30 setembro 2008
29 setembro 2008
Efêmera verdade
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
28 setembro 2008
27 setembro 2008
Descuido
De repente, quase brincando, como uma travessura a mais, Amaranta Úrsula descuidou da defesa e, quando tentou reagir, assustada do que ela mesma tinha feito possível, já era tarde demais. Uma comoção descomunal imobilizou-a no seu centro de gravidade, plantou-a no lugar, e a sua vontade defensiva foi demolida pela ansiedade irresistível de descobrir o que eram os apitos alaranjados e os balões invisíveis que a esperavam do outro lado da morte. Mal teve tempo de esticar a mão e procurar às cegas a toalha e meter uma mordaça entre os dentes, para que não saíssem os gemidos de gata que já estavam rasgando as suas entranhas.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
26 setembro 2008
Viajar
25 setembro 2008
Paciência infinita
Mais tarde, quando obteve nos bordéis uma informação mais profunda sobre a natureza dos homens, pensou que a mansidão de Gastón tinha origem na paixão desatinada. Mas quando o conheceu melhor e se deu conta de que o seu verdadeiro temperamento entrava em contradição com a sua conduta submissa, imaginou a maliciosa suspeita de que até a espera do aeroplano era uma farsa. Então, pensou que Gastón não era tão bobo quanto parecia, mas pelo contrário, era um homem de uma firmeza, uma habilidade e uma paciência infinitas, que se propusera a vencer a esposa pelo cansaço da eterna complacência, do nunca lhe dizer não, do simular um assentimento sem limites, deixando-a se enredar em sua própria teia de aranha, até o dia em que não pudesse mais suportar o tédio das ilusões ao alcance da mão e ela mesma fizesse as malas para voltar à Europa. A antiga piedade de Aureliano se transformou numa aversão violenta. Pareceu-lhe tão perverso o sistema de Gastón, mas ao mesmo tempo tão eficaz, que se atreveu a prevenir Amaranta Úrsula. Entretanto, ela zombou da sua desconfiança, sem vislumbrar sequer a desagregadora carga de amor, de incerteza e de ciúmes que trazia dentro de si.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
24 setembro 2008
23 setembro 2008
22 setembro 2008
Baratas
(...) [Sua vida] continuava sendo igual na tarde em que foi à livraria do sábio catalão e se encontrou com quatro rapazes desbocados, encarniçados numa discussão sobre os métodos de matar baratas na Idade Média. O velho livreiro, conhecendo a estima de Aureliano por livros que só Beda, o Venerável, tinha lido, insistiu com uma certa malignidade paternal para que ele fosse o árbitro da controvérsia e este nem sequer tomou fôlego para explicar que as baratas, o inseto voador mais antigo sobre a terra, já era a vítima favorita das chineladas do Antigo Testamento, mas que como espécie era definitivamente refratária a qualquer método de extermínio, desde as rodelas de tomate com bórax até a farinha com açúcar, pois as suas mil seiscentas e três variedades tinham resistido à mais remota, tenaz e desapiedada perseguição que o homem jamais empreendera, desde as suas origens, contra qualquer ser vivente, inclusive o próprio homem, ao extremo de que assim como se atribuía ao gênero humano um instinto de reprodução, devia-se atribuir a ele também outro, mais definido e premente, que era o instinto de matar baratas, e que se estas tinham conseguido escapar à ferocidade humana era porque tinham se refugiado nas trevas, onde se fizeram invulneráveis pelo medo congênito do homem à escuridão, mas em compensação tornaram-se susceptíveis ao brilho do meio-dia, de modo que na Idade Média, na atualidade e pelos séculos dos séculos, o único método eficaz para matar baratas era o deslumbramento solar.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
21 setembro 2008
Janela da Alma
Começo do filme Janela da Alma
Oliveiro Toscani – A Publicidade é um Cadáver que nos Sorri
20 setembro 2008
Agonizando de amor
Embora fosse pelo menos quinze anos mais velho que sua mulher, os seus gostos juvenis, a sua vigilante determinação de fazê-la feliz e as suas virtudes de bom amante compensavam a diferença. Na realidade, quem visse aquele quarentão de hábitos cautelosos, com o seu cordão de seda no pescoço e a sua bicicleta de circo, não poderia pensar que tinha com a sua jovem esposa um pacto de amor desenfreado e que ambos cediam às urgências recíprocas no lugares menos adequados e onde os surpreendesse a inspiração, como o fizeram desde que começaram a se encontrar, com uma paixão que o correr do tempo e as circunstâncias cada vez mais insólitas iam aprofundando e enriquecendo. Gastón era não só um amante feroz, de uma sabedoria e uma imaginação inesgotáveis, como também talvez fosse o primeiro homem na história da espécie que tinha feito uma aterragem de emergência e por pouco não se matara com a namorada só para fazer amor num campo de violetas.
(...) esperava o seu riso de cascalho, os seus uivos de gata feliz e as suas canções de gratidão, agonizando de amor a qualquer hora e nos lugares menos pensados da casa. Uma noite, a dez metros da sua cama, na mesa de ourivesaria, os esposos de ventre alucinado arrebentaram o vidro da prateleira e acabaram se amando num charco de ácido muriático. (...) ansiedade que lhe provocavam as risadas, os cochichos, as brincadeiras preliminares e, em seguida, as explosões de felicidade agônica que enchiam as noites da casa.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
19 setembro 2008
18 setembro 2008
Saudade
Sentiu-se tão velha, tão acabada, tão distante das melhores horas da sua vida que [Fernanda] desejou inclusive as que recordava como piores, e só então descobriu quanta falta faziam as brisas de orégano na varanda e o vapor das roseiras ao entardecer e até a natureza animalesca dos que chegavam. Seu coração de cinza socada, que resistira sem quebrantos aos mais duros golpes da realidade cotidiana, desmoronou-se aos primeiros embates da saudade. A necessidade de se sentir triste ia se transformando num vício à medida que os anos a devastavam. Humanizou-se na solidão.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
17 setembro 2008
Filhos do Universo
Nelson Mandela
16 setembro 2008
Na cama e na mesa
(…)
Petra Cotes, por outro lado, amava-o mais à medida que sentia aumentar o seu carinho, e foi assim que na plenitude do outono voltou a acreditar na superstição juvenil de que a pobreza era uma servidão de amor. Ambos evocavam agora como um estorvo as farras desatinadas, a riqueza aparatosa e a fornicação sem freios, e se lamentavam de quanta vida lhes custara encontrar o paraíso da solidão partilhada. Loucamente apaixonados ao fim de tantos anos de cumplicidade estéril, gozavam o milagre de se amarem tanto na mesa como na cama, e chegaram a ser tão felizes que quando já eram dois anciãos esgotados continuavam brincando como coelhinhos e brigando como cachorros.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
15 setembro 2008
Abençoada vida
Clarice Lispector
14 setembro 2008
Advogados
Os decrépitos advogados vestidos de negro, que em outros tempos tinham assediado o Coronel Aureliano Buendía e que agora eram procuradores da companhia bananeira, desvirtuavam a função com arbitrariedades que pareciam passes de mágica. Quando os trabalhadores redigiram uma lista de pedidos unânime, muito tempo se passou sem que pudessem notificar oficialmente a companhia bananeira. Imediatamente após ter conhecido a resolução, o Sr. Brown enganchou no trem o seu suntuoso vagão de vidro e desapareceu de Macondo junto com os representantes mais conhecidos da sua empresa. Entretanto, vários operários encontraram um deles no sábado seguinte num bordel e o fizeram assinar uma cópia do ofício de reivindicações quando estava nu com a mulher que se prestou a levá-lo para a armadilha. Os enlutados advogados demonstraram em juízo que aquele homem não tinha nada que ver com a companhia e, para que ninguém pusesse em dúvida os seus argumentos, fizeram-no prender como vigarista. Mais tarde, o Sr. Brown foi surpreendido viajando incógnito num vagão de terceira classe e lhe fizeram assinar outra cópia da lista de reivindicações. No dia seguinte, compareceu diante dos juízes com o cabelo pintado de preto e falando um castelhano fluente. Os advogados demonstraram que não era o Sr. Jack Brown, superintendente da companhia bananeira e nascido em Prattville, Alabama, mas um inofensivo vendedor de plantas medicinais, nascido em Macondo e ali mesmo batizado com o nome de Dagoberto Fonseca. Pouco depois, diante de uma nova tentativa dos trabalhadores, os advogados exibiram em lugares públicos o atestado de óbito do Sr. Brown, autenticado por cônsules e chanceleres, e no qual se dava fé de que no último nove de junho ele tinha sido atropelado em Chicago por um carro de bombeiros. Cansados daquele delírio hermenêutico, os trabalhadores repudiaram as autoridades de Macondo e subiram com as suas queixas aos tribunais supremos. Foi lá que os ilusionistas do direito demonstraram que as reclamações careciam de toda validade, simplesmente porque a companhia bananeira não tinha, nem tinha tido nunca nem teria jamais, trabalhadores a seu serviço, mas sim que os recrutava ocasionalmente e em caráter temporário. De modo que se dissolveu a patranha do presunto de Virgínia, das pílulas milagrosas e dos reservados natalinos, e se estabeleceu por sentença do tribunal, e se proclamou em decretos solenes, a inexistência dos trabalhadores.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
13 setembro 2008
12 setembro 2008
Urubus
— Hoje não — disse ao barbeiro. — Volte na sexta-feira. Tinha uma barba de três dias, salpicada de pelos brancos, mas achava melhor não se barbear, pois na sexta-feira ia cortar o cabelo e podia fazer tudo ao mesmo tempo. O suor pegajoso da sesta indesejável reviveu nas suas axilas as cicatrizes dos furúnculos. Havia estiado, mas ainda não saíra o sol. O Coronel Aureliano Buendía emitiu um arroto sonoro que devolveu ao paladar a acidez da sopa e que foi como uma ordem do organismo para que jogasse a manta nos ombros e fosse ao reservado. Ali permaneceu mais do que o tempo necessário, agachado sobre a densa fermentação que subia do caixote de madeira, até que o costume lhe indicou que era hora de reiniciar o trabalho. Durante o tempo que durou a espera voltou a se lembrar de que era terça-feira e de que José Arcadio Segundo não tinha estado na oficina porque era dia de pagamento nas fazendas da companhia bananeira. Essa lembrança, como todas as dos últimos anos, passou sem que viesse ao caso pensar na guerra. Lembrou-se de que o Coronel Gerineldo Márquez lhe havia prometido, certa vez, conseguir um cavalo com uma estrela branca na testa e que nunca se voltara a falar disso. Em seguida, derivou para episódios dispersos, mas os evocou sem qualificá-los, porque de tanto não poder pensar em outra coisa tinha aprendido a pensar a frio, para que as lembranças iniludíveis não lhe estragassem nenhum sentimento. De volta à oficina, vendo que o ar começava a secar, decidiu que era um bom momento para tomar um banho, mas Amaranta se havia antecipado a ele. De modo que começou o segundo peixinho do dia. Estava engatando o rabo quando o sol saiu com tanta força que a claridade rangeu como uma canoa. O ar lavado pela chuvinha de três dias se encheu de tanajuras. Então caiu em si, percebendo que tinha vontade de urinar e estava adiando até que acabasse de armar o peixinho. Ia para o quintal, às quatro e dez, quando ouviu os instrumentos longínquos, as batidas do bumbo e a alegria das crianças, e pela primeira vez desde a juventude pisou conscientemente numa armadilha da saudade e reviveu a prodigiosa tarde de ciganos em que o seu pai o levou para conhecer o gelo. Santa Sofía de la Piedad abandonou o que estava fazendo na cozinha e correu para a porta.
