30 setembro 2010

Bolsa família

José Guilherme de Araújo Jorge - Migalhas

O resto de teu prato, o resto
de milhares de outros pratos enfastiados
são o autoflagrante do crime sem protesto
perpetrado- por aqueles que têm pão e teto
e a segurança de seu próprio nome,
contra os que vivem sem lar sequer
e os que caem esquálidos de fome!
Como uma gota d'água pequenina
a gigantesca massa de um oceano
pode fazer, um dia, transbordar,
é essa migalha, - a sobra e o desperdício, -
que há de fazer rolar num dia adiante
no mais sombrio e rude precipício
e avalanche de fome e da miséria!
E essa avalanche há de arrastar, passando,
a humanidade toda,
e há de deixar um campo devastado
só com o sangue dos homens adubado
para uma nova criação...
Das ruínas de uma tal devastação
dos destroços e escombros
da nossa humanidade derrubada,
surgirá uma outra humanidade mais perfeita
e uma mentalidade mais formada!
É essa migalha de pão
que tu jogaste fora sem notar,
- a gota pequenina que há de um dia
fazer todo um oceano transbordar!

29 setembro 2010

Collab Cover

Não-possessividade

Se toda a existência é una e se a existência toma conta das árvores, dos animais, das montanhas, dos oceanos, da menor folha de grama à maior estrela, então também tomará conta de você.

Porque ser possessivo? A possessividade mostra simplesmente uma coisa, que você não pode confiar na existência. Você tem que ter um seguro só para você, segurança para você, não para o outro; você não consegue confiar na sua existência.

Não-possessividade significa basicamente confiar na existência. Não há nenhuma necessidade de possuir, porque o todo já é nosso.

Osho

27 setembro 2010

Liberdade

Viva e ame! Ame totalmente e intensamente - mas nunca contra a liberdade.
A liberdade deve permanecer o valor supremo.

Osho, em Não-Pensamento do Dia

23 setembro 2010

21 setembro 2010

Divino


Eu devo ter sido sacerdotisa de Afrodite em outra encarnação, daquelas que se prostituiam em sua honra nos templos e através do ato sexual realizavam trabalhamos mágicos, transformando sua vida e de quem as procurasse, ao mesmo tempo em que louvavam e exaltavam os magníficos e avassalarores poderes de sua Deusa.

Ou vai ver eu era uma Bacante. Uma sacerdotisa que seguia o deus do vinho, que vivia em êxtase e constante frenesi, espalhando alegria e leveza por onde passasse, nunca deixando-se prender pelos laços enganosos da paixão ou do sentimento de posse.

Porque é assim, como sacerdotisas de ambos os deuses, que vivo.

Eu acredito que o sexo seja um meio de se conectar com Deus. Ou os deuses. Ou o Universo, uma força maior, divina, transformadora, sobrenatural, seja lá qual o nome que você queira dar para isso.

Eu acredito em seu poder rejuvenescedor da alma e do corpo, a cura para muitas aflições que acometem a ambos.

Não consigo equiparar o êxtase do orgasmo a qualquer outro tipo de transe ritualístico, que me perdoem os religiosos mais fervorosos, católicos carismáticos, derviches, evangélicos pentecostais, praticantes de cultos-afro ou qualquer outro tipo de culto onde a existência da epifania seja pregada.

Nada bate o poder do orgasmo e, ele é, também, um canal para o divino, é, em si, uma experiência religiosa.

Um momento onde se perde a consciência, onde se é transportado para um outro mundo.

Uma pequena morte, como bem sintetizam os franceses.

O sexo, assim como todos e outros cultos, tem um ritual. E esse ritual, se bem feito, é belíssimo e encaminha seus seguidores ao êxtase, puro e certo.

Ele começa com a simples intenção de se praticar o ato.

E então o jogo, ancestral, mágico e misterioso, começa.

São olhares, sorrisos, cheiros, gestos, comportamentos, tom de voz, palavras, toques, movimentação são sinais, e são todos os sentidos voltados unica e especificamente para a concretização de seu objetivo: fazer sexo.

Nossos sentidos se enebriam, nosso corpo passa a agir de modo diferente, tem reações involuntárias, nossas pupilas dilatam, nossa voz fica um tom mais baixa, quase sussurrante, nosso aparelho respiratório se espande, nosso coração bombeia sangue com mais rapidez, mudando todo o funcionamento de nosso corpo, nosso cheiro, nossa percepção de realidade, nossas atitudes.

É uma droga poderosa. A mais perfeita delas.

Toda a máquina chamada corpo humano se dobra ao poder do sexo. E o serve. Fiel e copiosamente.

E tem sua recompensa. Alguns segundos de felicidade superior, enlevo transcedental, fagulhas de divindade que correm em nossas veias, a verdadeira fonte da juventude. Não só física.

Emocional. Espiritual.

O sexo é sagrado. E por ser tão lindo e poderoso, foi demonizado, foi proibido.

Mas adivinhem? Ele não é.

Ele não é.

Sablestarr - Blog A Pecadora

17 setembro 2010

Bienal de São paulo

Obras do artista Gil Vicente, que serão expostas na Bienal de São Paulo, que retratam ele mesmo realizando sonhos de boa parte dos brasileiros.

16 setembro 2010

O TEATRO MÁGICO - CURITIBA - 17/09/2010


Amanhã, 17 de setembro, estará em Curitiba a Trupe do Teatro Mágico (www.oteatromagico.mus.br).

Portanto, para os que gostam e os que ainda vão gostar, NÃO PERCAM! O show é simplesmente SENSACIONAL!

Um pouco para a moçada, do muito que vai rolar amanhã:





Informações:

Dia: 17/09/2010
Horário: 00h30
Local: Moinho Eventos
Endereço: Rua Des. Westphalen, 4000 . Rebouças.

INGRESSOS

MEIA-ENTRADA
1º Lote – Pista = R$ 25,00
2º Lote – Pista = R$ 30,00
3º Lote – Pista = R$ 35,00

PONTOS DE VENDA

Disk Ingressos
41 3315 0808/ www.diskingressos.com.br
Quiosque Shopping Mueller
Quiosque Shopping Estação
Quiosque Shopping Total

Yoguland Batel
41 3223-4591 / Al Dom Pedro II, 499

Bella Banoffi
41 3262-0004 / Rua Itupava, 1091, Alto da XV

Academia Hype
41 3018-9898 / Rua João Gualberto 1487, Juvevê

INFORMAÇÕES
41 3014-9006


OBSERVAÇÕES:

Meia entrada:

Estudantes mediante apresentação da carteira de estudante no ato da compra e apresentada juntamente com a carteira de identidade na portaria da casa de eventos. As carteiras de estudantes deverão estar dentro do prazo de validade.

Doadores de 1 kilo de alimento não perecível.

Doadores de sangue, mediante apresentação da carteira de doador

Idosos acima de 65 anos de idade.

Camarotes e mesas somente pelo Disk Ingressos (3315-0808)

Classificação Etária: 18 anos.

Pagamento em dinheiro.


14 setembro 2010

Quantos parceiros você já teve?

Quem leu com atenção a reportagem sobre Mulheres de 20, publicada esta semana no site de Época, deve ter notado uma informação para mim estarrecedora - a de que o número de parceiros sexuais das mulheres brasileiras no período entre 18 e os 40 anos é 1,5. Isso quer dizer que ao longo de um período de 22 anos, no esplendor da sua vida sexual, as mulheres dizem ter transado, em média, com menos de dois homens.

Diante de um número como esse, eu sou levado a pensar duas coisas.

A primeira é que eu vivo num universo social que não guarda qualquer relação com aquele em que vive a maioria das brasileiras. Não conheço nenhuma mulher que aos 40 anos tenha transado com apenas dois homens. Todo mundo com que eu converso já teve um número de parceiros muito maior, muito antes dos 40.

A outra coisa que essa estatística me sugere é que as mulheres mentem. Mesmo diante de uma pesquisa que promete anonimato e sigilo, elas talvez se sintam compelidas a parecer mais castas – muito mais castas – do que realmente são. Por que fariam isso? Para evitar discriminação. Se a sociedade é conservadora, não é o caso de sair apregoando por aí o número de seus parceiros sexuais. Não vai faltar quem chame de vagabunda uma mulher que seja livre.

Qual seria a realidade, então: a da mentira ou a do número reduzido de parceiros? Eu realmente não tenho opinião definitiva e aceito palpites inspirados sobre o assunto.

Mas, qualquer que seja a realidade estatística, a quantidade de parceiros é um assunto extremamente interessante. Ontem, falando sobre ele, lembrei de uma cena de Quatro casamentos e um funeral, aquela em que os personagens de Andie MacDowell e Hugh Grant conversam numa lanchonete sobre a experiência sexual de cada um. Ela vai fazendo as contas e conclui que já transou com 32 caras (“menos que Madonna, mais que princesa Diana”). Ele, sendo o personagem de sempre de Hugh Grant, não tem quase nada pra contar. E fica com cara de tonto. A cena deliciosa está no YouTube, infelizmente sem legendas em português.

Esse diálogo de filme resume, com elegância e delicadeza, a minha percepção sobre esse assunto: a de que os homens só têm a ganhar ao se envolver com mulheres experientes. Elas são atraentes, o sexo tende a ser melhor e as vivências anteriores facilitam o convívio. As mulheres com repertório são capazes de avaliar a qualidade do que experimentam. Gente sem experiência nem percebe que está diante de algo bacana – ou de uma coisa especialmente ruim.

Atenção: não estou defendendo a quantidade a qualquer custo. Experimentação é legal desde que aconteça no ritmo de cada um. Algumas pessoas começarão a transar aos 18 anos e chegarão aos 30 tendo tido 60 parceiros. Parece muito? São cinco por ano. Outros chegarão à idade adulta tendo o mesmo parceiro desde a adolescência, ou quase. O que é emocionalmente mais saudável? Depende da personalidade e da experiência de cada um.

A maneira à vezes insincera com que as mulheres agem em relação ao próprio passado está ligada ao comportamento dos homens. Muitos – talvez a maioria – não ficam confortáveis com a mulher que teve muitos parceiros. Está rodada, ouvi uma vez. Espera-se que o homem se apresente maduro e vivido diante das suas companheiras de sexo. Das mulheres, muitas vezes, se espera o contrário. O resultado dessas expectativas contraditórias é a mentira. O homem finge que sabe mais do que realmente sabe. A mulher esconde o que já fez.

O comportamento feminino reflete a lógica masculina. Eles adoram se gabar das suas conquistas, mas olham com estranheza para uma mulher que faça o mesmo. Então elas fazem cara de ingênua e não contam o que já fizeram antes dele. Os homens são públicos, quase grosseiros em discorrer sobre as suas preferências estéticas e sexuais, mas acham vulgar que as mulheres façam isso. Então elas se calam e deixam a gente pensar que são delicadas. E por aí vai. Acho que boa parte do que os misóginos chamam de “hipocrisia feminina” é resultado desse mal entendido, do teatro que as mulheres encenam para corresponder às expectativas injustas dos homens. Se eles dessem espaço para que elas falassem livremente teriam menos surpresas.

Mas é verdade que mesmo homens que não são machistas ficam um pouco ansiosos com o passado das mulheres com as quais se envolvem. É importante saber sobre os seus antecessores, mas a informação pode ser inquietante. Seres humanos tendem a funcionar por comparação e analogia, e nem sempre elas são favoráveis aos que chegam. Às vezes o cara anterior tinha muito dinheiro, ou era famoso, ou se tratava de um tremendo conquistador. E isso provoca insegurança. Ou então a mulher vem de um caso tórrido, de uma paixão arrebatadora, e você fica se perguntando se aquilo realmente já acabou. Nem sempre é fácil.

Minha experiência sugere que o problema de verdade não é a quantidade de parceiros, mas a qualidade de um deles. É aquele fulano específico, por ter isso ou ter aquilo, por ser assim ou assado, que pode causar insegurança masculina e atrapalhar a relação. Se a mulher já transou com 10, 30, 60 ou 90, que diferença isso faz? A meu ver, nenhuma.

Quem já teve muitos parceiros, de um jeito legal, traz para o namoro ou o casamento uma intensidade de sentidos e um vocabulário erótico maiores, que tornam mais densa e surpreendente a vida sexual. O sexo é um terreno em que os horizontes sempre podem ser ampliados. Alguns casais começam quase do zero e vão avançando juntos. Outros somam as experiências autônomas dos parceiros para avançar. Qualquer método é bom, mas eu acho o segundo mais divertido – e mais contemporâneo.

Ivan Martins, diretor executivo da Época

13 setembro 2010

A Origem da Estupidez



A autora do vídeo é uma romena chamada Cristina. Ela critica a iniciativa de Kirk Cameron e Ray Comfort de distribuir exemplares de “A Origem das Espécies”, de Darwin, com uma introdução de 50 páginas, expondo a visão dos criacionistas sobre o assunto.

11 setembro 2010

Ciência X Religião


Estamos condenados ao desentendimento se a única coisa que nos une é a constatação óbvia de que não há motivos para acreditar em Deus ou deuses. Ateísmo é uma conclusão pequena sobre um assunto que só é grande nas pequenas mentes.

Se nos unirmos porque vemos na ciência a melhor forma de obter conhecimento confiável e funcional sobre o mundo, se nos unirmos pela crença nos direitos universais de todos os seres humanos, se nos unirmos pelos ideais dos iluministas e enciclopedistas, se nos unirmos na vontade de tornar este mundo melhor por vias pacíficas e democráticas que abominam a morte, então não somos apenas ateus e agnósticos, somos também humanistas seculares.

E o humanismo secular já é, em alguns aspectos, um movimento bem-sucedido. Já existe uma organização internacional com mais de 50 anos, a IHEU, que é uma das poucas com coragem para denunciar a tentativa dos países da Organização da Conferência Islâmica (OIC), que todos os anos tentam passar uma resolução contra a blasfêmia na ONU. Hoje, 11 de setembro, é um dia especialmente adequado para lembrar que proibir a “blasfêmia” não vai evitar a perpetuação da barbárie no mundo.

A LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil) se inspira em organizações como a IHEU, como a BHA (British Humanist Association) e o Council for Secular Humanism.

Dawkins está certo em falar que juntar ateus é como arrebanhar gatos. Mas isso diz respeito a juntar ateus apenas por seu ateísmo.

Existem vários tipos de condutas em ateus. Não deveria surpreender a nenhum ateu que existam ateus agindo mal, porque o ateísmo é vazio em proposições quanto à conduta, justamente por não ser uma posição sobre conduta, mas sobre o que existe no mundo real. Muitos ateus como eu (talvez a maioria) compartilham valores na conduta intelectual – que é orientada pela ciência e pela filosofia – e na conduta moral, orientada pela universalidade de direitos enraizada na reciprocidade, no diálogo, e na empatia.

Estas condutas já receberam vários nomes e um deles é humanismo secular.

Não há promessas mirabolantes: um humanista secular não vai se tornar perfeito. Tanto quanto a ciência, que chega a respostas confiáveis por uma comunidade, o trabalho de elevar o status moral do mundo deve ser um trabalho não individual, mas coletivo, porém, não pode perder de vista que as raízes dos direitos universais são as capacidades e necessidades dos indivíduos. Por isso, culturas não valem mais que indivíduos. Se culturas não respeitam os indivíduos de alguma forma, devem mudar, e de fato mudam quando há um trabalho coletivo pela mudança.

E não me furto a dizer quais são algumas dessas culturas: é a nossa cultura, quando nega o direito civil ao casamento para homossexuais; é a cultura dos índios Suruwahá e outros, que praticam o infanticídio; é a cultura islâmica que obedece à lei da Sharia; é a cultura daquelas corporações que remuneram mal seus funcionários e trabalham pela via do “homem é o lobo do homem”.

Quem conhece o suficiente de ciência, de arte e de cultura sabe que indivíduos perfeitamente sábios simplesmente não existem. Sempre haverá perguntas sem respostas para qualquer Einstein, Jesus, Confúcio, ou Buda. Nenhuma parábola de Jesus, por exemplo, responde a problemas reais sobre o mundo que nos cerca – respostas bonitas não são respostas práticas.

Ficar fazendo discursos morais bonitos não ajuda ninguém a descobrir a penicilina, nem a investigar em que estágio um embrião humano pode ser considerado um ser que percebe a si mesmo (um indivíduo). Para ter respostas sobre o mundo, tiramos nossas pré-concepções e livros sagrados da frente dos olhos, olhamos em volta e arregaçamos as mangas para chegar a respostas difíceis de serem obtidas.

Obter respostas é tão difícil quanto construir um prédio – não é trabalho para um indivíduo. É trabalho para comunidades orquestradas em torno de uma meta comum.

Se os ateus querem fazer mais do que criticar, polemizar e desconstruir, precisam se unir em torno de uma meta comum.

Eu, um indivíduo, na minha ignorância e na minha esperança, escolhi o humanismo secular e a ciência. E você?
Eli Vieira, presidente da LHSB -Liga Humanista Secular do Brasil

10 setembro 2010

MEXA-SE




Não importa se você salta de aviões ou chuta sacos de areia. Não importa se gosta de fazer milagres com uma raquete, desafiar prédios de água numa prancha ou levantar 100kg de ferro. O que importa é sentir-se vivo!

Para aqueles que precisam de uma forcinha, um incentivo, esses quatro vídeos certamente servirão:

















04 setembro 2010

Senna



A Universal Studios liberou o primeiro trailer do documentário "Senna", que conta a vida do tricampeão da Fórmula 1. A película será lançada ainda neste ano, em homenagem ao aniversário de 50 anos do nascimento do brasileiro. O primeiro país onde o filme será exibido é o Japão, cujos cinemas já vendem ingressos para a estreia, marcada para o dia 8 de outubro. Ele chega no Brasil em novembro. A produção já tem página na internet no mercado japonês ( www.senna-movie.jp ). Em algumas salas, a venda de ingressos chegou a 60% do total de entradas disponíveis em apenas três dias. O filme será distribuído nos países que a Fórmula 1 visita. O cartaz do filme no Japão tem o título "Senna -- a história do maior piloto que já viveu". A produção é dirigida pelo britânico Asif Kapadia e tem várias imagens e declarações de arquivo, além de entrevistas inéditas com personalidades como Alain Prost, Ron Dennis e Frank Williams.

03 setembro 2010

Politicagens e lugar-comum



O processo eleitoral realmente mexe conosco.

Além de todas as discussões que emanam do próprio exercício da democracia, outras bem mais profundas se fazem presentes.



-Você vota em quem?

-Voto na Dilma.

-Na Dilma?! Mas por que na Dilma?

-Oras, porque a Dilma será como o Lula.

-Mas a Dilma não é o Lula!

-Sim, mas ela foi indicada por ele... e ela é mulher! Isso é muito bom!

-Mulher por mulher, por que não a Marina?

-A Marina? Não, não está preparada.

-Não está?! Ela foi senadora! E ministra, assim como a Dilma! Além disso, já deu provas de honestidade, de competência e de ideologia!

-Não sei... ela é tão sem sal! Tem cara de evangélica!

-Ela é evangélica...

-Taí um bom motivo para não votar nela!

-...



Motivos! Vários! Cada um tem o seu. Não voto no Beto porque as ruas estão completamente esburacadas! Não voto no Osmar porque ele está com a Dilma. Não voto na Dilma, ela tem um passado condenável na militância estudantil. Não voto no Serra, pois ele não me engana com esses sorrisos falsos. Não voto no Plínio, nem no Salamuni, Bergmann ou no democrata cristão. Nem tampouco no Robinson, Américo, Levy, Ivan, Avanilson. Política, minha gente! E viva a democracia!


Por isso eu não me aborreço quando alguém diz que vota em um candidato diferente do meu. Fico triste, sim, quando os argumentos para o voto são fracos ou comprados dos marqueteiros. Mas o que eu lamento, de verdade, é a falta de interesse que a maioria dos brasileiros têm pelo assunto. É a ausência de conhecimento político, de estrutura escolar para se criar um pensamento crítico a respeito de um determinado candidato. Sobre isso, o ótimo vídeo abaixo transporta um pouco do que eu quero dizer:




Por esses muitos brasileiros que não se interessam ou que foram forçados a não se interessarem, todos pagamos e sofremos pelos desmandos e falcatruas realizadas pelos seus eleitos.


A carga tributária brasileira é uma das mais altas do mundo. Em contrapartida, quem depende dos serviços públicos para qualquer coisa – QUALQUER COISA MESMO!! – está em maus lençóis. Filas se formam em hospitais e postos de saúde. A segurança pública é tão pífia que, entre a polícia e os bandidos, não sabemos quem devemos temer mais. O ensino público é precário, desestruturado por péssimos salários e por políticas que objetivam apenas números. Quer saúde, educação e segurança de qualidade? Pague! Quer lazer, conforto e cultura? Use os 50% que lhe cabe! Os outros 50% serão muito bem usados em viagens para o exterior, onde as coisas funcionam!


Por tudo isso, votar com consciência é fundamental! Não é apenas a nossa vida que dependerá das decisões políticas do nosso candidato. É a vida dos nossos pais, filhos, netos, dos nossos amigos e da empresa onde trabalhamos. O nosso futuro dependerá desse cara que sorri e faz promesssas! Por isso, não vamos acreditar em qualquer bobagem! Vamos pesquisar, fuçar, mexer na vida do cara! Vamos ver o que ele já fez, como é a vida dele, para que depois não tenhamos surpresas desagradáveis ou a simples continuidade do círculo vicioso.


Dia desses, um dos nossos deputados saiu a noite, bebeu, e na volta acabou causando um acidente que matou duas pessoas. Assim, fica o recado: não beba antes de dirigir, mas pense antes de votar!


01 setembro 2010

A Fome de Marina

Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.
Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.
De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.
A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.
Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
A primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.
Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.
Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.
Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.
Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.

Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.
Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé” (ele peida, de tanta saúde).
O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.

José Ribamar Bessa Freire