18 abril 2007

Escalas de Grandeza

O partido dele está devendo, mas o texto do Deputado Estadual Luiz Eduardo Cheida é muito bom.

"- Esse é o peixe-boi! – descrevi, do alto de minha sapiência, a foto esmaecida em um velho livro que guardo em casa.
- Cadê o chifre dele?
A investida da pergunta enfezada cutucou de tal forma meus conhecimentos que quase fura as minhas calças com os chifres do peixe que não era boi.
Quem perguntava, acomodado no meu colo, era o Pedro, meu filho de quatro anos. O mesmo que, dia desses, tentou entrar num formigueiro, forçando o dedão do pé no buraquinho que dá para a porta da frente da casa das formigas.
- Infinito é mais que quatro? – ele, de novo.
Claro que não, se quatro é tudo o que você sabe contar.
A seriedade destas perguntas encharcam a alma de ternura.
A lógica infantil é fulminante.
Fulminante, porque direta. Porque não comporta subterfúgios.
Do ponto de vista das alterações ambientais e suas repercussões planetárias, a espécie humana está em uma encruzilhada. E, nem todos temos elementos suficientes para decidir que caminho tomar.
Em momentos assim, a profusão de dados, teorias e tarefas apenas confundem.
Faltar água no Brasil? Só pode ser brincadeira.
Quequié 0,76º C a mais de temperatura, neste mundão varado de grande?
É nesta hora de Babel que sua bússola interior precisa falar mais alto.
A fim de encontrá-la, uma coisa parece certo: quanto mais você se farta das explicações inexplicáveis, quanto mais você se cansa das hipocrisias recorrentes, quanto mais você refuta a relativização do que deveria ser exato, mais se reaproxima de sua bússola, que sempre aponta para a velha lógica infantil, imolada no altar da maturidade.
Mas, quem disse que para amadurecer, é preciso sacrificar a inata beleza de ser sincero?
- Bem, você pode ser sincero mas, na sua idade vai parecer meio ingênuo... – dirão os mais experientes (e bem-sucedidos e tristes e deprimidos).
Isso posto, parece que, para agüentar o tranco, é necessário mentir.
Mentir que as coisas não são bem assim. Mentir que o que se vê não é o que parece. Mentir que todos pensamos da mesma forma e as diferenças são pontos irrelevantes. Mentir que se pode ir fundo, já que a natureza é infinita e inesgotável. Mentir que a conduta de nossa espécie para com as outras, é moralmente aceitável (afinal, nenhuma espécie até agora contestou). Mentir que tudo não passa de estórias de ecofanáticos que querem destruir a economia para entupirem a Terra de orgânicos insípidos, inodoros e incolores.
Mas, o bálsamo da dita voz da razão chama você, como quem diz:
- Veja bem, em verdade, nada disso são mentiras. São apenas coisas relativas. Depende do ângulo. As coisas não são pau ou pedra. É a maneira como se coloca. Uma coisa pode ser uma coisa e, dali a pouco, ser outra coisa...
E você responde o que para a voz que é só sua?
Enquanto você pensa, eu vou ficando por aqui.
Aliás, acho que fico com o meu menino.
Entendo agora porque quatro é mais que infinito: as coisas importantes são grandes; as coisas sem importância, pequenas. São só escalas de grandeza.
Quem sabe dá mesmo pra entrar no formigueiro, forçando um pouco mais o dedão? Melhor isso que ficar chamando de boi um peixe que nem chifre tem.
Ou um boi que nem peixe é.
Um mundo funcionando com tal franqueza, mano, é difícil acabar."

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