01 fevereiro 2007

Leituras e leitores

Muito bom o texto 'Os contadores de histórias', desse blog (BeatBossa - Sexo, Poesia e Bossas Velhas) que acabo de descobrir. Vale a pena ler na integra, mas vou destacar aqui umas partes.

"Luiz A. de Assis Brasil disse em algum lugar que o leitor insaciável sempre está em busca do livro ideal. Assim como o escritor nunca fica satisfeito com seu trabalho porque sempre está em busca de contar a história ideal. Toda vez que conheço ou reconheço uma história da cultura inglesa tenho uma epifania: essa é a história ideal! Como esses homens conseguiram escrever estas coisas maravilhosas? Como uma pequena ilha pôde produzir tanta maravilha do imaginário ocidental? Shakespeare, Milton, Swift, Shelley, Byron, Wilde, Tolkien, para citar apenas os que me vêm à mente agora.
(...) vale lembrar ainda que a literatura para crianças surge ao mesmo tempo em que começam a surgir as escolas organizadas, no final do século XVIII e começo do século XIX (em todo o mundo, no Brasil demorou um pouco mais, mas foi decisivo a vinda de imigrantes italianos, alemães para que se começassem a fundar escolas na vilas no interior. Não esqueçam que fora do litoral, a maioria das cidades catarinenses e paranaenses possuem menos de cem anos). Bram Stocker, nascido na Irlanda, criou seu Drácula no final do século XIX. Agora me explica: como um cara que se forma em matemática pura vira crítico de teatro e romancista? Coisa impensável nos dias de hoje, ainda mais no Brasil.
A literatura nacional é ainda adolescente, enquanto cultura, e somos ainda pré-adolescentes enquanto povo. Ninguém lê mais as obras dos românticos, porque temos preguiça de ir no dicionário conhecer palavras novas. Alguém aí sabe quem foi "a virgem dos lábios de mel"? alguém aí sabe de que obra começa com os versos "as armas e os barões assinalados?", conhecem o mito de Dom Sebastião? Negrinho do Pastoreio? Cobra Norato? Curupira? Macunaíma? O Caramuru? O Visconde de Sabugosa? A dama da lotação? A Gabriela, cravo e canela? A Capitu? O Leonardo que virou sargento de milícias? O Capitão Rodrigo? O analista de bagé? Os poetas inconfidentes, Tomás A. Gonzaga, Claudio Manoel da Costa? Sabem onde fica Pasárgada? Pena que eu não conheça livros sobre as aventuras dos bandeirantes, os desbravadores da amazônia, e de guerras nacionais se bem me lembro só li sobre o Contestado, Canudos e a invasão holandesa em Pernambuco, lembram do Maurício de Nassau? Sabem por que o Rio de Janeiro se chama "Rio de Janeiro", e a "baía de todos os santos" foi batizada assim? Alguém ouviu falar de Aleixo Garcia, que em 1524 já morava em Santa Catarina? Você, deve estar pensando, ué? O Brasil não começou a ser colonizado depois de 1531?
Infelizmente, não temos a cultura de contar as nossas histórias. As histórias dos nossos antepassados. Lampião é o Alli Babá do sertão. O profeta João Maria, o Nostradamus dos rincões catarinas. Não lemos, não escrevemos livros. E depois quando aparece um cara como Aluísio de Azevedo, que mostra como um Cortiço no Rio do final do século XIX cresceu e prosperou (o dono era Português!), e mostra como um portuga de nome Jerônimo, abrasileira-se: começa a beber, larga a família, gasta dinheiro com bobagens, fica preguiçoso, começa a gostar de café; não entendemos como criou-se esse imaginário de que somos fracassados."

Nenhum comentário: