21 setembro 2010

Divino


Eu devo ter sido sacerdotisa de Afrodite em outra encarnação, daquelas que se prostituiam em sua honra nos templos e através do ato sexual realizavam trabalhamos mágicos, transformando sua vida e de quem as procurasse, ao mesmo tempo em que louvavam e exaltavam os magníficos e avassalarores poderes de sua Deusa.

Ou vai ver eu era uma Bacante. Uma sacerdotisa que seguia o deus do vinho, que vivia em êxtase e constante frenesi, espalhando alegria e leveza por onde passasse, nunca deixando-se prender pelos laços enganosos da paixão ou do sentimento de posse.

Porque é assim, como sacerdotisas de ambos os deuses, que vivo.

Eu acredito que o sexo seja um meio de se conectar com Deus. Ou os deuses. Ou o Universo, uma força maior, divina, transformadora, sobrenatural, seja lá qual o nome que você queira dar para isso.

Eu acredito em seu poder rejuvenescedor da alma e do corpo, a cura para muitas aflições que acometem a ambos.

Não consigo equiparar o êxtase do orgasmo a qualquer outro tipo de transe ritualístico, que me perdoem os religiosos mais fervorosos, católicos carismáticos, derviches, evangélicos pentecostais, praticantes de cultos-afro ou qualquer outro tipo de culto onde a existência da epifania seja pregada.

Nada bate o poder do orgasmo e, ele é, também, um canal para o divino, é, em si, uma experiência religiosa.

Um momento onde se perde a consciência, onde se é transportado para um outro mundo.

Uma pequena morte, como bem sintetizam os franceses.

O sexo, assim como todos e outros cultos, tem um ritual. E esse ritual, se bem feito, é belíssimo e encaminha seus seguidores ao êxtase, puro e certo.

Ele começa com a simples intenção de se praticar o ato.

E então o jogo, ancestral, mágico e misterioso, começa.

São olhares, sorrisos, cheiros, gestos, comportamentos, tom de voz, palavras, toques, movimentação são sinais, e são todos os sentidos voltados unica e especificamente para a concretização de seu objetivo: fazer sexo.

Nossos sentidos se enebriam, nosso corpo passa a agir de modo diferente, tem reações involuntárias, nossas pupilas dilatam, nossa voz fica um tom mais baixa, quase sussurrante, nosso aparelho respiratório se espande, nosso coração bombeia sangue com mais rapidez, mudando todo o funcionamento de nosso corpo, nosso cheiro, nossa percepção de realidade, nossas atitudes.

É uma droga poderosa. A mais perfeita delas.

Toda a máquina chamada corpo humano se dobra ao poder do sexo. E o serve. Fiel e copiosamente.

E tem sua recompensa. Alguns segundos de felicidade superior, enlevo transcedental, fagulhas de divindade que correm em nossas veias, a verdadeira fonte da juventude. Não só física.

Emocional. Espiritual.

O sexo é sagrado. E por ser tão lindo e poderoso, foi demonizado, foi proibido.

Mas adivinhem? Ele não é.

Ele não é.

Sablestarr - Blog A Pecadora

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