— É o circo — gritou. Em vez de se dirigir ao castanheiro, o Coronel Aureliano Buendía foi também para a porta da rua e se misturou com os curiosos que contemplavam o desfile. Viu uma mulher vestida de ouro no cangote de um elefante. Viu um dromedário triste. Viu um urso vestido de holandesa que marcava o compasso da música com uma concha e uma caçarola. Viu os palhaços virando cambalhotas no final do desfile e viu outra vez a cara da sua solidão miserável quando tudo acabou de passar e não ficou senão o luminoso espaço na rua e o ar cheio de tanajuras e uns quantos curiosos próximos ao precipício da incerteza. Então foi para o castanheiro, pensando no circo, e enquanto urinava tentou continuar pensando no circo, mas já não encontrou a lembrança. Meteu a cabeça entre os ombros, como um frango, e ficou imóvel com a testa apoiada no tronco do castanheiro. A família não soube de nada até o dia seguinte, às onze da manhã, quando Santa Sofia de la Piedad foi jogar o lixo no quintal e lhe chamou a atenção o fato de estarem baixando os urubus.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
11 setembro 2008
O tempo escapa pelas mãos
"'Os anos de agora já não vêm como os de antigamente', costumava dizer [Ursula], sentindo que a realidade cotidiana lhe escapava das mãos. Antigamente, pensava, as crianças demoravam muito para crescer. Bastava recordar todo o tempo que fora necessário para que José Arcadio, o mais velho, partisse com os ciganos e tudo o que acontecera até que ele voltasse pintado como uma cobra e falando como um astrônomo, e as coisas que tinham acontecido em casa até que Amaranta e Arcadio esquecessem a língua dos índios e aprendessem o castelhano. Que se visse o sol e o sereno que suportara o pobre José Arcadio Buendía debaixo do castanheiro, e o quanto tivera que chorar a sua morte antes que lhe trouxessem moribundo um Coronel Aureliano Buendía que, depois de tanta guerra e depois de tanto se sofrer por ele, ainda não tinha feito cinqüenta anos. Em outra época, depois de passar o dia inteiro fazendo animaizinhos de caramelo, ainda lhe sobrava tempo para se ocupar das crianças, para ver-lhes no branco dos olhos que estavam precisando de uma poção de óleo de rícino. Agora, pelo contrário, quando já não tinha nada que fazer e andava com José Arcadio pregado às saias de manhã à noite, a qualidade ruim do tempo obrigava-a a deixar as coisas pela metade."
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad
10 setembro 2008
Índio
Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.
09 setembro 2008
07 setembro 2008
06 setembro 2008
Saudade
"Ela era uma velhinha que morava sozinha, em uma grande casa. Não tinha amigos porque, ao longo dos anos, ela os vira morrer, um a um. Seu coração era um poço de saudade e de perdas. Por isso, ela decidira que nunca mais se ligaria afetivamente a ninguém. E, para se lembrar que um dia tivera amigos, passara a chamar as coisas pelos nomes dos amigos que haviam morrido. Sua cama se chamava Belinha. Era grande, sólida e confortável. Mesmo depois que ela se fosse, Belinha continuaria a existir. A poltrona confortável da sala de visitas se chamava Frida. Haveria de durar muitos anos mais. A casa se chamava glória. Tinha sido construída há mais de cem anos, mas não aparentava mais que vinte. Era feita de madeira muito forte, vigorosa. E o carro, grande, espaçoso se chamava Beto. “Haveria de servir”, pensava a velhinha, “para alguém, depois de sua morte”. E assim vivia a velhinha solitária.
Certo dia, quando estava lavando a lama de Beto, um cachorrinho chegou no portão O portão não tinha nome, porque ela achava que ele logo teria que ser substituído. Suas dobradiças estavam enferrujadas e a madeira apodrecida. O animalzinho parecia estar com fome e ela tirou um pedaço de presunto da geladeira e o deu ao cão, mandando-o embora. Porém, no dia seguinte, ele voltou. E no outro e no outro. Todos os dias, ele vinha, abanava o rabo e ela o alimentava, mandando-o embora. Ela dizia que Belinha não comportava um adulto e um cachorro, que Frida não gostava que cães sentassem nela e glória não tolerava pêlo de cachorro. E Beto? Bom, esse fazia os cachorros passarem mal. Um ano depois, o animal estava grande, bonito. E tudo continuava do mesmo jeito.
Até que um dia ele não apareceu. Ela ficou sentada na escada, esperando. No dia seguinte, também. Nada. Resolveu telefonar para o canil da cidade e perguntar se eles tinham visto um cachorro marrom. Descobriu que eles tinham dezenas de cachorros marrons. Quando perguntaram se ele estava usando coleira com o nome, ela se deu conta que nunca dera um nome para ele. Sentou-se e ficou pensando no cachorro marrom que não tinha coleira com um nome. Onde quer que estivesse, ninguém saberia que ele tinha de vir todos os dias até seu portão para que ela lhe desse de comer.
Tomou uma decisão. Dirigiu Beto até o canil e falou para o encarregado que queria procurar o seu cachorro. Quando ele lhe perguntou o nome do cachorro, ela se lembrou dos nomes de todos os amigos queridos aos quais havia sobrevivido. Viu seus rostos sorridentes, lembrou-se de seus nomes e pensou em como fora abençoada por ter conhecido esses amigos. “Sou uma velha sortuda”, pensou. “O nome do meu cachorro é Sortudo”, disse. E gritou, ao ver os cães no grande quintal: “aqui, Sortudo”! Ao som da sua voz, o cachorro marrom veio correndo. Daquele dia em diante, Sortudo morou com a velhinha. Beto parece que gostou de transportar o cachorro. Frida não se incomodou que ele sentasse nela. Glória não ligou para os pelos do cachorro. E todas as noites Belinha faz questão de se esticar bem para que nela possam se acomodar um cachorro marrom Sortudo…e a velhinha que lhe deu o nome."
04 setembro 2008
E a TV?
02 setembro 2008
Cicatriz
"Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcarão, que mexerão com a nossa existência. Marcas. Umas serão mais profundas, outras superficiais, porém todas com algum significado. Serão detalhes que guardaremos dentro de nós e que quanto contados para outros talvez não tenham a menor importância, pois só nós saberemos o quanto foi incrível vivê-los. Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um e-mail, uma viagem, uma voz, um encontro casual, ou um cumprimento afetuoso. Poderá ser um raiar de sol, um buquê de flores, um cartão de Natal, um abraço gostoso, um perfume, um gesto, uma palavra amiga num momento precioso. Pode vir a ser aquele incômodo sentimento de ter sido abandonado, ou uma decepção, uma mágoa, uma perda, ou uma ferida que abrimos no peito de alguém. Quem sabe uma linda amizade incomparável, um sonho que foi alcançado após muita espera e muita luta, ou outro que deixou de existir por puro fracasso. Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um aroma, um conselho, um amparo, um beijo, um afago.
Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas guardadas dentro de nós. Umas porque nos dedicaram carinho, outras porque foram objetos do nosso amor, ou outras por terem nos magoado profundamente. Quem sabe também haverá algumas que deixarão marcas mágicas por terem sido tão rápidas em nossas vidas e, mesmo assim, terem conseguido plantar dentro de nós muita coisa boa. Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos, a quantidade de belas marcas que conseguimos carregar e a qualidade das marcas que deixamos nos outros. Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exatamente foi feita a nossa vida, se de amores ou de rancores, se de alegrias ou de tristezas, se de vitórias ou de derrotas, se de ilusões ou de realidades. Pense sempre que hoje é só o começo de tudo. Que se houver algo errado ainda está em tempo de ser mudado e que o resto de nossas vidas, de certa forma, ainda está em nossas mãos."