09 agosto 2010

DOSTOIÉVSKI, OBRIGADO




Para os incrédulos na instituição, ou na religião institucionalizada, mas que, diferentemente dos ateus, crêem em algo maior, mais forte, num Deus ou Energia, postamos um trecho retirado do livro 'O Idiota', de Dostoiévski, onde o personagem principal, o príncipe Míchkin, acusa o catolicismo de anticristão, não sem criticar o ateísmo também. Aí vai sua opinião sobre o catolicismo:

- Primeiramente é uma religião anticristã (…) – Em segundo lugar, o catolicismo é até pior do que o ateísmo, na minha opinião. Sim, esta é a minha opinião. O ateísmo apenas nega, ao passo que o catolicismo falseia o Cristo, calunia, difama e se opõe ao Cristo. Prega o anticristo! Declaro e assevero que prega o anticristo. Esta é a convicção a que cheguei e que me atribulou. O catolicismo romano não consegue sustentar a sua posição sem uma política universal de supremacia e exclama “Non possumus!” (não podemos!*). Assim, a meu ver, nem religião é, mas tão somente uma espécie de tentativa de continuação do Império Romano Ocidental; e tudo nela está subordinado a esta idéia, começando mesmo pela fé. O Papa se apoderou da terra, seu trono terrestre, e empunhou o gládio. Desde então tudo continuou da forma antiga, sendo que à espada, ao gládio, eles juntaram a mentira, a fraude, o embuste, o fanatismo, a superstição e a vilania. Divertiram-se com os mais santos, mais sinceros e mais ferventes sentimentos do povo. Trocaram tudo, tudo, pelo dinheiro, pela vil força terrena. E não é justamente isso que ensina o Anticristo? Como poderia o ateísmo deixar de provir dele? O ateísmo emergiu do próprio catolicismo romano! Este gerou aquele. Começou pelos seus adeptos: poderiam eles crer em si próprios! Um se fortaleceu com a reação contra o outro. Um se fortaleceu contra o outro. Um foi procriado pela mentira e pela incapacidade espiritual do outro. Ateísmo! Entre nós são só as chamadas classes excepcionais que não crêem, aquela camada que conforme tão bem se expressou Evguénii Pávlovitch [um dos personagens do romance], perdeu as suas raízes. Mas aí pela Europa uma formidável massa de gente está começando a perder a fé, um pouco por causa da treva e da mentira e muito, principalmente agora, por causa do fanatismo e do ódio da igreja e da cristandade. (O Idiota, Dostoiévski, Fiódor. Editora Martin Claret, trad.: José Geraldo Vieira, 2006)

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