Até agora eu não sei se quem está aí é a Kendra Wilkinson ou a Holly Madison ou a Bridget Marquardt. Eu sei que a edição é de fevereiro de 2009, nos Estados Unidos, e o fotógrafo também não tenho certeza. Desde que comecei a ler Playboy, é assim. Desconcerto, encantamento, graça, delícia, confusão, deriva. Na minha formação, essa revista sempre foi referência. Grandes entrevistas? Grandes desenhistas? Grandes escritores? Tudo isso, mas, acima de tudo, elas. Peladas, semi-vestidas, à meia-luz, sob o sol, na cama, elas. A Playboy foi a primeira revista a, sem querer e sem perceber, entender Lacan: a relação sexual não existe. Existem os atos sexuais, porém “a” relação plena, total, sem falhas, sem tropeços, sem desequilíbrio, sem dor, sem brigas, não existe. E por quê? Porque a sexualidade humana não é natural, como a dos bichos. A sexualidade humana é totalmente artificial. Por isso o eterno fazer de conta, a eterna busca de um corpo que só existe na fantasia e as reticências para o próximo número, o próximo encontro, o próximo desencontro. Obviamente, a revista nada sabe disso. Ela nasceu para vender a existência da relação sexual, trazendo sempre em suas páginas os mais estapafúrdios conselhos e “dicas” sobre como beijar, o que fazer nas preliminares, o que dizer durante e como sair depois. E aí estava o mais engraçado da revista. Quem seria capaz de levar a sério uma babaquice dessas? A cada número a revista acabava desmentindo, sem querer, os números anteriores, trazendo agora sim, novas e atualizadas técnicas, como se o sexo fosse equivalente a trocar o pneu de um carro, tornando mais ridículo ainda todo esse esforço “editorial” em prol do “máximo” desempenho. Lá vinha o “especialista” pontificar, logo ali a bebida “certa”, um pouco antes, a roupa “adequada”, de repente, o lugar “quente”, encartado, o ranking dos “pontos de encontro”, tudo uma besteirada que ajudou e ajuda os homens e as mulheres a se interessarem mais pelos problemas das fantasias e da sexualidade. Viva a Playboy! A revista que, sem querer, fala do que nada sabe, diz mais do que pretende, se equivoca o tempo todo, e faz a gente tropeçar nas Kendras, nas Hollies e nas Brigites da vida.
Blog do Leonardo Ferrari
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