31 janeiro 2009

Escolhas

Não deu para ver a cara do Cheney, mas o Bush ficou impassível ao ouvir a frase do discurso de posse do Obama que mais os atingia. Obama disse que era falsa a escolha entre a segurança e os ideais da nação, condenando o uso de tortura e dos outros métodos ilegais no combate ao terrorismo permitidos por Bush e defendidos por Cheney. A cara do Cheney devia ser de desdém com a ingenuidade de quem pensa que se pode ganhar uma guerra suja com mãos limpas, ou que haja outra escolha. Mas a frase foi uma das poucas aplaudidas de um discurso mais sóbrio do que empolgante. E foi pouco comentada depois – embora a acusação que continha seria a mais arrasadora para a posteridade do Dick e do George, se o tal julgamento da História funcionasse.

A frase do Obama se aplica a várias outras escolhas falsas, na História e nas nossas vidas. É falsa a escolha entre combater o crime com eficiência e respeitar os direitos humanos, uma discussão cotidiana entre nós. É falsa a escolha entre educação de massa sem qualidade e educação de qualidade para poucos, outra questão que nos divide há anos. É falsa a escolha, implícita em muitas biografias políticas, entre ser corrupto e fazer muito e ser ético e não fazer nada. E, já que estamos no meio desta crise não só econômica como de velhos conceitos, é falsa a escolha entre estado regulador e ideais democráticos. O Obama, sem querer, também estava se dirigindo aos que insistem em equacionar liberdade de mercado e Liberdade com maiúscula.

Luis Fernando Verissimo

30 janeiro 2009

Coragem

Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada,os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar.Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem! Avance firme e torne-se Oceano!
Osho

29 janeiro 2009

O que nos falta

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar

Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar

E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar

E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar

Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar

Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar

E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou

E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou

E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais

Que o mundo compreendeu, e o dia amanheceu em paz.

Vinícius de Moraes

28 janeiro 2009

Budismo

"Gautama Buda, cujo nome original era príncipe Sidharta, foi fundador do Budismo, uma das principais religiões do mundo.

Sidharta era filho de um rei que governava Kapilavastu, cidade do Nordeste da Índia, próxima a fronteira do Nepal. Supõe-se que Sidharta tenha nascido no ano de 563 a.C., em Lumbini nos limites do atual Nepal.

O Príncipe Sidharta foi criado no luxuoso palácio real e nunca lhe faltaram os confortos materiais. Apesar disso, sentia-se insatisfeito. Observou que os seres humanos eram na maioria pobres e sempre necessitados. Mesmo os ricos em geral, mostravam-se frustrados e infelizes; e todos os homens estavam sujeitos a doença e acabavam morrendo. Com certeza, pensou Sidharta, deve haver algo na vida além dos prazeres passageiros que são muito cedo apagados pelo sofrimento e pela morte.

Aos vinte anos, Gautama decidiu abandonar seu modo de vida e deixar o palácio e se devotar completamente a procura da verdade com a mulher e seu filho pequeno para se tornar um pobre andarilho.

Durante anos, Gautama tentou tornar-se asceta, sofrendo por muitos anos com jejuns extremados e automortificação corporal. Percebeu, entretanto, que atormentar o corpo só atrapalhava o seu cérebro, sem que fosse conduzido pra mais perto da verdadeira sabedoria. Voltou portanto a comer normalmente, abandonando o asceticismo.

Aos 35 anos de idade, numa tarde sentado sob galhos de uma figueira gigante, encontrou a sabedoria para transformá-lo em um Buda, um “ente iluminado”.

Iria passar os próximos 45 anos de vida pregando sua nova filosofia para quem estivesse disposto a ouvi-lo.

Ao morrer, havia convertido milhares de pessoas. Seus discípulos memorizaram muitos de seus ensinamentos que foram passados oralmente para as próximas gerações.

Os principais ensinamentos de Buda podem ser resumidos no que os Budistas denominam “Quatro Nobres Verdades”:

1- A vida humana é intrinsecamente infeliz.
2- A causa da infelicidade é o egoísmo humano e seus desejos.
3- O egoísmo individual e os desejos podem ser dominados.
4- O método para escapar do egoísmo e do desejo é chamado “Caminho dos oito degraus”: visão, pensamento, discurso, ação, modo de vida, esforço, consciência e meditação corretos."
Ricardo Barrionuevo

22 janeiro 2009

Começando bem o ano

O Beijo - Gustave Klimt

O prefeito de Guanajuato (México), Eduardo Romero Hicks, arranjou uma grande dor de cabeça ao proibir que os casais se beijem de forma apaixonada em sua cidade e agora corre o risco de ser expulso do cargo pela oposição e o próprio partido.

