Há algo de constrangedor na disputa pelo espólio de um vivo, mesmo que seu fim esteja perto.
A diferença entre o parente e o pré-sal é que enquanto a morte de um é certa a existência do outro é apenas uma probabilidade. Por enquanto, só temos a palavra da Petrobras de que o petróleo está lá, e só uma especulação sobre o valor a ser dividido.
O que não impede o feio espetáculo da guerra precoce pela partilha, equivalente a herdeiros se engalfinhando em cima do moribundo, derrubando o soro, etc. Um pouco de recato, gente.
Mas a verdade é que não posso criticar. Tenho já planejado o que farei quando ganhar na mega-sena, que é o pré-sal sonhado de cada um. É quase uma vida imaginária paralela, só esperando o grande premio para se tornar realidade.
Conheço gente que tem até a planta da casa que mandará fazer na Côte D´Azur pronta, para a eventualidade de ganhar. A diferença entre esses outros esperançosos e eu é que também sei exatamente como gastar o dinheiro ganho no jogo - só que não jogo.
Na minha vida imaginária de apostador vencedor sempre falta o detalhe da aposta. E quem passa o tempo todo sonhando em ser rico tem tempo para detalhes?
No caso do pré-sal fazem um cálculo que eu não entendo: o do que os estados produtores perderão se a sua parte na divisão dos roialtis não for maior. Nada contra o Rio receber tudo a que tem direito, mas há uma sutil distinção entre perder e deixar de ganhar.
Se eu pedir um milhão de dólares ao Eike Batista e ele, sensatamente, não me der, deixarei de ganhar ou ficarei um milhão de dólares mais pobre? A questão é semântica, deixa pra lá.
Luis Fernando Verissimo
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