29 novembro 2008

A Casa da Palavra

“Nosso trabalho é ouvir as pessoas que estão sofrendo”. As palavras de Sílvia Mayer Marinho, estudante de Psicologia em Blumenau, Santa Catarina e voluntária na tragédia que se abateu sobre o Estado, revelam que uma escuta é essencial contra a dor. A manchete da Zero Hora é precisa: “A eficiente máquina contra a destruição”. Então, eis aí a escuta contra a dor, contra o sofrimento, contra a destruição que o silêncio pode causar em uma vida. Ouvir as pessoas que estão sofrendo é retirá-las agora dos escombros do desalento, do soterramento da angústia, do frio da indiferença, da tragédia de um luto a ser feito. Ouvir as pessoas é convidar à casa da palavra – uma casa que se constrói e se modifica à medida em que se fala para alguém que escuta. Escutar significa aqui não oferecer uma casa pronta, igual para todos. Escutar significa ouvir a diferença radical de cada um diante de uma dor particular, singular e única - vivida por cada um a seu modo e de seu jeito. Escutar significa a construção de um lugar onde essa diferença se transforme de dor em trabalho - trabalho de luto.
Leonardo Ferrari

“27 de novembro de 2008, Zero Hora, CARLOS ETCHICHURY | Blumenau (SC)
EMERGÊNCIA EM SC
A eficiente máquina contra a destruição Estudante do 6º semestre de Psicologia, Silvia Mayer Marinho, 40 anos, senta em um dos bancos do salão paroquial da Catedral São Paulo Apóstolo, no centro de Blumenau, transformado em um gigantesco abrigo, para contar a sua rotina:
– Hoje (ontem) uma senhora teve uma crise ao lembrar que levou nos braços um sobrinho de oito meses, morto por um deslizamento. Ontem, ouvi uma mulher contando que perdeu um vizinho soterrado ao voltar para casa para buscar um celular. Agorinha mesmo um senhor falou que na comunidade dele, no Morro do Baú, uma família inteira prefere morrer soterrada a deixar a casa ameaçada... As pessoas precisam falar de sua dor.
Silvia é um dos centenas de voluntários mobilizados para amenizar sofrimentos de vítimas da maior tragédia da história do Vale do Itajaí.
– Nosso trabalho é ouvir as pessoas que estão sofrendo – conta Silvia.
A participação de voluntários como Silvia é facilitada graças a uma azeitada máquina que envolve o município, o Estado e a sociedade civil organizada – numa das mais bem sucedidas articulações da Defesa Civil no país.(...)”
Fonte: Carlos Etchichury in Zero Hora, 27/11/2008
Emprestado de Blog de Leonardo Ferrari

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