14 maio 2008

A Vida Menor

"A língua girava no céu da boca. Girava! Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre.

Eu, ela, elaeu.

Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.

A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.

Consumia-nos em piscina de aniquilamento. Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.

A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência.

O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor."

Carlos Drummond de Andrade - Amor Natural

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