A psicanalista Regina Navarro Lins participou de bate-papo no site Uol sobre o resultado da pesquisa do Datafolha a respeito da sexualidade do brasileiro, que foi publicada no último domingo na Folha de São Paulo.
O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.
Regina Navarro: Olá, Boa tarde! Estou aqui para responder a perguntas sobre relacionamento amoroso e sexual.
Regina Navarro: Cabeludo: não sei o que querem dizer com isso. Esses critérios dependem de época e lugar. Acredito que no sexo tudo é permitido, desde que os envolvidos estejam de acordo. Não existe regra, certo ou errado.
Lelê fala para Regina Navarro: O brasileiro ainda é muito convencional no sexo? Tenho a impressão que sim. Convencional e, geralmente, machista.
Regina Navarro: Lelê: Nós estamos em pleno processo de transformação das mentalidades. Vamos encontrar pessoas convencionais e outras que já se liberaram dos preconceitos. Pela História, o sexo sempre foi um grande problema. Desde que o cristianismo, há dois mil anos, o sexo foi visto como algo sujo e feio. Temos que refletir sobre isso e tentar nos livrarmos da culpa e da ideia de que existe algo pecaminoso no sexo. Sexo é muito bom, faz bem pra saúde física e mental. Além de fazer parte da vida. Deve ser encarado como algo natural.
Regina Navarro: Gilberto: O sexo sempre foi muito reprimido. Os homens, geralmente, vão tensos para o sexo, preocupados com o desempenho, tentando provar que são machos. As mulheres foram criadas para mostrar que não gostam muito de sexo, para o homem não as considerar "galinhas". Aí ocorre um desencontro. Mas aos poucos as pessoas estão começando a se livrar desses valores ultrapassados que só servem para aprisioná-las. Quanto mais uma pessoa for livre para o sexo, mais ela vai poder trocar com o parceiro (a) e usufruir de todo o prazer que o sexo pode proporcionar.
Regina Navarro: Acredito que sim. Daqui a algumas décadas, não podemos precisar exatamente, é possível que a bissexualidade predomine.
Regina Navarro: Estamos no meio de um processo de grandes transformações das mentalidades. Então encontramos pessoas bem liberais e outras ainda preconceituosas, presas a antigos valores, que já estão ultrapassados. Muitos dizem que a sociedade não está ainda preparada para maiores liberdades. Mas na década de 1960, se vc dissesse que dentro de algumas décadas seria normal a moça não casar virgem, diriam a mesma coisa. Então é uma questão de tempo para todos aceitarem novas formas de pensar e viver.
Regina Navarro: Acho que o sexo é fonte de vida, é pulsão de vida. Reich, que foi discípulo do Freud, e viveu na primeira metade do século XX, dizia que a repressão da sexualidade é responsável pelas doenças psíquicas. Quanto mais livre o ser humano for no sexo, maior força para viver ele terá.
Mnn fala para Regina Navarro: o numero de homossexuais vem aumentando nos ultimos tempos...na sua opiniao, pq isso vem ocorrendo?
Regina Navarro: Não acho que o número de homossexuais vem aumentando. Acho que os homo estão saindo do armário. Acredito que o número de bissexuais, sim, vem aumentando e ainda vai aumentar mais. Isso ocorre por conta de uma liberação maior. Neste momento em que vivemos, cada um pode escolher sua forma de viver. Os modelos tradicionais não estão dando mais respostas e isso facilita tudo.
Ball fala para Regina Navarro: Porque os homens sentem necessidade de terem várias parceiras? Como conciliar esse "instinto" de infidelidade, quando sinceramente se quer que o casamento, como o conhecemos hoje, de certo??
Regina Navarro: Não acredito que seja a exclusividade sexual que faça um casamento funcionar bem. Todos, homens e mulheres, são afetados por vários estímulos vindos de outras pessoas. Por mais que vc ame seu parceiro (a) e tenha tesão por ele, muitos têm relações extraconjugais simplesmente pq variar é bom. Isso é natural. O problema é as pessoas acreditarem que se o outro transar fora do casamento é pq não ama seu cônjuge. Quando as pessoas se libertarem dessa crença de que exclusividade significa algo importante, vai ser muito mais fácil viver bem. A única pergunta que cada um deveria responder a si próprio é: me sinto amado (a)? Me sinto desejado (a)? Se a resposta for positiva, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito, não é da minha conta.
Tiago fala para Regina Navarro: depois do filme o virgem de 40 anos, inspirou uma revista a pesquisar sobre virgindade e vários norte americanos entre 25 a 45 anos assumriram a sua castidade, o que pessoas ligadas a essa área tem a dizer sobre esse assunto? é prejudicial a saúde a abstinência sexual??
Regina Navarro: Se a gente acredita no que dizem as pesquisas científicas, de que o sexo é fundamental para a saúde física e mental, temos que considerar a abstinência como algo negativo. A questão que a repressão da sexualidade sempre foi tão grande, que muita gente que opta pela abstinência não está fazendo uma escolha livre, e sim uma escolha condicionada pela culpa e pelo medo do sexo. Sexo é natural, faz parte da vida. No plano individual, cada um faz o que quiser com a sua vida, mas se pensarmos em termos de mentalidade, acho essa proposta bastante nociva.
Regina Navarro: Todos os humanos dão muita importância ao sexo. Afinal, o orgasmo é o maior prazer físico que um ser humano pode experimentar. O sexo sempre foi tão reprimido que só agora as coisas estão começando a melhorar. Acho que a juventude está dando uma importância muito mais adequada ao sexo do que seus pais ou avós deram.
Regina Navarro: Concordo com vc. Amor e tesão são coisas totalmente distintas. Vc pode amar uma pessoa e não ter tesão por ela. Pode ter um grande tesão por outra e não amá-la. É importante que as pessoas percebam essa distinção. Para os homens isso nunca foi problema. Eles podiam transar com qualquer mulher por quem sentissem desejo e eram atá valorizados por isso. Para as mulheres é que foi complicado. Criaram muitas histórias para fazê-las acreditar que o sexo só tinha graça se houvesse amor. Muitas até hoje acreditam nisso e se frustram.
Regina Navarro: Acredito que quase tudo o que somos é resultado de uma construção social. Nossos anseios, nosso comportamento...são muito diferentes em cada época. O amor na Grécia, por exemplo, era totalmente diferente do amor na Idade Média, que era diferente do século XIX e tb de hoje. Essa história de masculino e feminino só serviu para aprisionar ambos os sexos a estereótipos. Não acredito nessa divisão. Todos nós somos passivos e ativos, forte e fracos, medrosos e corajosos. Vai depender das características de personalidade de cada um e tb da época em que se vive. A fronteira entre o masculino e o feminino está se dissolvendo e isso é pré-condição para uma sociedade de parceria. Acredito que homens e mulheres vão viver muito melhor quando esses conceitos sairem de cena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário