de fumar, é uma promessa que ele não contou pra você. Enfim, o cara não pode respirar diferente que aí tem.

Às vezes não tem. O cara pode estar calado porque leu um troço que mexeu com ele, ou está falando muito porque o time dele venceu. Pode estar mais carinhoso porque conversou sobre isso na terapia e pode estar mais produzido porque teve um aumento de salário. Por que tudo o que eles fazem tem que ser um recado pra gente?

É uma generalização, mas as mulheres costumam ser mais inseguras que os homens no quesito relacionamento. Qualquer mudança de rota nos deixa em estado de alerta, qualquer outra mulher que cruze o caminho dele pode ser uma concorrente, qualquer rispidez não justificada pode ser um cartão amarelo. O que ele diz importa menos do que sua conduta. Pobres homens. Se não estão babando por nós, se tiram o dia para meditar ou para assistir um jogo de vôlei na tevê sem avisar com duas semanas de antecedência, danou-se: aí tem.

Martha Medeiros

13 agosto 2010

Vivemos em uma Democracia?

A pergunta do título é um tanto quanto paradoxal, mas, ao acompanharmos o horário eleitoral e as campanhas publicitárias dos candidatos, que, em tese, deveriam ser sérias tendo em vista a pretensão dos candidatos em representar o povo brasileiro, percebemos que as mensagens têm conteúdo superficial, ridículo e muitas vezes grotesco. Estilos de mensagem utilizadas, normalmente, para entreter e fazer rir. Sendo assim, difícil precisar se a eleição é uma comédia ou é séria.
Como se não bastasse vivermos em uma democracia fictícia, em um país com um dos maiores níveis de corrupção do mundo e com tão grande disparidade social, ainda temos que ver um político fazer piada enquanto pede nosso voto de confiança.
Isso só é pior se analisado do ponto de vista prático. Lógico é que existe uma resposta positiva do receptor da mensagem, pois, em caso contrário, não existiriam tantos "palhaços" no horário eleitoral. Isso retorna ao ponto importantíssimo ressaltado pelo saudoso José Saramago, nesse discurso, que vale repetir.


Será que vivemos efetivamente numa democracia conforme o conceito que aprendemos na escola? Penso que estamos muito longe disso. Tal fato fica muito claro quando um cidadão vota em outro por considerar sua campanha engraçada. Na verdade, essa democracia é feita pelo número de minutos no horário eleitoral ou pelo tamanho do caixa dois que dará possibilidade em comprar mais exposição na mídia. Bela representatividade democrática!

Não é por nada que o voto é obrigatório. Caso fosse facultativo, a maioria das pessoas que votariam estariam interessadas em analisar propostas e condutas de candidatos para escolher quem pudesse melhor representá-las e quem não quisesse fazer isso simplesmente ficaria em casa assistindo televisão, deixando de atrapalhar o processo. Mas decididamente isso é uma das últimas coisas que nossos políticos querem.
Para melhor demonstrar a alarmante condição da cidadania brasileira, seguem três videos. O primeiro é uma compilação da eleição passada, com os melhores piores momentos.


O segundo e terceiro são dessa eleição, mas já entraram na lista de piores vídeos publicitários de todos os tempos. O site do infeliz é esse aqui.





Tudo parece muito engraçado, mas não é!

12 agosto 2010

62 anos depois de um fora

I M P E R D Í V E L




Dia 06, sexta-feira passada, estreiou em Curitiba o mais novo filme do diretor Christopher Nolan: Inception / A Origem.

O diretor, já aclamado pela crítica com 'Amnésia' (2000), ficou mais conhecido do grande público quando dirigiu 'Batman Begins' (em 2005) e 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' (2008). Além desses, dirigiu 'Following' (1998), 'Insônia' (2002) e 'O Grande Truque' (2006).

Nunca tinha me atentado para Nolan e seus bons filmes. Mas foi impossível não se perguntar quem foi capaz de dar vida ao extraordinário "A Origem".

Não citarei detalhes, tanto para manter a curiosidade quanto para não estragar o impacto que o filme causa. Mas posso dizer que fiquei impressionado com cada um dos 148 minutos que passei olhando para a tela do cinema. Impressionado como não ficava há muito, muito tempo!

Fica a sugestão. Assistam 'A Origem'! Principalmente aqueles que gostam de psicologia, de filosofia... de ótimos filmes!

Postarei o trailler, abaixo, que em nada comprometerá a experiência surpreendente que terão os que seguirem meu conselho e forem ao cinema. Mas antes, as últimas dicas: não assistam nada que trate deste filme além do trailler abaixo. Não leiam críticas, não ouçam comentários. Deixem-se sonhar!





11 agosto 2010

Quem matou Getúlio Vargas?

“A direita tentou dar um golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar neste país. Foram oito anos de ataques, provocações e infâmias. Eu mandei dizer a essa elite: vocês mataram Getúlio (Vargas), obrigaram (João) Goulart a renunciar e o Jânio Quadros durou seis meses. Se quiserem me enfrentar, não vou estar no meu gabinete lendo o jornal de vocês. Estarei nas ruas conversando com o povo brasileiro!” – presidente Lula em comício no ginásio Gigantinho de Porto Alegre. Fonte: Leila Suwwan in O Globo, 30 de julho de 2010.

É verdade que “a elite” existe, é verdade que “a elite” é dona de jornais, é verdade que “a elite” luta pelo poder o tempo todo. Porém, não é verdade que “a elite” matou Getúlio Vargas, não é verdade que “a elite” obrigou João Goulart a renunciar, não é verdade que “a elite” fez Jânio Quadros durar seis meses. Pior que “a elite”, mais forte que “a elite” é o que o genial Sigmund Freud descobriu em sua clínica depois de 50 anos de trabalho diário escutando gente doída, gente quebrada, gente dividida, gente sofrida demais, e que denominou de “pulsão de morte”. O que é a pulsão de morte? É uma força avassaladora do sujeito contra si mesmo, uma força de ataque 24 horas por dia, trabalhadora sem descanso, nem dó nem piedade, uma força sabotadora, força sacaneadora, força que vai contra o ideal aristotélico de que o ser humano busca o bem, busca a felicidade. Errado. O ser humano busca se ferrar o tempo todo, se machucar, se perder, se danar – sem querer...querendo. Getúlio Vargas fez isso ao se tornar um ditador fascista, João Goular fez isso ao construir sem saber e sem querer – essa força é inconsciente – a sua própria queda e Jânio Quadros fez isso ao renunciar. Este, pelo menos, distinguiu vagamente o problema. Chamou de “forças terríveis” a autora de sua trapalhada. A pulsão de morte é esse terrível na cara, no dia-a-dia, à vista o tempo todo – porém, disso, o sujeito nada quer saber – prefere acreditar na genética, se entupir com comprimidos e se benzer com rezas. Senhor presidente: não se combate essa força indo falar com o povo brasileiro – que sofre do mesmo mal. Essa força, senhor presidente, só com análise. À disposição, senhor presidente.
Blog de Leonardo Ferrari

09 agosto 2010

DOSTOIÉVSKI, OBRIGADO




Para os incrédulos na instituição, ou na religião institucionalizada, mas que, diferentemente dos ateus, crêem em algo maior, mais forte, num Deus ou Energia, postamos um trecho retirado do livro 'O Idiota', de Dostoiévski, onde o personagem principal, o príncipe Míchkin, acusa o catolicismo de anticristão, não sem criticar o ateísmo também. Aí vai sua opinião sobre o catolicismo:

- Primeiramente é uma religião anticristã (…) – Em segundo lugar, o catolicismo é até pior do que o ateísmo, na minha opinião. Sim, esta é a minha opinião. O ateísmo apenas nega, ao passo que o catolicismo falseia o Cristo, calunia, difama e se opõe ao Cristo. Prega o anticristo! Declaro e assevero que prega o anticristo. Esta é a convicção a que cheguei e que me atribulou. O catolicismo romano não consegue sustentar a sua posição sem uma política universal de supremacia e exclama “Non possumus!” (não podemos!*). Assim, a meu ver, nem religião é, mas tão somente uma espécie de tentativa de continuação do Império Romano Ocidental; e tudo nela está subordinado a esta idéia, começando mesmo pela fé. O Papa se apoderou da terra, seu trono terrestre, e empunhou o gládio. Desde então tudo continuou da forma antiga, sendo que à espada, ao gládio, eles juntaram a mentira, a fraude, o embuste, o fanatismo, a superstição e a vilania. Divertiram-se com os mais santos, mais sinceros e mais ferventes sentimentos do povo. Trocaram tudo, tudo, pelo dinheiro, pela vil força terrena. E não é justamente isso que ensina o Anticristo? Como poderia o ateísmo deixar de provir dele? O ateísmo emergiu do próprio catolicismo romano! Este gerou aquele. Começou pelos seus adeptos: poderiam eles crer em si próprios! Um se fortaleceu com a reação contra o outro. Um se fortaleceu contra o outro. Um foi procriado pela mentira e pela incapacidade espiritual do outro. Ateísmo! Entre nós são só as chamadas classes excepcionais que não crêem, aquela camada que conforme tão bem se expressou Evguénii Pávlovitch [um dos personagens do romance], perdeu as suas raízes. Mas aí pela Europa uma formidável massa de gente está começando a perder a fé, um pouco por causa da treva e da mentira e muito, principalmente agora, por causa do fanatismo e do ódio da igreja e da cristandade. (O Idiota, Dostoiévski, Fiódor. Editora Martin Claret, trad.: José Geraldo Vieira, 2006)

05 agosto 2010

Porque metade de mim é amor...



Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também


Mulheres 100% hetero


Você acha que a orientação sexual pode mudar com o tempo? Pelo menos para as mulheres, segundo dois estudos recentes, a resposta é sim. Baseados em entrevistas várias mulheres heterossexuais que mudaram de orientação sexual, os pesquisadores de um dos estudos concluiram que nem sempre se trata de “sair do armário”, mas que “há uma grande chance de mulheres heterossexuais simplesmente sentirem-se atraídas por outras na idade adulta”. O outro estudo acompanhou mulheres que diziam ter algum nível de atração pelo mesmo sexo. No decorrer de uma década, dois terços mudaram sua orientação sexual: as que se diziam bissexual se tornaram lésbicas e as que se diziam lésbicas se tornaram heterossexuais. A conclusão dos pesquisadores é a de que a orientação sexual feminina é menos concreta do que a dos homens, a velha história de que não existe mulher 100% hetero.
Sexpedia

Já dizia Vivaldi:
La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento
E di pensiero.

