07 fevereiro 2007

Arte I

"Não me interesso pelo pensamento lógico, racional. Estou preocupado em questionar o espírito. Acho que a própria vida inclui algo de louco, de incompreensível, que escapa ao pensamento racional. Por exemplo, no momento da concepção existem milhões de espermatozóides tentando fecundar um óvulo, mas apenas um consegue. É puro acaso. É a mais completa desordem. Não há organização alguma. Sob o ponto de vista racional, isso é louco. Entretanto, sob o ponto de vista espiritual, essa imponderabilidade, esse acaso, é muito importante. Quando a arte tenta surgir do pensamento lógico, racional, não tem sentido. A única maneira de fazê-la aflorar é através do espírito. Penso que a arte é o nível mais alto a que pode chegar a expressão humana. E o seu principal objetivo é transformar a vida. A arte é sempre profundamente relacionada com a vida e a morte, a alma e o corpo. Algumas vezes é impossível ao pensamento lógico compreender isso. A arte tenta desvendar o mistério de viver e morrer."
Kazuo Ohno

O Jardim das Delícias Terrenas, de Hieronymus Bosch.

obs.: dessa pintura pode-se fazer uma longa análise, mas, brevemente, vale destacar que no paraíso (lado esquerdo) só existem Jesus, Adão e Eva, além de alguns animais - ou seja, não é para mais ninguém. Já o inferno (lado direito), está repleto de gente, que aparentam sofrer de várias formas e eternamente. Enquanto isso, na Terra, Bosch descreve um ambiente cheio de prazeres e livre das idéias de pecado e medo pregadas pela Igreja da Idade Média. A mensagem é: faça de sua vida o paraíso. Hoje seria bem mais fácil, mas imaginem fazer um quadro desses em 1504? Sem contar que as interpretações dessa obra podem ir muito mais a fundo. Pelo jeito ele tentou desvendar o mistério de viver. Bela arte!

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei, Ale!

Heduan disse...

De uma outra ótica (digamos mais ateísta) poderíamos dizer assim:

Partindo do pressuposto que há o total desconhecimento sobre o antes e o pós vida pois qualquer idéia será mera especulação e crença, temos representadas aí três formas de levar a vida.
Levar uma vida reclusa e de desapego total onde a insatisfação realmente não existe. Ou, uma vida imersa no caos onde a satisfação é desconhecida. Ou ainda um meio termo, na qual vive-se ponderadamente desfrutando dos prazeres e dos dessabores.
Três casos hipotéticos mas que refletem bem os estilos padrões de vida: As duas primeiras situações radicais das quais poucos são adeptos (por consciência ou não) e a terceira opção, a do meio, a qual se aproxima mais da realidade e onde encontram-se a maioria.

Três opções por onde cada indivíduo transita por toda uma vida, tendenciando a cada momento da vida para uma das situações.

Assim faço eu, da minha vida, o Céu ou o Inferno. Eles estão aqui, dentro de mim, coexistindo como ótimos parceiros de dança.