04 dezembro 2008

É sempre amor

O Amor é uma merda! Se eu pudesse afastar de mim um sentimento humano, afastaria o Amor. Juro por tudo o que me é mais sagrado: se eu pudesse, pegava o Amor que há dentro de mim e jogava na lata do lixo.
Faria melhor: pegava o Amor que há em mim e trocava pelo equivalente em ódio, em ganância, em insensibilidade, em descrença ou em deboche. Assim eu estaria apto para o mundo moderno: homem pró-ativo e competitivo; máquina de ganhar e fazer dinheiro; homem de negócios, escusos ou lícitos, pouco importa. O Amor eu extirpava de mim, de vez por todas, pra sempre.
Se a Medicina permitisse, eu trocava o meu coração – símbolo do Amor – e botava no lugar dele mais um estômago, pra poder comer mais, coisa muito melhor. Se a Medicina permitisse, trocava o meu coração por cargas extras de testosterona (virilidade inacreditável e sobre-humana, conversão garantida em atleta sexual, coisa muito melhor).
Se pudesse afastar de mim um sentimento, afastaria o Amor, esta merda que só me faz sofrer. Foi assim, desde sempre; sofri sempre que amei. Uma, duas, três, incontáveis vezes, desde o dia em que senti no peito essa coisa desgraçada que é o Amor. O Amor é uma fraqueza, uma doença, é uma vergonha, uma praga. Minha desgraça foi nascer com esse defeito: o Amor.
Primeiro o Amor à Família: Avós, Pais, Irmãos, Tios, Primos e Sobrinhos. Amor dos grandes, Amor incondicional. Daí a morte – fim de quem vive – leva-nos os entes queridos, sem dó. Sabe lá o que é enterrar alguém que você ama, amigo? Sabe o que é ficar dias à beira de uma UTI, à espera de um milagre, e receber a notícia de que a morte, uma vez mais, levou consigo alguém que era tão nosso? E o peito aberto por uma chaga que nem o tempo é capaz de fechar. Isso é o Amor. O Amor é uma merda!
Depois vem o Amor às mulheres: amores platônicos, reais, possíveis, impossíveis, passageiros, infantis, amadurecidos. Meu primeiro Amor se chamava Pietra - atleticana, linda por sinal, com seus enormes olhos verdes - e nós só não casamos porque tínhamos cinco anos de idade, à época. Depois dela, houve outras: boas e más, lindas e feias, mais velhas e mais novas, atleticanas ou não.
Mulheres olham dentro dos olhos da gente e juram Amor pra vida inteira. De repente elas esquecem tudo, fica o dito pelo não dito, te trocam por um playboy filho da puta de 30 anos de idade, que vive às custas da família estudando pra fazer concurso público pra virar Juiz de Direito, e você só não morre de Amor porque aos 20 anos de idade o Amor arrebenta a gente, mas não mata. Isso é o Amor. O Amor é uma merda!
Há, também, o Amor por um time de futebol. Você lá, com seis anos de idade, vivendo seus dias de infância, na inocência de que tudo na vida vai ser pura alegria, até que ouve um nome mágico que toma de assalto a sua alma e que te absorve toda a atenção: CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE!
Após o nome, vem a imagem representada pelo sagrado manto vermelho e preto. Ao fundo, você ouve: “Atlético, Atlético, conhecemos teu valor. E a camisa Rubro-Negra só se veste por Amor!”. E, sem saber o porquê, os pêlos do teu corpo ficam arrepiados e você cai num choro copioso que só acaba quando um adulto te diz: “Piá, esse teu choro é Amor!”. E você se torna Atleticano, de uma vez por todas e para sempre!
Tomado pelo Amor, você passa a viver a vida do seu time e, sobretudo, passa a viver pelo seu time. Chova ou faça sol; Baixada, Couto ou Pinheirão; Libertadores ou Segunda Divisão; Caçula & Biluca ou Assis & Washington; Vitórias ou Derrotas; na Saúde ou na Doença; nada disso tudo importa, afinal você é um ATLETICANO e vive pelo – e para – o Atlético!
Por ser ATLETICANO, você ama, e sofre, e chora, e mata pelo Atlético. Por ser ATLETICANO, você passa a viver em função do Atlético. Por ser ATLETICANO, você vira um doente cuja vida depende dos tubos e dos aparelhos a que está ligado. Você respira Atlético, alimenta-se de Atlético e dorme Atlético, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, pela vida inteira.
Sem o Atlético você morre e, se não morrer, perde grande parte da razão de estar vivo! Isso é o Amor, meu Amigo! Daí um leitor te manda um e-mail pedindo: “Rafael, escreva uma coluna para motivar o torcedor ATLETICANO a ir domingo à Arena apoiar o Atlético!”.
Eu, colunista obediente, escrevo esta coluna pra dizer que nasci predestinado ao Amor. O Amor é uma merda e por causa dele sofri mais do que um animal. Pelo Amor, diversas vezes “rastejei num chão coberto de giletes”, como diria Vinícius de Moraes, num de seus mais belos poemas.
Quem nasce predestinado ao Amor não escapa dele nunca, tampouco consegue retirar de si este sentimento ou trocá-lo por outro sentimento menos nobre. Quem nasce predestinado ao Amor ama e por isso chora as perdas dos entes queridos, chora a partida das mulheres e chora a derrota do seu time querido.
Quem nasce predestinado ao Amor ama e por isso ganha o prazer – imensurável, insubstituível e indescritível - de conviver com seus entes queridos, de amar as mulheres, de comemorar os triunfos do seu time querido e de viver, plenamente, como um homem, sem fugir das delícias e das derrotas que fazem parte da vida!
“Rafael, escreva uma coluna para motivar o torcedor ATLETICANO a ir domingo à Arena apoiar o Atlético!”.
Pois eu escrevo que a grande motivação para todo ATLETICANO ir à Arena no domingo está no simples fato de sermos ATLETICANOS, de reconhecermos no Atlético nosso Amor (na saúde e na doença), de reconhecermos no Atlético nossa razão de viver e de reconhecermos no Atlético nossa própria vida.
O Amor é uma merda? Que nada! O Amor é fundamental. Se eu pudesse exacerbar em mim um sentimento humano, faria crescer o Amor. Pegaria em mim o que há de ódio, de ganância, descrença e deboche e trocaria por Amor.
Iria além: se a Medicina permitisse, botava pra bater no meu peito outro coração, e ao Médico só faria uma exigência: “Doutor, bota pra bater no meu peito outro coração Rubro-Negro, daqueles bem ATLETICANOS, parecido com este velho coração que eu carrego há 33 anos – 26 dos quais dedicados ao Atlético – coração que já levou muita porrada, é verdade, mas que Ama o Atlético, incondicionalmente, desde 1982. E assim será até morte, fim de quem vive. Como deve ser!
Domingo, Arena da Baixada, 17 horas: Atlético em altas doses, pra quem tem coração Rubro-Negro e sangue forte. Estaremos lá.
Rafael Lemos

Nenhum comentário: