26 fevereiro 2008

Três últimos desejos

Quando, à beira da morte, Alexandre Magno convocou seus principais Generais para lhes revelar seus três últimos desejos, que foram:

1° - que meu caixão seja transportado pelas mãos dos mais reputados médicos;

2° - que seja espalhado no meu caminho até o túmulo, todo o tesouro que conquistei;

3° - e que minhas duas mãos sejam deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.

Um dos seus Generais, admirado, perguntou a Alexandre qual a razão desses desejos.

Alexandre, então, explicou:
Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar aos presentes que médicos não podem curar a morte.

Quero que o chão seja coberto pelo meu tesouro para que possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem.

E quero que minhas mãos balancem ao vento, para que as pessoas possam ver que, apesar de tudo, todos partem de mãos vazias.

25 fevereiro 2008

Sabedoria

“O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
Minha palavra é como as estrelas - elas não empalidecem.
Como é possível comprar ou vender o céu, ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade da água, como vocês poderão comprá-los?
Cada parte desta terra é sagrada para meu povo.
Cada arbusto brilhante do pinheiro, cada porção de praia, cada bruma da floresta escura, cada campina, cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo.
Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra, e ela é parte de nós. O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada.
A água brilhante que se move nos rios e riachos não é apenas água, mas o sangue dos nossos ancestrais. Se lhe vendermos nossa terra, vocês deverão lembrar-se de que ela é sagrada. Cada reflexo espectral nas claras águas dos lagos fala de eventos e memórias na vida do meu povo. O murmúrio da água é a voz do pai do pai do meu pai.
Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das assa de um inseto. Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende; o barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.
Se lhe vendermos nossa terra, lembrem-se de que o ar é precioso para nós, o ar partilha seu espírito com toda a vida que ampara. O vento, que deu ao nosso avô seu primeiro alento, também recebe seu último suspiro. O vento também dá às nossas crianças o espírito da vida. Assim, se lhes vendermos nossa terra, vocês deverão mantê-la à parte e sagrada, como um lugar onde o homem possa ir apreciar o vento, adocicado pelas flores da campina.
Ensinarão vocês às suas crianças o que ensinamos às nossas? Que a terra é a nossa mãe? O que acontece à terra acontece à todos os filhos da terra.
O que sabemos é isto: a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra. Todas as coisas estão ligadas, assim como o sangue nos une a todos. O homem não teceu a rede da vida, é apenas um dos fios dela. O que quer que faça à rede, fará a si mesmo.
Uma coisa sabemos: nosso deus é também o seu deus. A terra é preciosa para ele e magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador.
O destino de vocês é um mistério para nós. O que acontecerá quando os búfalos forem todos sacrificados? Os cavalos selvagens todos domados. O que acontecerá quando os cantos secretos da floresta forem ocupados pelo odor de muitos homens e a vista dos montes floridos for bloqueada pelos fios que falam? Onde estarão as matas? Sumiram! Onde estará a águia? Desapareceu! E o que será dizer ao pônei arisco e à caça? Será o fim da vida e o início da sobrevivência.
Quando o último pele-vermelha desaparecer, junto com sua vastidão selvagem, e a sua memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo sobre a planície… estas praias e estas florestas ainda estarão aí? Alguma coisa do espírito do meu povo ainda restará?
Amamos esta terra como o recém-nascido ama as batidas do coração da mãe. Assim, se lhes vendermos nossa terra, amem-na como a temos amado. Cuidem dela como temos cuidado. Gravem em suas mentes a memória da terra tal como estiver quando a receberem. Preservem a terra para todas as crianças e amem-na como Deus nos ama a todos.
Assim como somos parte da terra, vocês também são parte da terra. Esta terra é preciosa para nós, também é preciosa para vocês. Uma coisa sabemos: existe apenas um Deus. Nenhum homem, vermelho ou branco, pode viver à parte.
Somos irmãos acima de tudo”.
Carta do Chefe Seattle ao Presidente dos E.U.A. em 1854.

23 fevereiro 2008

Coragem

“Sou uma pessoa terrivelmente corajosa, porque não espero nada de coisa nenhuma. Não tenho religião, não tenho partido político. Vivo em paz com meu critério moral. Vivo em paz com minha consciência.”
Carlos Drummond de Andrade

O Início, o Fim e o Meio

A Bhagavad Gita - A Canção do Senhor - é um texto religioso Hindu. Faz parte do épico Mahabharata, embora seja de composição mais recente que o todo deste livro. Na versão que o inclui, o Mahabharata é datado no Século IV a.C..
O texto, escrito em sânscrito, relata o diálogo de Krishna com Arjuna (seu discípulo guerreiro) em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na ciência da auto-realização.
A obra foi traduzida e comentada pelo erudito indiano, dando origem ao Bhagavad-Gita - Como ele é, contendo os principais ensinamentos da dogmática vaishnava e instruções do serviço devocional a Krishna. Nestes preceitos, o livro apresenta a ciência da auto-realização e da consciência em Krishna através do serviço devocional e da bhakti-yoga.
O Bhagavad-Gita é a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maiores clássicos de filosofia e espiritualidade do mundo. A filosofia perene do Bhagavad-Gita tem intrigado a mente de quase todos os grandes pensadores da humanidade, tendo influenciado de maneira decisiva inúmeros movimentos espiritualistas.

