16 setembro 2008

Na cama e na mesa

Liberados dos espelhos repetidores que tinham vendido para comprar animais de rifa e dos damascos e veludos concupiscentes que a mula comera, [Aureliano Segundo e Petra Cortes] ficavam acordados até muito tarde com a inocência de dois avós insones, aproveitando para fazer cálculos e contar centavos o tempo que antes esbanjavam em se esbanjarem a si próprios.
(…)
Petra Cotes, por outro lado, amava-o mais à medida que sentia aumentar o seu carinho, e foi assim que na plenitude do outono voltou a acreditar na superstição juvenil de que a pobreza era uma servidão de amor. Ambos evocavam agora como um estorvo as farras desatinadas, a riqueza aparatosa e a fornicação sem freios, e se lamentavam de quanta vida lhes custara encontrar o paraíso da solidão partilhada. Loucamente apaixonados ao fim de tantos anos de cumplicidade estéril, gozavam o milagre de se amarem tanto na mesa como na cama, e chegaram a ser tão felizes que quando já eram dois anciãos esgotados continuavam brincando como coelhinhos e brigando como cachorros.
Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad

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