Deixa ver se eu entendi. Querem liberar a maconha e proibir a pesquisa histórica, mesmo para fins terapêuticos. É isso? Nacionalizar a maconha e privatizar o passado? Uma coisa não teria nada a ver com a outra se a atitude comum do brasileiro em relação à sua história não se parecesse com a letargia e a despreocupação que – dizem, eu nunca provei – caracteriza o barato da maconha. Agora mesmo, pode-se imaginar que muita gente marchará pelo direito de fumar maconha sem culpa, no que estará com toda a razão, mas não se prevê nenhuma grande manifestação popular contra a proposta de proibir para sempre o acesso a certos documentos históricos, com faixas dizendo “Queremos saber tudo sobre a guerra do Paraguai”. E no entanto o direito de conhecer o passado sem restrição deveria ser tão natural quanto o direito a um baseado descriminalizado. Não bastasse os militares sentados em cima dos dados e das dúvidas sobre o período da repressão vem essa ideia do segredo eterno para sonegar ainda mais à nação sua própria biografia. O objetivo é concluir que o passado não existiu e não se fala mais nisso. A presidente, dizem, aceitou a ideia do Sarney e do Collor, logo do Sarney e do Collor, contrariando o que deveria ser o seu instinto. Ó Dilma!
Luis Fernando Veríssimo, em 23/06/2011.
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