20 março 2008

O coelho e a tartaruga

"A revista inglesa 'The Economist' analisou nessa semana as diferenças dos modelos econômicos de Brasil e Argentina e destacou porque os “vagarosos brasileiros estão alcançando a veloz economia argentina”.
“Pegue duas economias vizinhas, ambas extremamente dependentes de preços de commodities para obter bons resultados na balança comercial. Aplique a uma delas uma política monetária ortodoxa e veja ela acolher investidores estrangeiros e adotar o câmbio flutuante. Entregue o comando da outra a empreendores que recorreram à fixação de preços, proibição ou taxação de algumas de suas próprias exportações, e que mentem abertamente sobre a taxa de inflação. O resultado? O malandro – Argentina – continua a crescer a uma taxa de 9%, enquanto, por contraste, o bem comportado Brasil segue vagaroso. É hora de reescrever os livros de economia? Os argentinos acham que sim. Mas há sinais de que o Brasil ainda pode chegar na frente.
Os brasileiros adotam uma política econômica mais cautelosa, voltada, principalmente, para o combate à inflação e para evitar o risco de um grande déficit na conta corrente do país. Na Argentina, essa cautela é sinal de fraqueza. Os políticos do país parecem determinados a mostrar que tudo que a América Latina precisa para crescer tão rápido quanto a China é arrancar a camisa-de-força do ‘neoliberalismo’ e de seus principais patrocinadores – aqueles horrorosos detentores de títulos e o FMI.
Então, apesar de os dois países terem se beneficiado enormemente das condições externas favoráveis, o Brasil está melhor posicionado do que pode parecer. Por causa da baixa inflação, em termos reais o crescimento da renda brasileira começou a alcançar a dos argentinos. Mas o Brasil tem muito mais espaço de manobra se a situação piorar. A Argentina, em contraste, se colocou em uma posição delicada. Qualquer diminuição da receita gerada pelas exportações prejudicaria sua base de arrecadação fiscal, e o Banco Central argentino dificilmente poderia imprimir mais dinheiro do que o nível atual. O investimento direto estrangeiro na Argentina chegou apenas a cresceu 12%, no ano passado, comparado ao aumento de 84% (um recorde de 35 bilhões de dolares) de investimentos externos no Brasil. Os brasileiros podem ser perdoados por acessos ocasionais de inveja em relação aos vizinhos, mas coisas boas acontecem para quem sabe esperar.”
The Economist, em 20/03/2008.

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