07 junho 2009

O Poeta e a Lua


Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua

Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria

O poeta, aloucado e branco

Palpa as nádegas da lua.

Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua

O poeta todo se lava
De palidez e doçura

ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco

Num delírio de volúpia.

O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto

E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua.

E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua

O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se pazígua...

O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece

No seu claustro de ciúmes.
Vinicius de Moraes

Nenhum comentário: