01 julho 2011

Campanha Educativa ou Filme de Terror?

Diz em voz grave o locutor desse vídeo: “... O uso do crack pode provocar as piores consequências: dor, prostituição, roubo e assassinato são algumas delas...”
Este vídeo faz parte da campanha "Crack, nem Pensar", promovida pelo CNJ, CNMP, TJs e Instituto Crack, nem Pensar
Na verdade, este tipo de campanha só serve para alimentar as agências de publicidade, inflar o ego dos governantes e iludir a opinião pública.
Ora, quem disse que o crack é a “causa” das “consequências” (dor, prostituição, roubo, assassinato...), não conhece nem um palmo da realidade das periferias das grandes cidades desse país.
Acordem! O uso do crack não é a causa do que a elite hipócrita desse país define como “violência urbana”, mas a consequência de séculos de miséria, pobreza e exclusão social. Em consequência, não se combate as consequências de um modelo social excludente e concentrador da riqueza com filmes de terror. Esta ideia é antiga, superada e comprovadamente inútil.
Ora, não seria melhor caminho estudar por que um jovem se torna dependente do crack, discutir soluções para essas causas e, sobretudo, impedir que novos jovens comecem a usar, do que culpá-los pelos males do mundo e ainda por cima produzir filmes de terror sobre este drama?
Campanhas assim são absolutamente inócuas e não servem para evitar que crianças e jovens sem sonhos, pobres e excluídos comecem a usar crack e, muito menos, vai recuperar os que já são dependentes.
Pior ainda: muda o foco do problema e transmite a falsa ideia de que roubos e assassinatos acontecem por causa dos dependentes do crack.
Como diz o Juiz Alexandre Morais da Rosa, quem livrará “da bondade dos bons” os adolescentes pobres e excluídos desse país, por séculos marginalizados, e agora dependentes do crack?

3 comentários:

Bárbara L. disse...

Sem generalizar, acredito que tanto o usuário de Crack como também os moleques que entram para o tráfico como uma forma de sobrevivência, são vítimas da falta de comprometimento das autoridades em proporcionar condições dignas de habitação, saúde, educação e segurança para a população. Muito se fala, mas pouco se faz para mudar essa realidade, infelizmente! É díficil entender como num páis que só no ano passado arrecadou 1,3 trilhão de reais em impostos, tenha uma populção, em sua maioria, vivendo em condições tão precárias, sem os recursos básicos para a manutenção da saúde tanto física como mental.

Ramon disse...

Discordo, em partes, da opinião do Sr. Gerivaldo Neiva.

Na minha opinião, o pequeno vídeo não visa colocar a culpa pelas 'mazelas sociais' no usuários de crack, mas sim alertar, ainda mais, para o problema, colocando MEDO em quem não usa.

A mensagem que recebi assistindo ao vídeo foi: se experimentar o crack você ficará viciado, e daí para frente a realidade de dor, prostituição, roubo e assassinato será a sua também!

Concordo que muito se gasta com propagandas, com publicidade, e nem tanto com formas efetivas de se evitar o(s) problema(s). Mas não duvido que, mesmo diante da miséria que se vê, se um garoto tiver medo de usar o crack, ele não usará! E vídeos como esse podem incutir o medo em quem ainda não usou, evitando o contato e preservando mais uma vida.

Bárbara Bufrem disse...

Concordo com o Ramon que o Sr. Gerivaldo exagerou na leitura que fez sobre o vídeo, mas discordo que incutir o medo seja um bom caminho e isso Freud explica...

Segundo a Psicanálise, a mente tende a bloquear imagens desagradáveis como forma de rejeição - com isso, a mensagem pode ser bloqueada também. (Conto um exemplo aqui sobre o mercado de inseticidas, que segue a mesma lógica: http://corinovacao.com.br/blog/?p=3124 )

Mesmo assim, há quem acredite que faz efeito. De qualquer forma, eu sou contra a "cultura do medo". Acho mais inteligente fazer as pessoas pensarem para que percebam que não é uma ordem, mas uma escolha.

Quem faz isso muito bem é a American Legacy Foundation: http://www.brainstorm9.com.br/diversos/seek-truth/

Afinal, sabedoria socrática: "Não posso ensinar nada a ninguém, só posso fazê-lo pensar". Pena que uma propaganda como essa mostra que o Brasil está longe de perceber isso...