CALANDRINO: Tessa, meu bem querer, chegue um pouquinho pra cá!
TESSA: Cê deixe de me atentar. O homem tá lá pra morrer!
CALANDRINO: E eu tô doido pra viver!
TESSA: Não, Calandrino, qué o que?
CALANDRINO: Tessa, minha querida, esse é o natural da vida: comer, amar e morrer
ISABEL: O noivo dança com a noiva, é o natural.
TOFANO: Natural é a natureza, com essa não se discute.
TOFANO: Contra o sol, o vento, o amor, não é luta que se lute. Eu nunca nada implorei, a amigo ou inimigo, e palavra não diria que lembrasse coisa doce, se a sua beleza não fosse essa agonia e aflição, que obriga meu coração, para não morrer de míngua, a fazer da minha língua o arauto dessa paixão.
TESSA: Pro careca tem peruca, pro pecado, confissão. Pro corno existe a ilusão. Pro pobre, o dia de sorte. Só não vi jeito pra morte, mas não desisti 'inda não.
TESSA: Ninguém aqui traiu ninguém. Foi tudo só invenção.
FILIPINHO: Mentira, você quer dizer?
TESSA: Mas foi com boa intenção.
ISABEL: E vocês não têm piedade? Vocês não têm compaixão?
CALANDRINO: Pior se fosse verdade.
FILIPINHO: Que horror! Mas com que objetivo?
ISABEL: Pra que tamanha maldade?
TESSA: Pra esquentar vosso amor.
CALANDRINO: Deixar o fogo mais vivo!
ISABEL: Assim? Fazendo sofrer?
TESSA: A gente só dá o valor se tem medo de perder.
FILIPINHO: Pensei que ia morrer.
ISABEL E eu botei pra chorar.
CALANDRINO: Agora vocês se perdoam sem ter o que perdoar.
TOFANO: Que a beleza maior fique no escuro, configura crime contra a natureza, pois o belo, visto, e lembrado no futuro, provoca no homem o amor mais duro, revisitado, gera mais beleza.
MONNA: Engano seu. O amor nasce das sombras. Do que se imagina entre o escuro e a luz. Se queres o meu corpo e aos meus pés tu tombas, é só porque não podes ver quem te seduz.
(...)
TOFANO : Te amo... Te quero... És tudo... Por favor, quero te ver...
MONNA: Desejarás ter ficado mudo, no momento exato em que me conhecer.
TOFANO: Socorro!
MONNA: Vai...
TOFANO: Aaaaiii... Aaaiii...
TOFANO: Você? Como? Mas de que jeito?
MONNA: Eu mesma, Monna, prazer. Sua esposa de direito, agora também de fato.
TOFANO: Como foi que entrou no quarto?
MONNA: Pela porta, e por que não? Meu marido, minha casa, minha cama, meu colchão... Quem esperava chegar?
TOFANO: Esperava... Esperava... Esperava não lhe amar. Esperava morrer triste, sem nunca o amor achar. Da vida esperava pouco, queria nem esperar... Tudo mudou no momento em que eu descobri lhe amar.
MONNA: Mesmo? Que coisa boa... Parece uma outra pessoa...
TOFANO: Sou mesmo! Outro, por completo! A morte não foi em vão: a vontade de meu pai finalmente vem à tona. Casei com a senhora Monna, lhe dei um chão e um teto. Agora: filhos e netos!
MONNA: Que bom... Vindo de um marido... Isso hoje em dia é tão raro...
TOFANO: Seu amor me dá sentido, só agora vejo claro.
FILIPINHO: Paixão não é planta de roça, só cresce no natural.
ISABEL: Tantas voltas para encontrar o que tinha no quintal.
MASETTO: Que a paz, a concórdia e a alegria, brotem nos três casamentos.
CALANDRINO: São bons ventos...
MONNA: Quem diria...
TESSA: Diria que o amor é arte de ficar quando se parte e ver inteiro o que é parte. Que primeiro não é quinto, que parte do ovo é pinto e o pinto é parte do galo. Falo somente o que sinto, se falo é o mesmo que pinto e, se eu não sinto, me calo.
CALANDRINO: Do vinho restou um quinto, para nós sobrou um quarto, depois de rezar um terço, vai cada um pro seu berço, que nessa noite eu me farto! Eu muito falo e não minto, só digo o que é verdadeiro: a metade do que sinto já faz um amor inteiro.MASETTO: Metade de zero é nada. Espero a mulher amada, que já de mim nada espera. Se o amor é uma quimera, melhor é ganhar a estrada, que o dobro de zero é nada e nada é o dobro de zero. Já não tendo o que mais quero, vale tratar de viver de forma mais reduzida: comer, amar e morrer, é bom resumo da vida.
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