22 setembro 2009

Pinturas que parecem fotografias

À primeira vista você pode imaginar que se trata de uma foto qualquer mas, basta aproximar-se um pouco mais, para perceber que trata-se de uma pintura. Isso mesmo, uma impressionante pintura totalmente feita a mão.

A autora é a novaiorquina Alyssa Monks. Usando apenas pincel, tinta e muita paciência e criatividade, a jovem de 31 anos vangloria-se de que suas criações conseguem ser mais reais do que algumas fotografias originais.

“Eu olho para os detalhes do ‘imperfeito’, e tento mostrar o quão belo é o real, e não o ideal. Acho que muitas vezes é a minha vontade de abandonar minhas próprias expectativas que me permite captar as surpresas interessantes sobre o rosto e o corpo”.




16 setembro 2009

Meu Eus

Desde que eu nasci estou num conflito
Aflito pra saber porque com tanta gente
Que eu podia ser eu nasci eu
Eu nasci eu
Perdido entre sentimentos bons
Pequenos delitos e contradições
Entre a luz e o breu

Eu molho o pão no café e levo fé
Que deus é preto, fuma cachimbo
Nasce menino e cresce mulher
Vira fumaça, não tem destino
Brinca de roda, roda nos ventos
Dança na chuva, pois é um índio
E cai no frevo, dança ballet
No que imagino

Em tudo que há ele é

Mas eu não sou um só, não sou só um
Eu também sou milhões de eus
Não sou deus, mas sou eus
Não sou deus, mas sou eus
Eu também sou milhões de eus

Pois sou eu quem acredita em mim
Sou eu quem me explico quando me complico
Eu mesmo atendo às minhas preces
Eu mesmo ouço meus próprios gritos

Oh brother, buscando minhas próprias conclusões
Oh brother, foi eus que quis assim
Oh brother, eus é deus dentro de mim

Graças à deus!
Gabriel Maia e Mauricio Baia

14 setembro 2009

Deixa

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia.
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava
Oswaldo Montenegro - Se puder sem medo

12 setembro 2009

Santa Natureza

Stanislav Blagenkov


Um estudo realizado pela Universidade de Radboud (Holanda) e publicado no “Journal of Experimental and Social Psychology” conclui que se um homem ficar sete minutos na companhia de uma mulher bonita, seu cérebro…falha. Testes mediram o desempenho cerebral e verificaram que ele é menor quando um homem está perto de alguém atraente do que quando está ao lado de um outro homem ou de uma mulher que não desperta seu interesse.

Quarenta estudantes do sexo masculino, heterossexuais, foram submetidos a testes de memória, correlação e capacidade cognitiva. Depois foram levados para conversar com várias pessoas. Na volta, fizeram novos testes. Aqueles que ficaram na companhia de beldades femininas tiveram uma grande queda nos resultados. Os outros mantiveram o nível. Os resultados provaram que quanto mais impressionados os homens ficavam, mais tempo demoravam a responder e menos acertavam as respostas das questões.

O estudo afirma que em situações semelhantes os homens mudam para um comportamento denominado de “reprodução concentrada”, pois estão programados para transmitir os seus genes e tudo que conseguem pensar é em fazê-lo. Ou seja, o motivo é que os homens estão sempre focados na evolução e manutenção da nossa espécie, tudo para a preservação dos seres humanos. E tem gente que ainda reclama disso...

Os mesmos testes realizados em mulheres revelaram que o poder de concentração e raciocínio não sofreu alterações.

Segundo a matéria do Telegraph, que fala desta pesquisa, os psicólogos resolveram começar o estudo depois que um deles simplesmente esqueceu seu endereço ao estar impressionado com a presença de uma mulher. Ela perguntou onde ele morava e o rapaz não conseguiu lembrar. Tiro no pé. Esse ai não conseguiu preservar a espécie, pelo menos nesse dia.

O fato é que aquilo que todos os homenes e as mulheres mais observadoras já estavam cansados de saber foi cientificamente comprovado!

07 setembro 2009

Saudade

Saudade é uma das palavras mais presentes na poesia da língua portuguesa. "Saudade", só conhecida em galego-português, descreve a mistura dos sentimentos de perda, distância e amor. A palavra vem do latim "solitatis" (solidão), na forma arcaica de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar". Diz a lenda que no Brasil colônia esteve muito presente para definir a solidão dos portugueses numa terra estranha, longe de entes queridos. Provém do latim "solitáte", solidão. A gênese do vocábulo está directamente ligada à tradição marítima lusitana.
A origem etimológica das formas atuais "solidão", mais corrente e "solitude", forma poética, é o latim "solitudine" declinação de "solitudo, solitudinis", qualidade de "solus". Já os vocábulos "saúde, saudar, saudação, salutar, saludar" proveem da família "salute, salutatione, salutare", por vezes, dependendo do contexto, sinônimos de "salvar, salva, salvação" oriundos de "salvare, salvatione". O que houve na formação do termo "saudade" foi uma interfluência entre a força do estado de estar só, sentir-se solitário, oriundo de "solitarius" que por sua vez advem de "solitas, solitatis", possuidora da forma declinada "solitate" e suas variações luso-arcaicas como suidade e a associação com o ato de receber e acalentar este sentimento, traduzidas com os termos oriundos de "salute e salutare", que na transição do latim para o português sofrem o fenômeno chamado síncope, onde perde-se a letra interna l, simplesmente abandonada enquanto o t não desaparece, mas passa a ser sonorizado como um d. E no caso das formas verbais existe a apócope do e final. O termo saudade acabou por gerar derivados como a qualidade "saudosismo" e seu adjetivo "saudosista", apegado à ideias, usos, costumes passados, ou até mesmo aos princípios de um regime decaído, e o termo adjetivo de forte carga semântica emocional "saudoso", que é aquele que produz saudades, podendo ser utilizado para entes falecidos ou até mesmo substantivos abstratos como em "os saudosos tempos da mocidade", ou ainda, não referente ao produtor, mas aquele que as sente, que dá mostras de saudades.
Define, então, a melancolia causada pela lembrança; a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de entes queridos ou situações prazerosas.

05 setembro 2009

Desconfiança

“(...)Et je comprenais l’impossibilité où se heurte l’amour. Nous nous imaginons qu’il a pour objet un être qui peut être couché devant nous, enfermé dans un corps. Hélas! Il est l’extension de cet être à tous les points de l’espace et du temps que cet être a occupés et occupera. Si nous ne possédons pas son contact avec tel lieu, avec telle heure, nous ne le possédons pas. Or nous ne pouvons toucher tous ces points. Si encore ils nous étaient désignés, peut-être pourrions-nous nous étendre jusqu’à eux. Mais nous tâtonnons sans les trouver. De là la défiance, la jalousie, les persécutions. Nous perdons un temps précieux sur une piste absurde et nous passons sans le soupçonner à côté du vrai”.
Marcel Proust in La Prisonnière – A la Recherché du Temps Perdu.


“(…) E eu compreendia a impossibilidade contra a qual o amor se choca. Imaginamos que ele tenha por objeto um ser que pode estar deitado à nossa frente, oculto num corpo. Mas ai! Ele é a extensão desse ser em todos os pontos do espaço e do tempo que esse ser ocupou ou vai ocupar. Se não possuímos seu contato com tal lugar, com tal hora, nós não o possuímos. Mas não podemos tocar todos esses pontos. Se ainda nos fossem indicados, talvez pudéssemos tentar alcançá-los. Mas tateamos às cegas sem encontrar. Daí a desconfiança, o ciúme, as perseguições. Perdemos um tempo precioso seguindo uma pista absurda e passamos ao lado da verdade sem suspeitá-la”.
Marcel Proust

03 setembro 2009

O tempo e as jabuticabas

'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão-somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves