22 setembro 2008

Baratas

(...) [Sua vida] continuava sendo igual na tarde em que foi à livraria do sábio catalão e se encontrou com quatro rapazes desbocados, encarniçados numa discussão sobre os métodos de matar baratas na Idade Média. O velho livreiro, conhecendo a estima de Aureliano por livros que só Beda, o Venerável, tinha lido, insistiu com uma certa malignidade paternal para que ele fosse o árbitro da controvérsia e este nem sequer tomou fôlego para explicar que as baratas, o inseto voador mais antigo sobre a terra, já era a vítima favorita das chineladas do Antigo Testamento, mas que como espécie era definitivamente refratária a qualquer método de extermínio, desde as rodelas de tomate com bórax até a farinha com açúcar, pois as suas mil seiscentas e três variedades tinham resistido à mais remota, tenaz e desapiedada perseguição que o homem jamais empreendera, desde as suas origens, contra qualquer ser vivente, inclusive o próprio homem, ao extremo de que assim como se atribuía ao gênero humano um instinto de reprodução, devia-se atribuir a ele também outro, mais definido e premente, que era o instinto de matar baratas, e que se estas tinham conseguido escapar à ferocidade humana era porque tinham se refugiado nas trevas, onde se fizeram invulneráveis pelo medo congênito do homem à escuridão, mas em compensação tornaram-se susceptíveis ao brilho do meio-dia, de modo que na Idade Média, na atualidade e pelos séculos dos séculos, o único método eficaz para matar baratas era o deslumbramento solar.

Gabriel Garcia Márquez - Cien Años de Soledad

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