31 dezembro 2010

Por um 2011 ainda melhor

Pode ser que 2010 nao tenha sido dos melhores. Pode ser que nao tenhamos conquistado aquele emprego, passado no concurso, comprado o carrro ou o novo ap. Pode ser que nao estejamos mais com aquela pessoa ou que alguem muito importante nao seguira conosco em 2011. Nao ganhamos a Copa, a Marina nao sera a proxima presidente e a minha conta so diminuiu.

Mas, entre mortos e feridos, ca estamos! Melhores ou piores, estamos aqui! E um novo ciclo comeca, com novas chances, oportunidades e, principalmente, emocoes. Sim, novas emocoes, novas possibilidades.

Pelo ano que passou, agradeco a todos que estiveram ao meu lado. E para o que vira, desejo o melhor, do fundo do coracao. Estarei aqui por voces!

14 dezembro 2010

Às vezes

Às vezes ouço passar o vento;

e só de ouvir o vento passar,

vale a pena ter nascido.

Fernando Pessoa

11 dezembro 2010

08 dezembro 2010

Chamar a Si Todo o Céu com um Sorriso



que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso


Edward Estlin Cummings

03 dezembro 2010

10 anos

Quando chegou a Lisboa para disputar a Masters Cup, Gustavo Kuerten sabia que podia sair do torneio como número 1 do mundo. Sabia também que suas chances eram pequenas. A vantagem era de Marat Safin, que liderava a Corrida dos Campeões (ranking que levava em conta apenas os pontos conquistados na temporada) e nem precisava levantar o troféu para fechar a temporada no topo do ranking.

As condições também favoreciam o russo. O torneio era disputado em quadra dura e coberta, em que Guga jamais havia conquistado um título na carreira. A hipótese de o brasileiro ultrapassar o russo em Lisboa era tão improvável que a ATP, entidade que organiza o circuito mundial, já preparava uma celebração para o russo.

Para piorar, logo no primeiro jogo do dia, o russo derrotou o espanhol Alex Corretja. Guga, que fez a última partida, vencia Andre Agassi, mas sentiu dores na coxa e nas costas e acabou derrotado.

Diante da possibilidade de não voltar a jogar por causa da contusão e ceder seu lugar no torneio para o sueco Thomas Enqvist, Guga pediu à direção do torneio o máximo de tempo possível para descansar. A organização colaborou: o brasileiro ganhou folga na quarta-feira e só voltaria a atuar no último jogo de quinta contra Magnus Norman.

- Lembro que aquele dia eu fiquei umas duas horas no fisioterapeuta, e depois fiz todos tipos de tratamento possível, desde massagem até medicação, antiinflamatório, banheira, gelo, calor, tudo até umas 3h, 4h da manhã - conta Guga. - Bati uma meia hora e foi estranho. Tudo que eu estava fazendo ali estava dando certo. Batia uma bola de direita, acertava. "Vamo de esquerda, aqui tá bom. Aqui tá bom, aqui tá bom...". Tudo que eu fazia, eu consegui fazer no mínimo de tempo possível e numa forma muito boa. Fui dormir com bastante certeza que eu poderia jogar. Eu não tinha nenhuma convicção de que poderia ter uma boa performance, mas deu para sentir que eu ia poder estar dentro da quadra pelo menos. A vitória sobre Magnus veio de maneira fácil e rápida, impressionando a todos que assistiram.

Essa séria lesão, o retrospecto apenas mediano em quadras duras e cobertas, a necessidade de derrota do russo antes da final, os adversários do nível de Andre Agassi e Pete Sampras... Tudo levava a crer que Gustavo Kuerten deixaria a Masters Cup de Lisboa, no ano 2000, na vice-liderança do ranking.

Mas o catarinense nunca foi de desistir rápido de seus objetivos. E chegou, naquele domingo, dia 3 de dezembro, exatos dez anos atrás, ao ponto de ter o seu maior objetivo, o topo do ranking mundial, ao alcance de seus saques, forehands, backhands, slices e voleios.

Agora só bastava uma vitória sobre Agassi. Tarefa ingrata, sim, mas que já não parecia improvável. Nos últimos três dias, afinal, Guga havia derrotado Magnus Norman, Yevgeny Kafelnikov e Pete Sampras. Faltava um jogo, contra o mesmo americano que o derrotou na primeira partida daquela semana mágica. Tal tarefa, porém, era das mais difíceis: derrotar Pete Sampras e Andre Agassi em dias consecutivos, algo que ninguém jamais havia conseguido. Então bicampeão de Roland Garros, o brasileiro viu a chance, agarrou-a com toda a força e fez, naquele domingo, o melhor jogo de sua vida.

E a vitória veio com um triplo 6/4 em 2h06m, com 19 aces executados e sete break points salvos, sem ceder uma quebra. Sem deixar Agassi, ex-número 1 do mundo, respirar. Guga, enfim, chegava ao topo do mundo.

- Eu diria que esse jogo, abreviando, foi a melhor performance que tive como profissional. Analisando toda a figura, lidar com tudo aquilo que requer a situação, foi o maior rendimento que eu tive, não tenho dúvida. Ali eu tinha ainda algumas incertezas, mudanças recentes no meu estilo de jogo naquela quadra, uma restrição física... Tinha o lance de enfrentar caras como Agassi e Sampras naquele piso, em que eu nunca tinha ganhado torneio e ainda era algo angustiante para mim... Para ser número 1 do mundo, lidar com essa expectativa, jogando contra esse nível de caras, não dando nenhuma oportunidade... Para traduzir, foi um planejamento de A a Z, e consegui executar todas as tarefas em grau 9, 10. Foi muita eficácia de todas as formas - lembra Guga.

O jogo não teve o mesmo aperto da semifinal contra Sampras, mas só porque o brasileiro jamais permitiu que Agassi equilibrasse as ações. O americano admitiria isso na coletiva, logo depois.

- Acho que tive oito, dez break points, e ele (Guga) só errou um primeiro saque. Acho que só coloquei uma dessas bolas em jogo. Agora, penso que deveria ter sido muito mais agressivo, mas isso tem muito a ver com ele. Ele assumiu a liderança e executou bem. O backhand dele estava vindo fora da minha zona de conforto - avaliou.

Vitória garantida, Guga se tornava o primeiro brasileiro número 1 do mundo no tênis. Após um cumprimento sincero de Agassi, o brasileiro só teve o que festejar. Começou com o microfone na mão. Pela primeira vez falando em português ao ganhar um torneio de grande porte fora do país, o catarinense quebrou o protocolo e deu um abraço na "mãe número 1 do mundo", dona Alice.

No vestiário, estourou champanhe ao lado da família e do técnico Larri Passos, virou o líquido no troféu do Masters de Lisboa e bebeu direto da taça.

No dia seguinte, Guga já não era encontrado em Lisboa. Cedinho, sem tempo de um despedir da família, que ainda dormia, o tenista embarcava para o Havaí...

Após se tornar o tenista número 1 do mundo, em Lisboa e ganhar mais de U$5 milhões de dólares em premiações naquele ano, seria comum ver Gustavo Kuerten voltar ao Brasil e desfilar em carro do Corpo de Bombeiros por Florianópolis, ou em algum carro oficial, por Brasília. Mas não para Guga, que tirou férias e foi viajar com os amigos, dormir em colchonete e desfilar sobre as pranchas de surfe no Havaí (EUA).

01 dezembro 2010

As Ideias Vivem em Bandos



Com um pequeno esforço de memória, qualquer um pode listar alguns nomes de pessoas que considera geniais. Gente que revolucionou seu tempo com um pensamento original ou com invenções que transformaram a vida da humanidade, como Leonardo da Vinci, Antoine Laurent de Lavoisier, Charles Darwin, Alberto Santos Dumont, Albert Einstein... Mas o que terá tornado essa gente excepcional? O escritor americano Steven Johnson, especializado em divulgar estudos sobre a sociedade, a ciência e as ideias, faz uma proposta ousada em seu mais recente livro, Where good ideas come from – The natural history of innovation (De onde vêm as boas ideias – A história natural da inovação, ainda sem data de lançamento no Brasil). Para ele, a genialidade é uma ideia romântica. Momentos de iluminação individual seriam raríssimos. Lembramos deles apenas porque resultam em histórias agradáveis sobre o progresso.

