20 setembro 2008

Agonizando de amor

Embora fosse pelo menos quinze anos mais velho que sua mulher, os seus gostos juvenis, a sua vigilante determinação de fazê-la feliz e as suas virtudes de bom amante compensavam a diferença. Na realidade, quem visse aquele quarentão de hábitos cautelosos, com o seu cordão de seda no pescoço e a sua bicicleta de circo, não poderia pensar que tinha com a sua jovem esposa um pacto de amor desenfreado e que ambos cediam às urgências recíprocas no lugares menos adequados e onde os surpreendesse a inspiração, como o fizeram desde que começaram a se encontrar, com uma paixão que o correr do tempo e as circunstâncias cada vez mais insólitas iam aprofundando e enriquecendo. Gastón era não só um amante feroz, de uma sabedoria e uma imaginação inesgotáveis, como também talvez fosse o primeiro homem na história da espécie que tinha feito uma aterragem de emergência e por pouco não se matara com a namorada só para fazer amor num campo de violetas.

(...) esperava o seu riso de cascalho, os seus uivos de gata feliz e as suas canções de gratidão, agonizando de amor a qualquer hora e nos lugares menos pensados da casa. Uma noite, a dez metros da sua cama, na mesa de ourivesaria, os esposos de ventre alucinado arrebentaram o vidro da prateleira e acabaram se amando num charco de ácido muriático. (...) ansiedade que lhe provocavam as risadas, os cochichos, as brincadeiras preliminares e, em seguida, as explosões de felicidade agônica que enchiam as noites da casa.

Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad

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