19 outubro 2007

Escute, Zé-niguém!

"Eles o chamam de homem comum. (...)
O futuro da espécie humana dependerá dos seus pensamentos e atos. No entanto, seus mestres e senhores não lhe dizem como você realmente pensa e o que você realmente é; ninguém ousa confrontá-lo com a única verdade que poderia fazer de você o senhor inabalável do seu destino. Você é livre apenas sob um aspecto: livre da autocrítica que poderia ajudá-lo a governar a sua própria vida. (...)
Você é um 'pequeno homem' (um zé-ninguém), um homem comum. Reflita sobre o duplo sentido dos termos "pequeno" e "comum".
Não fuja! Tenha a coragem de olhar para si mesmo! (...)
Você difere do grande homem apenas sob um aspecto: o grande homem foi um zé-ninguém, mas desenvolveu uma única qualidade importante. Reconheceu a pequenez e a estreiteza dos seus atos e pensamentos. (...) Um zé-ninguém não sabe que é pequeno e tem medo de saber. Esconde sua pequenez por trás de ilusões de força e grandeza, da força e grandeza de alguma outra pessoa. Sente orgulho de seus generais, mas não de si mesmo. Admira uma idéia que não teve. Quanto menos entender alguma coisa, mais firme é sua crença nela. (...)
Você não consegue preservar as suas conquistas nas batalhas sangrentas das barricadas de Paris e Viena, na Revolução Russa e na Guerra da Secessão. Sua Paris resultou em Pétan e Laval; sua Viena, em Hitler; sua Rússia, em Stálin; e seus Estados Unidos podem acabar sob o comando da Ku Klux Klan (nota do blog: o livro foi escrito em 1946, quando os EUA ainda não conheciam Martin Luther King e estavam mergulhados em um sistema racista - se ele pudesse atualizar a edição, certamente aqui constaria Lyndon Johnson, Nixon, Ford, Regan e os Bush). Você tem mais sucesso em conquistar a liberdade do que de conservá-la para si mesmo e para os outros. Depois de lutar para conseguir sair do pântano, você acaba afundando em outro pior. Você mesmo se escraviza. Seu feitor é você mesmo. Ninguém tem culpa de sua escravidão a não ser você. Só você mesmo pode ser seu libertador."
Wilhelm Reich

2 comentários:

Maria do Rosário Sousa Fardilha disse...

Este livro teve um impacto enorme quando o li, por volta dos 20 anos. Decidi não militar em nenhum partido político. o que não significou ser apolítica ou anarca :)

Nasser de Melo disse...

Bom, só posso dizer que teve uma enorme influência sobre mim também, e bem nassa idade.