02 agosto 2010

A CARTA NO CAMINHO



Adeus, mas comigo
será, irá dentro
uma gota de sangue circulando em minhas veias
ou fora delas, um beijo que queima o meu rosto
ou cinturão de fogo na minha cintura.
Minha doce, recebe
o grande amor que saiu da minha vida
e que em você não encontrava abrigo
como o explorador perdido
nas ilhas do pão e do mel.
Encontrei-a depois da tempestade
a chuva lavou o ar
e na água seus doces pés brilhavam como peixes.

Amada, estou indo para os meus combates.

Cave a terra para fazer uma caverna
e ali o seu capitão
estará esperando com flores nos lençóis.
Não pense mais, minha doce,
no tormento
que
aconteceu entre nós,
como um fósforo aceso.
Deveríamos, talvez, deixar essa sua queimadura.
A paz chegou, também, porque eu voltei
a lutar em minha terra.
E como eu tenho coração completo
com a parte do sangue que você me deu
para sempre,
e como
levo
as mãos cheias de seu ser despido
Olhe-me
Olhe-me
Veja-me através do mar, que vou radiante
Veja-me através da noite em que navego,
e do mar e da noite são seus olhos.
Eu não te deixei quando fui embora.
Agora vou dizer-te:
minha terra será sua
irei conquistá-la
não só para te dar,
mas para todos
para todos os meus.
O mal sairá desta torre um dia.
E o invasor será expulso.
Todos os frutos da vida
crescerão em minhas mãos
usadas antes da pólvora.
E saberei tocar novas flores
porque você me ensinou a ternura.
Minha doce amada,
venha comigo lutar corpo a corpo
porque em meu coração vivem seus beijos
como bandeiras vermelhas
e se eu cair, não serei sozinho
a terra não me cobrirá
sem esse grande amor que me trouxe
e que viveu circulando em meu sangue.
Venha comigo,
nessa hora eu te espero,
nessa e em todas as horas,
em todas as horas te espero.
E quando a tristeza, que eu odeio,
bater à sua porta
diga que eu te espero
E quando a solidão quiser mudar
o meu nome que está escrito em seu anel
Diga para a solidão que fale comigo
Diga que tive que ir embora
porque
sou um soldado
e que onde eu estiver,
na chuva ou sob
fogo,
meu amor, eu vou te esperar,
Esperarei nos piores desertos
ou junto a um limoeiro florecido
Em todas as partes onde houver vida,
Onde a primavera nascer,
meu amor, eu te esperarei.
Quando disserem: "Esse homem
não te ama ", lembra que
meus pés estarão sós nessa noite e buscarão
os doces e pequenos pés que eu adoro.
Amor, quando te disserem
que te esqueci, e mesmo quando
eu disser,
não acredite em mim
Quem e como poderíam
cortar você do meu peito?
E quem receberia
meu sangue
quando sangraria por você?
Mas eu não posso
esquecer os meus.
Vou lutar em cada rua,
por trás de cada pedra.
Seu amor também me ajuda:
É uma flor fechada
que sempre se enche de aroma
e de repente se abre
dentro de mim como uma grande estrela.

Meu amor, é noite.

A água negra, o mundo
adormecido ao meu redor.
Logo virá o amanhecer
e enquanto isso eu estou escrevendo
para dizer "te amo".
Para dizer "eu te amo, cuide-se,
limpe-se,
defende
o nosso amor, Alma Minha.
Eu o deixei como se deixasse
um punhado de terra com sementes.
Do nosso amor nascerão vidas.
No nosso amor beberão água.
Talvez chegará um dia
em que um homem
e uma mulher, como
nós,
tocarão esse amor, e ele ainda terá força
para queimar as mãos de quem tocá-lo.
Quem o tocará? Importa?
Tocarão este fogo
e este fogo, minha doce, dirá apenas o seu nome
e o meu nome
para que só você sabia, porque só você
na Terra sabe
quem eu sou, e porque ninguém me conhece
como a palma das suas mãos
porque ninguém
sabe como e nem quando
meu coração estava ardendo:
tão só
seus grandes olhos castanhos que eu conhecia,
a boca,
sua pele, seus seios,
seu ventre, seu interior
e a alma que eu despertei
para ficar
cantando até o fim da vida.

Amor, eu espero.

Adeus, amor, eu espero.

Amor, amor, eu espero.

E assim, esta carta é concluída
sem tristeza:
meus pés estão firmes na terra,
a minha mão a escrever esta carta na estrada,
e no meio da vida estarei,
sempre,
junto com meus amigos, enfrentando o inimigo,
com o seu nome na boca
e um beijo que jamáis
se afastou da nossa casa.



Pablo Neruda