16 julho 2007

DANGER

Peço licença para incluir uma postagem do blog do Professor Leonardo Ferrari que retrata bem a hipocrisia da nossa sociedade.


PERIGO TOTAL

Subversiva, pornógrafa, maluca, delirante, ignorante, imbecil, devassa. Pode desenhar Guantánamo, pode desenhar a invasão do Iraque, pode desenhar as prisões secretas terceirizadas em países amigos aonde a tortura corre solta, pode desenhar os macdonalds, pode desenhar as cocascolas. Agora, pinto e xoxota, jamais! É um absurdo isso! Chocante! Prendam essa mulher! Terrorista.

Editora americana rejeita nudez de desenho
Os desenhos realmente são inofensivos. Mas uma editora americana decidiu não publicar uma série de livros para crianças de Rotraut Susane Berner. O problema? Desenhos de seios e de um pênis de meio milímetro.
Franziska Bossy e Elke Schmitter, Der Spiegel in UOL, 12/7/2007

É raro que um livro alemão gere interesse nos EUA, e os livros infantis, em geral, ficam completamente fora do radar. Assim, o deleite foi ainda maior na editora Hildesheimer Gerstenberg quando recebeu um pedido da fornecedora de livros infantis nos EUA Boyds Mills Press, que queria uma série de Rotraut Susanne Berner.
"Foi realmente uma sensação", disse Berner ao Spiegel Online. Entretanto, algumas mudanças teriam que ser feitas antes dos livros serem lançados ao público americano. Na primeira, os fumantes tinham que ser removidos das ilustrações. Mas isso não foi tudo. Uma imagem mostra uma cena de uma galeria de arte - e, por realismo, há um cartum de um nu pendurado na parede e uma estátua minúscula, de sete milímetros, de um homem nu em um pedestal.
As crianças americanas, obviamente, jamais conseguiriam lidar com tal exposição do corpo humano. A editora americana, meio sem jeito, pediu sua remoção.

A autora, nada surpreendentemente, considerou o pedido absurdo. O mini-pinto da estátua, salienta, não tem nem meio milímetro. E a mulher nua pendurada na parede? Não chega nem a ser um retrato realista da anatomia feminina. A editora americana ficou envergonhada de pedir as mudanças, diz Berner, mas tinha ainda mais medo da reação das mães e pais americanos, se "junior" fosse exposto a tal pornografia.
Para a autora, qualquer tipo de auto-censura está fora de questão. Ela disse que poderia até ter colocado barras pretas na frente dos pontos problemáticos, mas que a "censura invisível" era impensável. "Se você vai censurar algo, então o leitor deve ter consciência disso", disse ao Spiegel Online.

A editora americana, porém, não aceitou a proposta - afinal, quem quer chamar atenção das próprias supressões. Ou seja, a Hildesheimer terá que abdicar da honra de ser publicada nos EUA - e as crianças americanas estão seguras da chocante sensibilidade alemã. (...)

Tradução: Deborah Weinberg in UOL.

Pobres crianças. O que seriam delas se existisse liberdade de expressão nos Estados Unidos da América? In Boyds Mills Press we trust!

Fonte: desenhos de Rotraut Susanne Berner in Der Spiegel, 11/7/2007.

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