28 maio 2008

Sede infinita

Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?
Amar e esquecer?
Amar e malamar
Amar, desamar e amar
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal,
se não rodar também, e amar?
Amar o que o mar trás a praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amor inóspito, o áspero
Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,
e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este é o nosso destino:
amor sem conta, distribuído pelas coisas
pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor
Amar a nossa mesma falta de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade

26 maio 2008

Tempo triste

Estive fora do ar no final de semana e só hoje soube da notícia do falecimento do senador Jefferson Péres, que morreu na última sexta-feira, em Manaus.
Que tempo triste para a nossa política. Como se não bastasse termos um Congresso estragado e corrompido, perdemos nosso maior exemplo de coerência e honestidade, o último grande político que nos restava.
Ao menos nos deixou muitas lições, como as que seguem. Todas merecem ser escutadas e refletidas, com o máximo de atenção.







25 maio 2008

Parabéns

"A atriz brasileira Sandra Corveloni ganhou neste domingo o prêmio de Melhor Atriz da 61ª edição do Festival de Cannes por seu papel no filme "Linha de Passe", dos diretores Walter Salles e Daniela Thomas."
Fonte : Folha de São Paulo

23 maio 2008

Conservadores

"Conservadores não necessariamente são estúpidos, mas a maioria das pessoas estúpidas são conservadoras."
John Stuart Mill

22 maio 2008

Assim é, se lhe parece

Nem as cores existem na natureza nem nossa mente reflete fielmente os que nos rodeia. A realidade é proporcional ao número de seres humanos, posto que o que cada um percebe é filtrado e deformado pelos sentidos objetivos e a mente subjetiva.
O mundo visual que nos rodeia é uma ilusão? É verdade que as cores não existem na natureza? Nosso cérebro reflete fielmente a realidade exterior? As respostas a essas perguntas demonstram que a realidade é um conceito bastante subjetivo, já que muitas das coisas que observamos não existem ou, pelo menos, não são como as enxergamos.
O coquetel de estímulos provenientes do interior e do exterior de nosso corpo e que captamos por meio dos cinco sentidos varia sutilmente de uma pessoa para outra, já que a estrutura, as diferenças e as alterações dos órgãos sensoriais de cada um fazem com que, por exemplo, vejamos e escutemos de forma diferente, tanto que não exitem duas percepções iguais do real. Se essa percepção objetiva, por sua vez, é alterada pela interpretação subjetiva do que somos, acontece e nos rodeia, com base em nossa bagagem de aprendizados e experiências, podemos concluir que a realidade é algo tão pessoal e único como as impressões digitais.
Segundo o neurocientista Francisco J. Rubia, autor do livro "¿Qué sabes de tu cerebro?" (O que seu cérebro sabe?), "antigamente se achava que o cérebro refletia de forma fidedigna o mundo exterior, mas, a cada dia, parece mais evidente que o cérebro é um mundo fechado que traduz os estímulos externos para a linguagem disponibilizada pelas estruturas cerebrais, dando uma versão interna ou uma representação da realidade exterior".
O mundo visual é uma ilusão?
É o que parece. As imagens, que se formam nas duas retinas dos olhos, são distorcidas, pequenas e invertidas. Além disso, o poder de resolução do olho é limitado e disforme, já que, fora do ponto de maior acuidade, é baixo e a retina é praticamente cega para as cores. O olho, além disso, se movimenta constantemente de um ponto para outro do campo visual, de três a quatro vezes por segundo, o que faz o órgão criar um montão de novas imagens. Por outro lado, é conhecida a importância da atenção para a percepção de qualquer sensação: por exemplo, se não temos atenção, não vemos. Além disso, o cérebro "completa" a percepção das coisas que não são vistas, como a visão de um cachorro inteiro atrás de uma cerca, embora só vejamos partes do animal. Mas, talvez o mais importante, seja constatar que muitas das coisas que vemos são criações do cérebro. As chamadas "ilusões óticas" são inúmeras e dizem "a gritos que o cérebro vê o que quer ver, por isso somos incapazes de captar o que costumamos chamar de realidade".
As cores não existem. A natureza não tem mais que diferentes comprimentos de onda. A audição, a visão, a percepção da cor ou do som... Tudo depende do nosso cérebro e da organização espacial das estruturas que processam esses estímulos. Além disso, o processamento cerebral das características ou propriedades dos diferentes estímulos do ambiente, como a qualidade, a intensidade, sua estrutura temporária e local de procedência, podem variar, devido às estruturas e células nervosas que os recebem e transportam. Na visão cromática, intervêm receptores que captam os diferentes comprimentos de onda do espectro electromagnético (azul-violeta, verde, e amarelo-vermelho) e células que produzem as sensação de contraste entre as cores. No final de todo o processo, o cérebro atribui uma determinada cor à atividade dos receptores e de todas as células que há até a informação chegar a um região denominada córtex visual. Mas um comprimento de onda não se transforma no cérebro em uma determinada cor. Não há uma correlação clara entre as duas coisas.
Nosso cérebro, então, reflete a realidade exterior? Para Rubia, esta pergunta tem um categórico "NÃO" como resposta: "Existe uma realidade exterior, mas tudo o que vemos, ouvimos, cheiramos, sentimos está dentro de nós mesmos. É o próprio cérebro que está sempre falando com a gente", destaca. Segundo o cientista, "graças às transformações que os receptores dos estímulos externos realizam, graças à tradução dos estímulos físicos para a linguagem cerebral dos impulsos nervosos, fazemos com que surja essa realidade, esse mundo que não está fora, mas dentro do cérebro". A tradução deve ser boa, porque, caso contrário, não teríamos nos adaptado tão satisfatoriamente ao nosso entorno. Porém, estamos presos dentro do nosso cérebro, e qualquer pensamento sobre a captação da realidade é pura ilusão, diz o especialista.
Omar Segura - Agência EFE

21 maio 2008

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade, o poeta mais respeitado do país, era um homem desiludido com o mundo. Sentia descrença e desilusão pelo futuro. Lamentava que as novas gerações não tenham mais os estímulos intelectuais que havia até trinta ou quarenta anos passados.
“Os tempos estão ruins. É um fenômeno universal, uma espécie de deterioração dos conceitos e do sentimento estético. Em qualquer país do mundo é a mesma porcaria. É a massificação dos meios de comunicação, tudo ficou igual no mundo inteiro”.
Ao ser o considerado o maior poeta do mundo, dizia que foi por julgamento incorreto, porque a maioria das pessoas que o consideravam não o haviam lido e sim escutado falar.
“Não me julguei nem julgo, e digo mais: não sei qual é o maior poeta brasileiro de hoje nem de ontem. Para mim, não há maiores poetas. Há poetas. E cada poeta é diferente dos outros.”

Em uma entrevista publicada dezessete dias antes de falecer, Drummond explicou sua coragem:
“Sou uma pessoa terrivelmente corajosa, porque não espero nada de coisa nenhuma. Não tenho religião, não tenho partido político. Vivo em paz com meu critério moral. Vivo em paz com minha consciência”.

Sua obra narra a trajetória de um homem, de uma geração e de um país. Um homem que saiu do interior de Minas Gerais, da cidade de Itabira do Mato Dentro para a cidade grande. Envolveu-se nos conflitos de seu tempo e se quedava metafísico e retirado quando as coisas do mundo o aborreciam.
Seus versos transmitem a emoção que sentia no momento em que escrevia, momento que poderia ser um parodoxo do que havia escrito antes. Tratam de temas metafísicos a fatos jornalísticos. Ele foi diametralmente oposto e talvez complementar. O cronista e o poeta. Foi politicamente comprometido, mas nunca aderiu a um partido. Certos poemas são profundamente religiosos, mas não acreditava em Deus. Gostava de ser amado mas abominava a celebridade.
Durante 15 anos, todas as terças, quintas e Sábado, Carlos Drummond de Andrade publicou suas crônicas no Caderno B. De sua estreia, em 2 de outubro de 1969, falando sobre o leilão que liquidava a Panair do Brasil, até o ‘ciao’ de despedida em 29 de setembro de 1984, quando faz um balanço de sua atividade na imprensa, foram 780 semanas da história do país e do poeta refletidas com agudeza e lirismo em mais de 2 mil e 300 crônicas. Nos deixando entre outras lembranças um poema, Rotativo do acontecimento...

"...E é por admitir esta noção de velho, consciente e alegremente, que ele hoje se despede da crônica, sem se despedir do gosto de manejar a palavra escrita, sob outras modalidades, pois escrever é a sua doença vital, já agora sem periodicidade e com suave preguiça. Cede espaço aos mais novos e vai cultiva o seu jardim, pelo menos imaginário.
Aos leitores, gratidão, essa palavra tudo.”

(trecho de CIAO de Carlos Drummond de Andrade)

20 maio 2008

De repente



"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"
Vinícius de Moraes - Soneto da separação

19 maio 2008

Saudade

"Infeliz de quem passa pelo mundo
Procurando no amor felicidade.
A mais linda ilusão dura um segundo
E dura a vida inteira a saudade."

Guilherme de Almeida

16 maio 2008

Quanto custa um pôr do Sol?

Cabe insistir no óbvio: não há dinheiro que pague um pôr do Sol. Não se compra na bolsa a Lua cheia “que sabe de mi largo caminar”. A felicidade, a amizade, a lealdade e o amor não estão à venda nos shoppings. Quem pode viver sem esses intangíveis? Aqui não funciona a lógica do interesse, mas da gratuidade, não a utilidade prática, mas o valor intrínseco da natureza, da ridente paisagem, do carinho entre dois enamorados. Nisso reside a felicidade humana.

Um grande empresário americano, estando em Roma, quis mostrar ao filho a beleza de um pôr de Sol nas colinas de Castelgandolfo. Antes de se postarem num bom ângulo, o filho perguntou ao pai: ”pai, onde se paga”? Esta pergunta revela a estrutura da sociedade dominante, assentada sobre a economia e o mercado. Nela para tudo se paga - também um pôr de sol - tudo se vende e tudo se compra. Ela operou, segundo notou ainda em 1944 o economista norte-americano Polanyi, a grande transformação ao conferir valor econômico a tudo. As relações humanas se transformaram em transações comerciais e tudo, tudo mesmo, do sexo à Santísssima Trindade, vira mercadoria e chance de lucro.

Se quisermos qualificá-la, diríamos que esta é uma sociedade produtivista, consumista e materialista. É produtivista porque explora todos os recursos e serviços naturais visando o lucro e não a preservação da natureza. É consumista porque se não houver consumo cada vez maior não há também produção nem lucro. É materialista pois sua centralidade é produzir e consumir coisas materiais e não espirituais como a cooperação e o cuidado. Está mais interessada no crescimento quantitativo – como ganhar mais – do que no desenvolvimento qualitativo – como viver melhor com menos – em harmonia com a natureza, com equidade social e sustentabilidade sócio-ecológica.

O insuspeito Daniel Soros, o grande especulador das bolsas mundiais, confessa em seu livro A crise do capitalismo (1999): ”uma sociedade baseada em transações solapa os valores sociais; estes expressam um interesse pelos outros; pressupõem que o indivíduo pertence a uma comunidade, seja uma família, uma tribo, uma nação ou a humanidade, cujos interesses têm preferência em relação aos interesses individuais. Mas uma economia de mercado é tudo menos uma comunidade. Todos devem cuidar dos seus próprios interesses...e maximizar seus lucros, com exclusão de qualquer outra consideração”(p. 120 e 87).

Uma sociedade que decide organizar-se sem uma ética mínima, altruísta e respeitosa da natureza, está traçando o caminho de sua própria auto-destruição. Então, não causa admiração o fato de termos chegado aonde chegamos, ao aquecimento global e à aterradora devastação da natureza, com ameaças de extinção de vastas porções da biosfera e, no termo, até da espécie humana.

Suspeito que ao não quebrarmos o paradigma produtivista/consumista/materialista em direção do cultivo do capital espiritual e da sustentação de toda a vida, com um sentido de mútua pertença entre terra e humanidade, podemos encontrar pela frente a escuridão.

Devemos tentar ser, pelo menos um pouco, como a rosa, cantada pelo místico poeta Angelus Silesius (+1677) : “a rosa é sem porquê: floresce por florescer, não cuida de si mesma nem pede para ser olhada”(aforismo 289). Essa gratuidade é uma das pilastras do novo paradigma salvador.

Leonardo Boff, teólogo brasileiro

14 maio 2008

A Vida Menor

"A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre.

Eu, ela, elaeu.

Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.

A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.

Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência.

O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor."

Carlos Drummond de Andrade - Amor Natural

12 maio 2008

"Não concordo com uma palavra sequer do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las."




"O que diz a nossa Constituição acerca da liberdade de expressão? É possível, com base na Constituição, proibir manifestações? Ao que parece, as velhas e sábias lições do grande pensador liberal John Stuart Mill não foram apreendidas por muitos de nossos juízes. É Mill quem inspira o liberalismo de costume expresso nas cláusulas das mais diversas constituições do mundo ocidental.
O argumento é simples. Nada mais saudável para aqueles que são contrários à legalização da maconha do que permitir que os que são a favor se manifestem livremente. É do embate de idéias e de argumentos que os dois lados saem fortalecidos. Assim, ao proibir as marchas a favor da maconha, os juízes - contrários à liberdade de expressão - prejudicaram aqueles que se opõem à maconha de divulgar, exercitar e fortalecer seus argumentos.
(...)
Afinal, por que nossos juízes restringiram na prática o direito de expressão? Que a passeata fosse realizada, e que os ilegais na passeata, isto é, aqueles que estivessem fumando maconha, fossem presos.(...)
A grande questão do liberalismo é esta: quais os direitos da minoria? Sem dúvida, é uma minoria de pessoas que gosta de maconha, defende o seu uso e a sua comercialização. A questão, então, é: o que fazer com essa minoria? Não tem direito de fumar maconha nem de comercializá-la, tudo bem. É a lei. Goste-se ou não, tem que ser respeitada. Mas essa minoria não deveria ter o direito de se manifestar contra a lei? Desde que a manifestação seja feita dentro da lei?
O consumo de maconha no mundo vem aumentando, e é mais disseminado nos países mais ricos. Na Nova Zelândia, 22% da população adulta declaram que usam maconha. Na Austrália, a proporção é de 18% e nos Estados Unidos é de 12%. Na França, são apenas 5%. A França é importante porque, lá, 30% das pessoas de 15 a 64 anos já usaram maconha alguma vez na vida, mesmo não o fazendo na atualidade. A conclusão é óbvia: muita gente já fumou maconha, mas não fuma mais.
Nos países onde o consumo de maconha é mais elevado, não necessariamente há mais crimes, como os dados da OCDE sugerem. Mas não é disso que se trata, e sim da liberdade de expressão. A marcha em favor da liberação da maconha é um movimento mundial, com organizadores, página na internet e tudo que têm direito esses novos movimentos do mundo globalizado. Esse da maconha foi realizado em 239 cidades espalhadas pelo mundo.
Na Espanha católica e conservadora, as marchas a favor da liberação da maconha não foram proibidas pela Justiça. A liberdade de expressão venceu. O mesmo aconteceu nos Estados Unidos calvinista. Aliás, foi o país com o maior número de cidades mobilizadas neste evento.
Não se trata aqui de defender a liberação da maconha ou a manutenção da atual legislação brasileira, mas apenas desejar que haja debate. Para aqueles que querem manter seus filhos distantes do vício, nada melhor do que ouvir o que têm a dizer aqueles que defendem a legalização da droga. Diante de tais argumentos - claros, públicos e transparentes - será possível contra-argumentar."
Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário

Vida vivida


"Tenho tanto sentimento.
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental.
Mas reconheço, ao medir-me
Que tudo isso é pensamento
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos.
Uma vida que é vivida.
E outra vida que é pensada.
E a única vida que temos.
É essa que é dividida.
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira e qual errada,
ninguém nos saberá explicar;
E vivemos de maneira que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

Fernando Pessoa

10 maio 2008

Pangeaday

Mais de 1000 eventos pelo mundo celebraram hoje o Pangeaday. Uma festa global que uniu várias culturas através de filmes.
Esse é um dos que mais gostei.

Papiroflexia
http://www.pangeaday.org/

09 maio 2008

Sossego

"Em toda superioridade física ou intelectual, há uma fatalidade, a fatalidade que parece seguir através da história, os passos incertos dos Reis. É preferível não sermos diferentes do nosso próximo. O feio, o tolo, têm neste mundo a melhor sorte. Se não chegam a provar o gosto da vitória, pelo menos lhes é poupado o ressaibo das derrotas. Vivem como nós todos deveríamos viver: sossegados, indiferentes, sem preocupações. Não causam desgraça alheia nem são desgraçados por mãos alheias."
Oscar Wilde

05 maio 2008

Liberdade do homem

"Então, meus companheiros americanos: não perguntem o que seu país pode fazer por vocês – perguntem o que vocês podem fazer pelo seu país.
Queridos cidadãos do mundo: não perguntem o que a América irá fazer por vocês, mas o que, juntos, nós podemos fazer pela liberdade do homem."
Kennedy, em janeiro de 1961.

03 maio 2008

A vida é uma invenção


Documentário Vinícius, de Miguel Faria Jr.

"Quem já passou por essa vida e não viveu,
Pode ser mais mas sabe menos do que eu.
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu."
Vinícius de Moraes

01 maio 2008

Primeiro de Maio

"Frases que nunca mais ouviremos: "Madame, sua liteira chegou", "Quem será o center-forward do scratch?" e "Trabalhadores do mundo, uni-vos". Os trabalhadores do mundo são vítimas da globalização perversa que aboliu as fronteiras para empregadores atrás de mão-de-obra barata e desregulada mas não para eles. Trabalhadores do mundo rico são prisioneiros das vantagens que conquistaram, que os impedem de competir com os trabalhadores do mundo pobre. Estes não podem ser solidários com suas reivindicações de tarifas altas para proteger seus empregos pois perderiam os seus. Nenhuma solidariedade proletária é possível num mundo em que o capital vai atrás do lucro onde quiser e o único internacionalismo permitido ao trabalho é a migração ilegal e o tráfego tétrico de empregos exportados cruzando com desemprego importado.
Economistas neoclássicos dizem que o exercício continuado do livre comércio dará razão ao ur-clássico David Ricardo, que no século 18 teorizou que Estados nacionais explorando suas respectivas vantagens em recursos naturais, capacidade industrial e mão-de-obra acabariam se complementando e todos ganhariam com isto, inclusive os trabalhadores, no melhor de todos os modelos econômicos possíveis. Mas o Ricardão tinha outra teoria, que chamava de "a lei férrea dos salários". Para ele, mesmo no melhor dos mundos teóricos, os salários tenderiam a se estabilizar ao nível da subexistência mínima, já que o trabalho é um recurso universalmente disponível e infinitamente substituível.
A organização do trabalho a partir do século 19 e o crescimento dos sindicatos parecia desmentir esse fatalismo de Ricardo, pois os trabalhadores aos poucos deixaram de ser o lado indefeso do modelo ideal. A legislação social, em maior ou menor grau, nos países industrializados - ou em países como o Brasil, em que a legislação precedeu a industrialização - prevenia a teoria de Ricardo, pelo menos em teoria, e as condições para a confirmação da sua lei férrea. A globalização restaurou estas condições. O trabalho organizado perde a sua força até em países como a França e a Alemanha, onde sindicatos e movimentos sociais sempre tiveram grande participação política, e a receita para "responsabilidade" econômica passa pela flexibilização de leis trabalhistas e outros eufemismos para roubar do trabalho o seu poder de barganha. Trabalhadores do mundo inteiro hoje não têm nada a perder a não ser uns 200 anos de luta, mais ou menos. O pensamento de David Ricardo estava tristemente certo. Só foi um pouco prematuro."
Luis Fernando Verissimo