O prefeito determinou que os "beijos olímpicos"(beijos quentes) sejam punidos com penas de 36 dias de prisão e 1.500 pesos (107 dólares) de multa.

A indignação tomou conta da população de Guanajuato, que é promovida como "Cidade do Romance".

O prefeito oferceu uma coletiva de imprensa no conhecido 'Callejón del Beso' (Rua do Beijo) e tentou acalmar os ânimos esclarecendo que as pessoas podem se beijar livremente, desde que se evite "os agarramentos olímpicos", o que, segundo ele, implica em pegar nas partes íntimas da pessoa.

Para demonstrar seu argumento, pediu que uma funcionária da prefeitura beijasse o marido diante da imprensa, o que fez os presentes começarem a gritar: "Multe os dois! Multe os dois!".

21 janeiro 2009

Anais III


"Você vive assim, protegido, em um mundo delicado, e você acredita que está vivendo. Então você lê um livro... ou você fazer uma viagem... e você descobre que não está vivendo, que está hibernando. Os sintomas de hibernação são facilmente detectáveis: primeiro, agitação. O segundo sintoma (quando hibernar se torna perigoso e pode mortar): ausência de prazer.

Isso é tudo. Parece ser uma doença inócua. Monotonia, tédio, morte. Milhões vivem assim (ou morrem assim), sem saber. Eles trabalham em escritórios. Eles dirigem carros. Eles fazem piqueniques com as suas famílias. Eles criam crianças.

E então algum tratamento de choque aparece: uma pessoa, um livro, uma canção, que te desperta e te protege da morte [ou da hibernação]."

Anais Nin

18 janeiro 2009

Anais II

"Imaginei por um momento um mundo sem Henry. E jurei que no dia que perder Henry, eu matarei minha vulnerabilidade, minha capacidade para o verdadeiro amor, meus sentimentos, com a devassidão mais frenética. Depois de Henry não quero mais amor. {…} Depois de não ver Henry por cinco dias por causa de mil obrigações, não pude suportar. Pedi a ele para se encontrar comigo durante uma hora entre dois compromissos. Conversamos por um momento, então fomos para um quarto do hotel mais próximo. Que necessidade profunda dele. Só quando estou em seus braços as coisas parecem direitas. Depois de uma hora com ele, pude continuar o meu dia, fazendo coisas que não quero fazer, vendo pessoas que não me interessam."
Anais Nïn

15 janeiro 2009

Anais

I want to burn, even if I break myself. I live only for ecstasy. Nothing else effects me. Small doses, moderate loves- all these leave me cold. I like extravagance, heat... sexuality which bursts the thermometer! I am neurotic, perverted, destructive, fiery, dangerous- lava, inflammable, unrestrained. I feel like a jungle animal who is escaping captivity.
Anais Nin

10 janeiro 2009

Mas o que é vida afinal?

Era só isso
Que eu queria da vida
Uma cerveja
Uma ilusão atrevida
Que me dissesse
Uma verdade chinesa
Com uma intenção
De um beijo doce na boca...

A tarde cai
Noite levanta a magia
Quem sabe a gente
Vai se ver outro dia
Quem sabe o sonho
Vai ficar na conversa
Quem sabe até a vida
Pague essa promessa...

Muita coisa a gente faz
Seguindo o caminho
Que o mundo traçou
Seguindo a cartilha
Que alguém ensinou
Seguindo a receita
Da vida normal...

Mas o que é
Vida afinal?
Será que é fazer
O que o mestre mandou?
É comer o pão
Que o diabo amassou?
Perdendo da vida
O que tem de melhor...

Senta, se acomoda
À vontade, tá em casa
Toma um copo, dá um tempo
Que a tristeza vai passar
Deixa, prá amanhã
Tem muito tempo
O que vale
É o sentimento
E o amor que a gente
Tem no coração...
Emilio Santiago

06 janeiro 2009

Ser ignorado é uma das piores sensações que existem na vida!

'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível'

Um Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.
Plínio Delphino, Diário de São Paulo.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:

'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz. No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar. O que você sentiu na pele, trabalhando como gari? Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou? Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real? Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.
O homem torna-se tudo ou nada, conforme a educação que recebe.
Fonte: Folha de São Paulo

03 janeiro 2009

Felicidade

"Meu Deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?"
Dostoiévsky - Noites Brancas