O caminho que leva à inovação, diz ele, é outro: longo, descontínuo e errático. Percorrê-lo com sucesso significa principalmente conectar ideias – as próprias e as alheias, as novas e as antigas –, em vez de se isolar à espera de sacadas extraordinárias. E essa conexão só acontece em ambientes em que as pessoas possam interagir como se fossem os neurônios de um grande cérebro coletivo. “Não é que não existam pessoas extraordinárias, mais espertas que a maioria de nós”, afirmou Johnson em uma entrevista por e-mail a ÉPOCA. “A questão é que os talentos podem ser aperfeiçoados (ou reduzidos) dependendo do lugar onde estejam. Se tentássemos colocar a mente de Steve Jobs (presidente da Apple) para trabalhar em empresas convencionais, desconfio que ele não se sairia tão bem.”

De acordo com essa tese, a genialidade seria a capacidade de destilar, aos poucos, o melhor do caldo das ideias existentes. Não é que não exista a descoberta, o “eureca!” (descobri, em grego antigo) que o matemático Arquimedes teria gritado, saindo pelado da banheira, quando lhe veio à mente o conceito de empuxo. É que ele faz parte de uma cadeia de outras descobertas, menores, às quais geralmente não damos valor. Fascinado pela evolução das ideias – dois de seus seis livros anteriores abordam o assunto –, Johnson estudou o contexto que levou ao desenvolvimento de várias ideias na história. E propõe um caminho para alcançar o pensamento inovador e transformar organizações em ambientes criativos. A seguir, alguns dos principais modos de fazer isso, segundo ele.

1. A GESTAÇÃO DEMORA
Uma impressão ou uma intuição precisam de tempo, pesquisa e observação para virar uma ideia. Johnson chama essa gestação de “slow hunch”, o “palpite demorado”. É corrente a ideia de que Darwin, ao ler a teoria de Thomas Malthus sobre a disparidade entre a produção de alimentos e o crescimento da população, teve um estalo e formulou a teoria da seleção natural. Johnson desmonta essa análise superficial, mostrando que Darwin era um homem rigoroso em suas anotações. Durante anos, registrou observações, citações, ideias improvisadas e rascunhou diagramas. Estava constantemente relendo suas notas e questionando suas implicações. Os principais pontos da seleção natural estavam em seus cadernos. O “insight malthusiano” veio só depois e o ajudou a completar o raciocínio.

2. A IDEIA TEM VÁRIAS MÃES
Uma pessoa inovadora é aquela que consegue combinar e recombinar ideias anteriores. Ao formular a teoria da relatividade, em 1905, o físico Albert Einstein usou estudos do matemático Jules Henri Poincaré. Daí a importância de um espaço livre para ideias: mesmo as mais loucas podem um dia servir. Poincaré formulou em 1904 uma conjectura que só foi demonstrada em 2002, pelo matemático Grigori Perelman. “As pessoas costumam pensar que fazemos uso só do conhecimento e dos cálculos e, com isso, chegamos às teorias”, diz Jacob Palis, doutor em matemática pela Universidade da Califórnia e pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). “Longe disso. Nós perseguimos palpites. Há casos em que tenho sucesso e há casos em que a pergunta fica no ar, até que outras pessoas se interessem por ela.”

3. O GRUPO INOVA MAIS
“A ideia não é uma coisa só. Está mais para um enxame”, afirma Johnson. Quando a informação circula, criamos uma rede fluida, inteligente, receptiva a novidades. É principalmente essa a razão por que as grandes cidades são ambientes mais férteis à inovação em comparação com as pequenas. “A densidade das redes formadas nas primeiras cidades propiciou a circulação de ideias. Elas transbordaram e, por causa disso, foram preservadas para as futuras gerações”, escreve Johnson. Em ambientes menores, como empresas, também é possível formar essas redes de ideias. O jeito mais simples de fazer isso é permitindo um espaço para conversas informais. É mais eficiente do que reuniões de brainstorm (em que todos são instados a dar palpites absurdos, na esperança de surgir uma ideia genial), segundo Johnson, porque as ideias não respeitam cronogramas. A arquitetura também influi. Ela precisa unir as pessoas, em vez de separá-las em grupos fechados. Esse pensamento inspirou a Microsoft a construir espaços físicos mutáveis, das mesas às paredes, em sua área de pesquisa. A Apple faz isso nos projetos de trabalho em grupo: favorece o contato franco e intenso entre todo tipo de profissional, todo tipo de inteligência.