19 fevereiro 2008

Sofrimento

"O sofrimento nos ameaça de três lados:
do próprio corpo que, destinado à ruína e à dissolução, não pode passar sem dor e angústia como sinais de alarme;
do mundo exterior, que pode abater suas fúrias sobre nós com forças hiperpotentes, sem piedade, destrutivas;
e, finalmente, dos vínculos com outros seres humanos. Ao sofrimento que chega desta fonte, o sentimos talvez como o mais doloroso de todos. Tendemos a percebê-lo como um acréscimo, de certo modo supérfluo, ainda que não seja menos inevitável nem obra de um destino menos fatal que os outros sofrimentos. "
Sigmund Freud - O Mal-Estar na Cultura

17 fevereiro 2008

14 fevereiro 2008

A Verdade

Aristóteles e o busto de Homero - Rembrandt, em 1653.

"Seria melhor, talvez, considerar o bem universal e discutir a fundo o que se entende por isso, embora tal investigação nos seja dificultada pela amizade que nos une àqueles que introduziram as Idéias. No entanto, os mais ajuizados dirão que é preferível e que é mesmo nosso dever destruir o que mais de perto nos toca a fim de salvaguardar a verdade, especialmente por sermos filósofos ou amantes da sabedoria; porque embora ambos nos sejam caros, a piedade exige que honremos a verdade acima de nossos amigos."
Aristóteles

11 fevereiro 2008

A ditadura da pedagogia

(...)
Reconhecer a necessidade de uma teoria do aprendizado não implica esquecer que o propósito primeiro deste processo é aprender. No Brasil, contudo, esta atividade-meio (a pedagogia) – o estudo do processo do aprendizado, uma forma de ajudar o professor a ensinar melhor – substituiu a atividade-fim do ensino, que é o aprendizado. O ensino está nas mãos dos pedagogos, não dos professores.

(...)

Na prática, a entrega do sistema educacional aos pedagogos, como qualquer substituição de uma atividade-fim por uma atividade-meio, leva à decadência da atividade-fim. Imaginemos que, em um surto de loucura, o mesmo ocorresse em outra área. Bom, para que uma fábrica de automóveis funcione, é preciso que ela tenha um serviço de limpeza eficiente. Os faxineiros têm que saber, por exemplo, que não podem aspergir desengraxante nas engrenagens de uma máquina, que há peças pequenas que não podem ser jogadas fora etc. Sem um bom serviço de limpeza, a fábrica acaba parando.

Do mesmo modo, sem que se tenha uma noção real de como se aprende, um professor não tem como ensinar; lembro-me de um professor que tive, que passava as aulas recitando um caderno com o texto que ele havia escrito. Na prova, cobrava apenas que completássemos as lacunas. Lacunas aleatórias, a completar de modo preciso: quem escrevesse “mas” no lugar de “porém” errava a questão; só passava quem decorasse inteirinho o tal caderno. Este sujeito precisaria de noções de pedagogia real.

Mas e se a fábrica decidisse que os faxineiros, com sua atividade-meio, coordenassem tudo, em detrimento da atividade-fim de produção? E se os faxineiros, com suas prioridades e interesses, fossem os gerentes da fábrica? Não sairia um só automóvel da linha de montagem, mas a fábrica estaria sempre limpinha, brilhante mesmo... Pois bem, pedagogos dirigindo o ensino são como faxineiros tomando conta da fábrica de automóveis: ninguém aprende nada, mas que auto-estima têm os alunos!

Ao cabo dos 12 ou 13 anos que passam nos bancos escolares, a regra é os alunos saírem analfabetos funcionais, mas com uma auto-estima grande o suficiente para acharem que merecem prêmios por simplesmente existir e um compromisso pessoal com uma “mudança de paradigma” – não que saibam qual era o anterior, ou sequer o que venha a ser um paradigma, mas aí já seria querer demais, não é mesmo? Aprender palavras difíceis já pareceria demais com o temido ensino tradicional..."
Carlos Ramalhete, na Gazeta do Povo de 11/02/2008.

05 fevereiro 2008

Sentir

Narciso feito com sucata, de Vik Muniz - inspirado no Narciso de Caravaggio.
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"Eu desenho com açúcar. Eu desenho com fios, linhas, coisas com as quais são muito difíceis de se fazer representações. Eu não quero que as pessoas simplesmente vejam a representação de algo. Eu quero que elas sintam como isso acontece. O momento daquela incorporação que eu considero uma experiência espiritual."
Vik Muniz

Caravaggio