4. PRESTE UM POUCO DE DESATENÇÃO
Muitas vezes, esquecer o problema ajuda a achar a solução. As ideias se beneficiam de uma dose de dispersão. Elas podem vir durante o sono, no banho, numa caminhada ou na prática de um hobby. Um exemplo ilustre é do matemático francês Jules Henri Poincaré. Ele passou 15 dias tentando provar que as funções propostas pelo matemático Lazarus Immanuel Fuchs não existiam. Um dia, saiu da rotina e tomou café preto, algo que não costumava fazer. Sem conseguir dormir, começou a ter alguns palpites promissores. No dia seguinte, percebeu que estava errado e provou as conjecturas – a que generosamente chamou de fuchsianas.

5. O VIZINHO PODE EMPRESTAR
Algumas das melhores ideias já existem – só precisam de alguma adaptação. Foi o que fez, por exemplo, o obstetra francês Stephane Tarnier, em 1870. Em Paris, naquela época, um em cada cinco bebês morria poucos dias depois de nascer. Um dia, passeando pelo zoológico, ele notou que os pintinhos eram mantidos em recipientes aquecidos. Se o princípio era bom para os pintinhos, por que não para os humanos? Ele criou então a primeira incubadora, colocando recipientes com água quente embaixo das caixas de madeira que serviam de berços.

6. A AJUDA DOS ERROS
Uma ideia inicialmente promissora pode chegar a um resultado ruim. Isso se chama erro. E ele é útil. O ambiente inovador tolera os enganos, estuda os resultados indesejados e os transforma em aprendizado, em benefício das ideias seguintes. Johnson cita o exemplo do teólogo britânico Joseph Priestley. Ele tinha o costume de fazer experimentos científicos para provar suas crenças teológicas. Um dia, colocou uma planta em uma jarra, privando-a de oxigênio. Esperava que a planta morresse, mas ela continuou viva. O resultado o encorajou a continuar suas pesquisas. Esse experimento levou a outros, de outros cientistas, e assim se descobriu o processo da fotossíntese.

7. A OBSESSÃO COM NOTAS
A insólita jornada da inovação depende da profusão de informações – uma espécie de bagunça organizada. Era assim que Darwin fazia em seus cadernos, repletos de rabiscos, desenhos, pensamentos. Ordenar essas ideias pode atrapalhar mais que ajudar, porque engessa o raciocínio. Anotações esparsas facilitam a recombinação das teses, o olhar com nova perspectiva. Mas há um risco oposto: anotar, anotar, e não parar para ligar os pontos. Essa foi uma das falhas que impediram a polícia federal americana, o FBI, de prevenir o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Em julho, um relatório do agente Ken Williams alertava sobre seguidores de um certo “Usama Bin Laden” que faziam cursos de aviação civil. Williams entrevistara alguns deles e descobrira que tinham ligações com movimentos islâmicos radicais. O documento foi classificado como um “palpite especulativo, não significativo”, e permaneceu no limbo do FBI. Outro relatório ignorado dentro do FBI mencionava que um certo Zacarias Moussaoui, aluno de aviação, tinha intenção de jogar um avião contra o World Trade Center. As informações não se encontraram, o FBI não agiu e os aviões pilotados por terroristas atingiram seus alvos meses depois.

Nesse caso extremo, um processo mais acurado de ligar informações poderia ter salvado a vida de cerca de 3 mil pessoas. Em outros casos, o prejuízo é um invento que deixa de ser feito, um trabalho que fica pior, um paciente que deixa de ser tratado. É fácil perceber a falta de conexão no FBI, mas quanto nós mesmos não trabalhamos isolados? “Um dos maiores problemas das empresas é que elas dividem as pessoas em silos – engenheiros aqui, o financeiro ali”, disse Johnson a ÉPOCA. “O pensamento inovador frequentemente vem quando as ideias cruzam fronteiras.”

Revista Época, em 22/11/2010.